'Não me ouviam na prisão': jovem diz ter sido confundida com suspeita ruiva

A garçonete Maísa da Rocha Tavares, de 23 anos, afirma ter sido presa injustamente, em Oviedo, na Espanha, após ser confundida com uma suposta sequestradora e passar quatro dias detida até conseguir provar sua inocência.

Seu cabelo ruivo teria sido o ponto-chave para a confusão. O caso aconteceu no dia 6 de outubro.

O que aconteceu

Policiais buscavam uma suspeita de tentar sequestrar um menino de 5 anos em uma praça da cidade. Uma mulher estava com o neto em uma praça quando, em determinado momento, ela teria se afastado da criança e ao retornar viu uma mulher ruiva, branca e magra conversando com o menino. A avó pensou que a mulher estaria tentando sequestrar seu neto, e após uma discussão, procurou a polícia para denunciar o caso.

A polícia juntou fotos de pessoas com as mesmas características relatadas na denúncia, segundo a brasileira, que também é branca e ruiva. A casa em que Maísa mora com a mãe e a irmã mais nova fica no mesmo bairro e a poucos metros da praça onde o caso aconteceu.

A garçonete foi abordada pela polícia espanhola quando voltava do trabalho. "Estava caminhando com meu namorado, os policiais me pararam e pediram meus documentos. Eles olharam meus dados e me liberaram. No dia seguinte, a polícia foi até a minha casa, perguntou se eu estava no parque no dia anterior e mesmo eu negando, eles me levaram para a delegacia para prestar depoimento."

Maísa da Rocha Tavares, 23, afirma ter sido presa injustamente na Espanha
Maísa da Rocha Tavares, 23, afirma ter sido presa injustamente na Espanha Imagem: Arquivo Pessoal

Maísa explicou que no horário do ocorrido estava em casa com a irmã mais nova gravando vídeos para postar nas redes sociais e que também havia feito uma chamada de vídeo com o namorado. A gravação, segundo ela, tem data e hora e comprovam que ela estava em casa.

Apesar das explicações, a brasileira conta que foi detida e levada para uma cela da delegacia. A avó da criança e a proprietária de um bar localizado próximo à praça reconheceram a brasileira como suspeita da suposta tentativa de sequestro.

Eu pedi para os policiais levarem a avó da criança para fazer o reconhecimento presencial, porque ela iria ver que não era eu. Mas ninguém me ouviu, logo já foram tirando meu tênis e meus objetos pessoais como brincos e piercing e me colocaram na cela.

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A brasileira afirma que passou três dias detida na delegacia. Depois, foi transferida para um presídio, onde passou mais um dia. Na prisão, ela dividiu cela com três mulheres, mas também havia homens no local.

A cela era feminina, mas no pátio e onde fazíamos as refeições tinham umas cinco mulheres e uns 250 homens. Nesses dias que fiquei presa, me alimentei muito mal porque a comida era horrível, eles quase não me deixavam ir ao banheiro, mesmo eu pedindo. Foi muito traumatizante.

Maísa só foi solta depois que sua prisão passou a repercutir na mídia local e uma garota ruiva procurou a polícia para explicar que era a pessoa que tinha se encontrado e desentendido com a avó da criança. A mulher teria relatado aos policiais que viu a criança sozinha na praça e, por isso, a chamou para brincar, momento em que avó chegou e ambas iniciaram uma discussão.

Essa garota tem 15 anos. Acredito que ela procurou a polícia com receio de toda a repercussão que o caso teve aqui na cidade. Se ela não tivesse procurado a polícia, não sei quanto tempo mais eu ficaria presa.

Ainda segundo Maísa, ela pretende entrar na justiça por danos morais pelo trauma. A brasileira, que é natural de Itapuranga (GO), mudou-se para a Espanha há seis anos com a mãe e a irmã mais nova em busca de melhores condições de vida.

Há três anos moramos na mesma casa. As pessoas do bairro sempre nos veem e sabem que trabalhamos. Não sei por que me acusaram, acredito que pode ser porque não sou do país.

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Ao jornal El Diario, o Tribunal de Instrução de Oviedo informou que os fatos relatados (tentativa de sequestro) não podem ser imputados a Maísa Rocha e decretou a extinção provisória do processo.

O que diz o Itamaraty

O Itamaraty disse que "o Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Madri, permanece à disposição para prestar assistência consular à nacional brasileira". E acrescentou que não pode dar mais detalhes sobre o caso.

Em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, informações detalhadas poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.

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