Lula não deverá se desculpar por fala, mas quer separar Israel de judeus
O Palácio do Planalto pretende reforçar que as críticas do presidente Lula (PT) sobre o conflito na Faixa de Gaza focam no Estado de Israel e no governo de Benjamin Netanyahu, e não no povo judeu. Mas não deverá pedir desculpas pela fala do último final de semana.
O que aconteceu
Em viagem à Etiópia, Lula relacionou os ataques de Israel aos palestinos na Faixa de Gaza ao Holocausto promovido contra o povo judeu na Segunda Guerra Mundial. As falas tiveram repercussão internacional. Netanyahu afirmou que o petista "ultrapassou a linha vermelha".
Internamente, o Planalto avalia que a fala de Lula não estava errada, mas que o discurso pode, sim, ser confundido com um ataque ao povo judeu. O presidente está reunido nesta manhã com o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, e o ministro Paulo Pimenta (Secom) no Palácio da Alvorada para tratar do assunto.
Lula não deverá pedir desculpas. O Planalto insiste que as críticas aos ataques israelenses devem continuar: o plano, agora, é deixar a separação dos posicionamentos entre as ações do Estado e a sua população mais clara.
Crítica ao Estado de Israel, não ao povo judeu
A declaração fez estragos, mas ainda não há consenso sobre como lidar com ela. Segundo interlocutores, uma possibilidade seria uma carta ou declaração que tentasse amenizar a situação.
Pessoas próximas ao presidente argumentam que Lula não quis ofender uma etnia ou "diminuir o sofrimento judeu" durante o Holocausto, mas que a forma como ele tem se posicionado "abre margem para essa interpretação". O objetivo de uma carta ou pronunciamento via redes sociais seria evidenciar isso. Outra opção seria promover uma reunião entre entidades judaicas.
A primeira-dama Janja da Silva já assumiu o discurso. "A fala se referiu ao governo genocida e não ao povo judeu. Sejamos honestos nas análises", publicou em suas redes, após a reunião. Ela estava ao lado do marido durante a fala, ontem (18).
Lula e Amorim, principal conselheiro do presidente para assuntos internacionais, têm sido irredutíveis quanto ao pedido de desculpas. O presidente tem sido um dos principais críticos internacionais à guerra na Palestina e tem reforçado que não diminuirá as críticas "enquanto houver morte de crianças", segundo aliados.
Desde o início do conflito, em outubro, quase 26.000 civis foram mortos, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) —quase a totalidade deles palestina. Nesta segunda, o governo israelense afirmou que os ataques prosseguirão, inclusive no Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, exceto se o Hamas libertar todos os reféns.
Dentro do governo, há ainda quem defenda que o presidente foque na ligação entre Netanyahu e a extrema direita. Mesmo antes da guerra, o líder israelense, que tinha bom relacionamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tem adotado posicionamentos contundentes contra a solução de dois Estados e também chegou a dar declarações polêmicas envolvendo do ditador Adolf Hitler em 2015. Essa estratégia mais voltada ao líder, no entanto, é a que menos tem força na cúpula lulista.
A reação de Israel
A declaração feita pelo presidente Lula abriu uma crise diplomática. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticou a comparação.
O governo de Israel ainda anunciou que irá convocar o embaixador do Brasil em Tel Aviv para se explicar e para uma reprimenda. Trata-se de um ato que, no jargão diplomático, representa uma sinalização clara de insatisfação e de alerta. "Os comentários do presidente brasileiro são vergonhosos e graves", disse o chanceler Israel Katz.
No Brasil, oposição e apoiadores se dividiram diante da comparação feita por Lula. Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, classificou a fala como uma "ignorância histórica". Já a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou ter sido uma "comparação necessária".
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