Cães mortos de fome, leões e ursos deslocados: o drama dos zoos na Ucrânia
Além das perdas humanas, a guerra da Ucrânia também tem gerado preocupação pela situação dos animais nas áreas de conflito. Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, no final de fevereiro, o saldo de animais feridos, mortos e sem abrigo, é incalculável, mas chama atenção o grande número de animais de grande porte sendo deslocados.
Os zoológicos da Ucrânia foram fortemente afetados. Em Kiev, a capital da Ucrânia, um grupo de cuidadores teve de ficar responsável por elefantes, camelos e gorilas de um zoológico local. Os animais tiveram episódios de estresse causado pelo barulho dos tiros e bombas e precisaram ser sedados para se acalmarem. A comida logo começou a acabar.
O grupo pediu um corredor humanitário para evitar que os bichos morressem de fome e frio, mas não havia medicamentos para adormecer rinocerontes e girafas. Em seguida, chegou um carregamento de ração de longa duração, enviado por zoos da Alemanha, República Tcheca, Eslováquia e Polônia, juntamente com suplementos e remédios.
Cerca de 80 animais, entre eles leões e tigres, foram levados para um zoológico em Poznan, na Polônia, passando por zonas de bombardeio. Alguns seguiram para a Bélgica.
Leões brancos salvos do sacrifício
Na Carcóvia, uma das maiores cidades do leste ucraniano, o fundador do Feldman Ecopark veio a público pedir ajuda e dizer que possivelmente teria de sacrificar os animais de grande porte do local após bombardeios russos que comprometeram a estrutura do local, que tinha cerca de 6.000 bichos.
Em comunicado, o zoo informou que os dois funcionários que ficaram no local para alimentar os animais e estavam desaparecidos desde 7 de março foram encontrados mortos. Os corpos deles estavam escondidos numa sala aos fundos do parque com marcas de tiro. Desde então, o medo era que os predadores escapassem e fossem para as ruas, colocando a população em risco.
Em seguida, o zoológico começou a receber ajuda. Quatro leões, uma onça e uma pantera foram levados para um lugar seguro. Os leões brancos foram para Odessa, a cidade do mar Negro, no noroeste da Ucrânia, e já podem ser visitados pelo público.
Ursos de acampamento
Não é fácil lidar com animais que pesam mais de 100 quilos agitados e ameaçados por uma guerra. Mesmo assim, Magdalena Scherk-Trettin, coordenadora da organização de proteção animal Vier Pfoten, na Alemanha, conseguiu salvar sete ursos do santuário Domazhyr, que cuidava de animais resgatados de cativeiros na Ucrânia.
"Estávamos em contato próximo com nossos parceiros na Ucrânia mesmo antes do início da guerra e, portanto, estávamos preparados para o pior", contou ela à DW. "Estávamos com muito medo de que algo acontecesse com os animais."
Após o início da guerra, quatro deles foram levados para Lviv, cidade ucraniana próxima à fronteira com a Polônia, e três seguiram para a Alemanha. Os filhotes Asuka e Popeye agora brincam em um parque na Turíngia, enquanto Malvina se recupera em um centro de proteção animal no estado de Schleswig-Holstein.
Outra que foi resgatada foi a ursa parda Kiryusha, de 24 anos. Ela foi encontrada em condições lamentáveis depois de ser abandonada por seu dono em meio à guerra na Ucrânia e agora vive em um zoológico na Holanda. Durante anos, Kiryusha viveu dentro de uma pequena jaula, em um hotel que tinha um acampamento infantil, onde "mal tinha espaço para se mover".
Tigres desnutridos
Dois leões e dois tigres também foram para um abrigo da associação "Stichting Leeuw" (Fundação do Leão), no norte da Holanda.
Os animais estavam "gravemente traumatizados" e desnutridos, disse o diretor da organização, Robert Kruijff, à AFP, estimando que eles ficaram sem alimentação por uma ou duas semanas. Ele não sabe de onde os bichos vieram, nem como se desenrolou a jornada pelo país devastado pela guerra.
Os felinos fizeram uma longa viagem antes de chegar à Polônia em um ônibus cheio de animais ucranianos, disse ele. O destino final dos animais é uma reserva na África do Sul, mas primeiro eles terão que recuperar suas forças, o que pode levar um ano ou dois.
Cães morrem de fome e sede
O drama se estende para outros animais que vivem na Ucrânia, inclusive os domésticos.
Em Borodyanka, cidade ucraniana que fica no noroeste de Kiev e próxima a Bucha, mais de 300 cães morreram em um abrigo após ficarem trancados nas gaiolas sem receber água, alimentos e cuidados, segundo revelaram soldados ucranianos ao jornal britânico The Independent.
Com a guerra, voluntários que cuidavam dos cães ficaram impossibilitados de se deslocarem até o abrigo.
A organização ucraniana de proteção animal UAnimals disse que os cães sobreviventes ficaram em situação crítica e foram resgatados para tratamento em clínicas veterinárias.
Em meio aos bombardeios, ONGs tentam fazer o que podem para salvar animais. Voluntários se unem para arrecadar ração e medicamentos, além de prestar ajuda veterinária.
Eles também ajudam pessoas que estão fugindo da Ucrânia em direção a países da Europa ocidental levando seus animais. Se uma família vai para um alojamento coletivo em vez de um privado, os pets podem ser separados de seus donos e ir para abrigos específicos de animais. (Com agências internacionais)
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