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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Azovstal: por que Putin quer tanto tomar siderúrgica? Quem está lá dentro?

Fumaça sobe acima da siderúrgica Azovstal, em Mariupol, Ucrânia - Reuters
Fumaça sobe acima da siderúrgica Azovstal, em Mariupol, Ucrânia Imagem: Reuters

Rafael Souza

Colaboração para o UOL

27/04/2022 04h00

A siderúrgica de Azovstal, em Mariupol (sudoeste da Ucrânia), se tornou o principal centro de atenção dos russos durante a guerra contra a Ucrânia, que já dura mais de 60 dias.

O local continua cercado e todas as saídas estão bloqueadas. Na última quinta (21), Vladimir Putin cancelou um grande ataque ao complexo e mandou os soldados para dentro dos túneis, numa tentativa de isolar a área.

"É preciso pensar na saúde dos nossos soldados e oficiais, não devemos entrar nas catacumbas. A ideia é bloquear toda a área para que nem uma 'mosca consiga passar'", disse o presidente da Rússia.

Desde então, centenas de pessoas sobrevivem como podem nos túneis, sendo que muitos estão feridos sem acesso a medicamentos. Autoridades de Mariupol estimam que mais de 10 mil pessoas foram mortas na cidade.

Na segunda (25), o Ministério da Defesa russo afirmou que as tropas vão "interromper as hostilidades unilateralmente, retirar unidades para uma distância segura e garantir a saída" de civis de Azovstal. Mas ainda não há confiança, por parte dos ucranianos, de que os russos cumprirão com a palavra.

A vice-premiê da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, disse em um canal no Telegram que prefere a presença de representantes da Organização das Nações Unidas nos corredores humanitários.

Mas por que a Rússia concentra tantos esforços e insiste em querer tomar uma siderúrgica. E como os ucranianos conseguem resistir por tanto tempo? Entenda abaixo.

mariupol - Alexander Ermochenko/Reuters - Alexander Ermochenko/Reuters
Bloco de apartamentos é fortemente danificado de Mariupol
Imagem: Alexander Ermochenko/Reuters

O que é Azovstal?

Azovstal é mais que uma siderúrgica. É um dos maiores complexos industriais da Europa, com uma área de 11 km² repleta de rede de armazéns, trilhos e vários túneis subterrâneos, que estrategicamente se tornaram um local de refúgio e defesa contra os intensos bombardeios vindos do exército russo.

Mariupol já está ocupada e foi em grande parte destruída, mas somente Azovstal resiste.

Quem está ali dentro?

Segundo o conselho da cidade, dentro dos túneis há cerca de mil civis, entre mulheres e crianças, além dos últimos militares ucranianos, que continuam lutando.

O Batalhão Azov da Ucrânia, milícia ucraniana de extrema direita, postou um vídeo no último domingo (24) mostrando mulheres e crianças que supostamente estariam abrigadas no subsolo de Azovstal.

As imagens mostram uma sala lotada, onde as pessoas dizem que estão ficando sem comida e água, implorando para serem evacuadas. Alguns dizem que não veem a luz do dia há semanas.

Azovstal - Reprodução/Telegram/Pavlo Kyrylenko - Reprodução/Telegram/Pavlo Kyrylenko
Mulher machucada recebe ajuda na usina de Azovstal, em Mariupol, após onda de ataques
Imagem: Reprodução/Telegram/Pavlo Kyrylenko

Por que as pessoas estão ali?

Estar dentro de uma rede de túneis é perfeito contra ataques aéreos, seja para se defender de mísseis ou para se esconder do inimigo.

À agência de notícias Reuters, o analista militar Oleh Zhdanov disse que o "espaço é tão grande, com tantos prédios, que os russos simplesmente não conseguirão encontrar [as tropas ucranianas]".

No início de abril, Edward Basurin, representante das forças separatistas pró-Rússia, explicou que a Azovstal é "uma cidade dentro de uma cidade, e há vários níveis subterrâneos desde os tempos soviéticos. Não é possível bombardear de cima, é preciso limpar o subterrâneo. Vai levar tempo", disse.

Por que a Rússia quer ocupar?

26.abr.2022 - Fumaça na região da usina de Azovstal, em Mariupol, na Ucrânia - Reprodução/Telegram/mariupolrada - Reprodução/Telegram/mariupolrada
26.abr.2022 - Fumaça na região da usina de Azovstal, em Mariupol, na Ucrânia
Imagem: Reprodução/Telegram/mariupolrada

A cidade de aço já foi sinônimo de poluição e da decadência industrial pós-soviética. Seu destino mudou em 2014, com o início dos conflitos com os separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia. Controlada pelos rebeldes por um breve período, Mariupol foi recapturada pelas forças ucranianas, e se tornou a maior cidade na região do Donbass, no leste do país, sob o controle de Kiev.

O que explica a insistência russa em Azovstal é o desejo de ocupar e dominar totalmente Mariupol. A cidade, além de oferecer uma entrada para o mar, por ser banhada pelo mar de Azov, e infraestrutura portuária, também fica a poucos quilômetros de Donetsk e Luhansk, regiões controladas por grupos que desejam se separar da Ucrânia.

Mariupol também oferece um caminho para a Crimeia, ao sul da Ucrânia, que foi anexada pela Rússia em 2014. Ou seja, é como se ela ficasse 'no meio' de duas regiões com domínio russo e pudesse funcionar como uma ponte entre elas.

Se Azovstal for tomada, os russos terão um amplo domínio sobre a região sudeste da Ucrânia, com mais território para o avanço das tropas sobre o território ucraniano, por terra e pelo mar.

Nos anos que antecederam a invasão russa da Ucrânia, a cidade portuária de Mariupol passava por uma renovação. Mais de US$ 600 milhões foram investidos em novas ruas, um hospital infantil, e novos parques para modernizar a cidade majoritariamente russófona como parte de uma campanha para demonstrar os benefícios de uma Ucrânia mais voltada ao Ocidente.

Hoje, após dois meses de bombardeios, a cidade está em ruínas, e as ruas estão cheias de túmulos improvisados. Em cada rua é possível ver prédios de apartamentos bombardeados, escurecidos pela fumaça. Veículos militares destruídos estão entre os escombros. (Com agências internacionais)