Por que acordos de paz entre Israel e palestinos falharam ao longo dos anos

Em 13 de setembro de 1993, o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e o líder palestino, Yasser Arafat, selaram um acordo pela paz no Oriente Médio com um inédito aperto de mãos sob o olhar e a mediação do presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, no pátio da Casa Branca, em Washington (EUA). Esperava-se o fim do conflito de quase um século de duração.

Os Acordos de Oslo, como ficaram conhecidos, completaram 30 anos sem concretizar a paz prometida. Hoje, a região está mergulhada numa guerra que chega ao 14º dia e já matou mais de 3.700 pessoas. Desde 1948, ano da criação do Estado de Israel, foram várias as tentativas de se chegar a um acordo de paz com os palestinos, mas nenhuma delas conseguiu produzir uma solução duradoura.

Quais são os principais obstáculos para a paz?

Soldados israelenses fazem a guarda da entrada do assentamento de Eli, na Cisjordânia, em foto de 2014
Soldados israelenses fazem a guarda da entrada do assentamento de Eli, na Cisjordânia, em foto de 2014 Imagem: Richard Furst/UOL

Assentamentos israelenses na Cisjordânia: Segundo Guilherme Casarões, professor da Fundação Getulio Vargas e doutor e mestre em ciência política, cerca de 650 mil judeus vivem hoje em assentamentos na região da Cisjordânia, áreas que ele define como complexos habitacionais bem estruturados. "Mesmo que algum acordo seja celebrado, como o governo de Israel consegue convencer essas pessoas a abandonar suas casas? Ao mesmo tempo, elas não querem fazer parte de um território palestino, de um eventual Estado palestino. Como você resolve essa equação?", questiona.

Status de Jerusalém: Há sete décadas, a cidade é disputada por Israel e Palestina como capital de seus respectivos Estados. Para a comunidade internacional, a área deveria ser partilhada entre israelenses (porção ocidental) e palestinos (porção oriental) — enquanto Israel diz que a cidade toda, unificada, é sua.

Refugiados palestinos: Cerca de 760 mil palestinos fugiram para países vizinhos ou foram expulsos após a fundação de Israel, em maio de 1948. O êxodo ficou conhecido como "Nabka" ou "Catástrofe". Desde então, os refugiados ainda vivos e seus descendentes reivindicam o "direito ao retorno" — algo que Israel rejeita. Atualmente, a ONU estima em 5,9 milhões o número de refugiados palestinos, distribuídos entre Cisjordânia — ocupada por Israel desde 1967 —, Faixa de Gaza, Jordânia, Líbano e Síria.

O que foi Oslo e por que o acordo falhou?

Em foto de 1994, da esquerda para a direita: Yasser Arafat (líder palestino), Shimon Peres (chanceler israelense) e Yitzhak Rabin (primeiro-ministro de Israel) seguram suas medalhas e certificados conferindo aos três o prêmio Nobel da Paz
Em foto de 1994, da esquerda para a direita: Yasser Arafat (líder palestino), Shimon Peres (chanceler israelense) e Yitzhak Rabin (primeiro-ministro de Israel) seguram suas medalhas e certificados conferindo aos três o prêmio Nobel da Paz Imagem: Folhapress

Os Acordos de Oslo foram o que mais tiveram proeminência e mais impacto na tentativa de travar as negociações de paz, segundo especialistas. Eles foram negociados secretamente na Noruega durante vários meses entre representantes palestinos e israelenses.

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Tinham por objetivo criar uma solução temporária para o conflito. Previam o reconhecimento de Israel pela OLP (Organização para a Libertação da Palestina) e, em contrapartida, o reconhecimento da OLP como representante do povo palestino por Israel. Até então, os palestinos não aceitavam a existência de Israel.

[O acordo] É significativo porque representa a primeira vez que houve um reconhecimento mútuo entre as duas partes
Natalia Calfat, pesquisadora do Grupo de Trabalho sobre Oriente Médio e Mundo Muçulmano da USP

Como primeiro passo, o acordo criou a ANP (Autoridade Nacional Palestina), responsável pelo governo interino palestino em partes da Cisjordânia e na Faixa de Gaza. As tratativas renderam o Prêmio Nobel da Paz aos envolvidos — Rabin; o primeiro-ministro israelense das Relações Exteriores, Shimon Peres; e Arafat foram premiados em 1994 "por seus esforços para criar a paz no Oriente Médio".

O objetivo final seria criar, num período de cinco anos, as bases para a criação do Estado palestino e de um acordo de paz definitivo que seria assinado em cinco anos.

Mas os acordos começaram a desandar por uma série de razões: a desconfiança entre israelenses e palestinos; o adiamento de discussões sobre questões mais controversas, como o status de Jerusalém e as fronteiras de um futuro Estado palestino; e a violência.

A crítica israelense é de que a oposição ao acordo de Oslo por parte da sociedade palestina significou o aumento da violência. O aumento da violência levou ao aumento de uma extrema direita no governo israelense, que também se opunha às negociações. Do lado palestino, Oslo significou uma grande entrega, uma grande derrota, também razão pela qual a violência acabou sendo escolha para parte da população. Mas, para os palestinos, a viabilização do Estado nunca aconteceu. Porque os assentamentos continuaram a crescer, inclusive nas áreas que eram destinadas para os palestinos.
Natalia Calfat

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Em 1995, Rabin foi assassinado por um extremista israelense. Eleito em 1996, Benjamin Netanyahu, atual premiê, congelou o processo de paz em março de 1997, quando aprovou a construção de novos assentamentos judaicos em Jerusalém Oriental.

Em 2000, com a explosão da Segunda Intifada palestina, as negociações de paz acabaram de vez e nunca foram realmente retomadas. A Autoridade Nacional Palestina continua existindo, mas a Faixa de Gaza é hoje controlada pelo Hamas, grupo extremista classificado como terrorista por Israel.

Em 2020, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou um novo plano para a região. Elaborado por seu genro e assessor, Jared Kushner, o plano foi rejeitado pelos palestinos por prever diversas concessões por parte deles, sem um sinal claro de que poderiam formar seu Estado.

Depois que os Acordos de Oslo foram implodidos com a morte do Rabin, praticamente não houve nenhuma oportunidade de negociações sistemáticas que pudessem retomar esse processo. Não é só uma questão de implementação, mas é uma questão de disposição política para garantir que esses acordos fossem negociados até o fim. Hoje, e cada vez mais, eu diria que os acordos não são retomados porque Israel acredita -- pelo menos esse é o argumento -- que é impossível conduzir qualquer negociação sob ameaça terrorista.
Guilherme Casarões

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