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'Deixarei o governo de forma democrática', diz Bolsonaro a Biden

Mariana Durães e Paulo Roberto Netto

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

09/06/2022 20h15

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou hoje (9) ao presidente norte-americano, Joe Biden, que deixará o governo "de forma democrática". Este é o primeiro encontro entre as duas autoridades desde a eleição de Biden. Os dois participam da Cúpula das Américas, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

"Neste ano, temos eleições no Brasil, e nós queremos, sim, eleições limpas, confiáveis, e auditáveis, para que não sobre nenhuma dúvida após o pleito. Eu tenho certeza que será realizada neste espírito democrático. Cheguei pela democracia e tenho certeza que, quando deixar o governo, também será de forma democrática", disse.

A declaração de Bolsonaro ocorre dois dias depois de um novo ataque ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), afirmando que ele e as Forças Armadas "não farão papel de idiota". Desde o início do ano, o presidente tem retomado a ofensiva contra a Corte Eleitoral, questionando o sistema de votação e apuração, e tentando colocar em xeque o resultado das urnas.

O ataque do presidente da República foi uma resposta à declaração do presidente do TSE, ministro Edson Fachin, que disse no mês passado que as eleições são assunto para as "forças desarmadas" após sucessivos questionamentos dos militares ao processo eleitoral. Todas as perguntas enviadas pelas Forças Armadas ao tribunal foram respondidas, e passaram a ser utilizadas por Bolsonaro para tentar jogar suspeita em cima das urnas eletrônicas.

"As Forças Armadas descobrem centenas de vulnerabilidades [nas urnas], apresentam nove sugestões, não gostaram. Eleição é coisa para forças desarmadas. Convidaram eles para que, ora bola? Para fazer papel de quê? Eu que sou chefe das Forças Armadas. Nós não vamos fazer o papel de idiotas. Eu tenho a obrigação de agir. Tenho jogado dentro das quatro linhas, não acho uma só palavra minha, gesto ou ato fora da constituição", disse Bolsonaro.

Como mostrou o UOL, porém, apesar de enviar diversos questionamentos, os militares tiveram uma participação tímida nos testes de segurança das urnas.

O encontro entre os dois políticos ocorreu quase um ano e meio depois de Biden assumir como 46º presidente os Estados Unidos, em 20 de janeiro de 2021. Bolsonaro era apoiador do ex-presidente Donald Trump e chegou a questionar as eleições norte-americanas na qual Biden foi o vencedor. De acordo com o colunista Jamil Chade, Bolsonaro já tentava um encontro com mandatário dos EUA meses após as eleições norte-americanas, sempre sem êxito.

Ucrânia e pandemia

Ao lado de Biden, o presidente criticou o que chamou de "política do fique em casa, a economia a gente vê depois" ao justificar a situação econômica do país e alta da inflação nos alimentos, que pressiona as faixas mais pobres da população.

Bolsonaro também disse ao presidente americano que o Brasil está "à disposição" para construir uma saída para o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que teria agravado o cenário econômico brasileiro.

"Lamentamos os conflitos [na Ucrânia], mas eu tenho um país para administrar. E pela sua dependência, temos sempre que sermos cautelosos, porque as consequências econômicas da pandemia, com a equivocada política do 'fique em casa, a economia a gente vê depois', agravada por uma guerra a 10 mil quilômetros de distância do Brasil, são danosas para todos nós, e lá no Brasil, em especial para os mais humildes", disse.

Amazônia e democracia

Na abertura da reunião bilateral entre os presidentes, Biden afirmou que o Brasil possui instituições eleitorais fortes, e é uma "democracia vibrante". Na introdução do encontro, o norte-americano garantiu que os países possuem "valores compartilhados".

Segundo o presidente dos EUA, há interesse em ajudar o Brasil na recuperação econômica. Biden adiantou também que falaria de questões climáticas e ambientais com Bolsonaro.

"Vocês tentam proteger a Amazônia e acredito que o resto do mundo precisa ajudar a fazer essa preservação porque é uma responsabilidade muito grande. Gostaria de ouvir sua opinião sobre essa questão", disse Biden a Bolsonaro.

Logo após as declarações dos dois presidentes à imprensa, os jornalistas foram orientados a deixar a sala de conferências sem que suas perguntas fossem respondidas. Antes do encontro, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse que Biden abordaria a realização de "eleições democráticas, transparentes e abertas" com Bolsonaro. Já o presidente do Brasil pretendia mostrar ao colega a importância do país para a segurança alimentar do planeta, e defenderia o que vem sendo feito pelo país na questão ambiental.

Bolsonaro diz que relação com Biden "mais que reatou"

Após o encontro com Biden, Bolsonaro disse à CNN que o relacionamento entre os dois políticos "mais do que reatou, se consolidou" e fez projeção de "novos negócios" com os Estados Unidos.

O presidente do Brasil salientou que Biden "se comprometeu a colaborar" com o país. "Assim que duas nações civilizadas fazem." Bolsonaro observou que os dois chegaram inclusive a discutir sobre a Amazônia. "(Biden) concorda conosco. Ela é muito grande, o Brasil é um exemplo para a preservação no mundo todo."

Bolsonaro classificou como "excepcional" a conversa reservada entre os dois que, segundo ele, durou cerca de 30 minutos. E disse que estava "feliz" com o encontro. "Estamos afinados em praticamente tudo. Foi muito bom para nós. Já podemos retornar para o Brasil hoje. Missão cumprida."

Além da questão da Amazônia, Bolsonaro explicou que também conversou com Biden sobre a guerra entre Ucrânia e Rússia, a qual disse que o chefe norte-americano "está preocupado". Além disso, ainda segundo o presidente do Brasil, foi discutido sobre um acordo de cooperação em relação ao combate ao crime organizado.

Bolsonaro diz ter 'pé atrás' com eleição nos EUA em 2020

Às vésperas do encontro bilateral, o presidente Jair Bolsonaro disse ter informações que o deixam "com o pé atrás" com a eleição que resultou na vitória do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em 2020.

"Quem diz [sobre fraude nas eleições dos EUA] é o povo americano. Eu não vou entrar em detalhe na soberania de um outro país. Agora, o Trump estava muito bem e muita coisa chegou para a gente que a gente fica com o pé atrás. A gente não quer que aconteça isso no Brasil", afirmou Bolsonaro em entrevista ao SBT News.

Trump contestou os resultados na Justiça norte-americana e teve todos seus pedidos rejeitados pelo Judiciário. Bolsonaro, que disputará a reeleição em outubro, também questiona sem apresentar fundamentos o sistema eletrônico de votação no Brasil.

Na entrevista, Bolsonaro disse que o encontro com Biden, que ocorrerá nesta semana, pode ser um recomeço nas relações entre Brasília e Washington, a depender da dinâmica que o presidente dos EUA adotar no encontro.

Indagado se Biden pode pressioná-lo sobre a questão ambiental, especialmente o desmatamento da Amazônia, Bolsonaro disse não acreditar que isso irá ocorrer.

"Ele não vai, no meu entender, querer impor algo sobre o que eu devo fazer na Amazônia. Acho que ele me conhece, deve ter informações de quem me conhece", afirmou.

*Com Reuters e ANSA

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado na matéria, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tomou posse em 20 de janeiro de 2021. A infomação foi corrigida.