Capitã destemida e 'mãe da pátria': quem é mulher negra em nota argentina

O Banco Central da República Argentina colocou em circulação, no último mês, as notas de 10 mil pesos (equivalente a R$ 58).

As novas cédulas carregam ilustrações de duas figuras históricas para o país: Manuel Belgrano, um dos protagonistas do processo que levou à independência, e María Remedios del Valle, uma das únicas mulheres que participou das batalhas pela independência.

Quem foi María Remedios del Valle

Conhecida como "mãe da pátria" e nascida em Buenos Aires em meados do século 18, María Remedios del Valle foi uma mulher negra, de origem humilde e comprometida com os ideais de liberdade da Argentina.

Heroína da Guerra da Independência. María foi uma das poucas mulheres que começou a lutar nas guerras da Independência desde a formação do primeiro governo nacional, em 25 de maio de 1810, segundo o Museu Histórico da Casa da Independência.

Acompanhada do marido e de dois filhos, sua primeira participação no conflito aconteceu na expedição ao Alto Peru. Ela acompanhou as tropas alimentando os soldados, cuidando dos feridos e também lutando com eles.

Uma das poucas mulheres reconhecidas com a patente de oficial nas Guerras da Independência. María perdeu o marido e os dois filhos na batalha de Huaqui, mas seguiu lutando nas batalhas de Tucumán e Salta. Por sua bravura, o general Manuel Belgrano a nomeou capitã.

Captura em batalha. Nas derrotas de Vilcapugio e Ayohúma, ela foi baleada, capturada pelos monarquistas e açoitada publicamente.

"Bravura, patriotismo e espírito altruísta de serviço". A história de María começou a ser reconhecida fora da esfera militar na década de 1820, quando foi feito o primeiro reconhecimento pelos serviços prestados à pátria durante as campanhas militares. Ainda de acordo com o Museu Histórico da Casa da Independência, ela foi reconhecida por sua "bravura, patriotismo e espírito altruísta de serviço".

Imagem de María Remedios del Valle
Imagem de María Remedios del Valle Imagem: Reprodução / casadelaindependencia.cultura.gob.ar
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Terminada a guerra, ela retornou à cidade de Buenos Aires, onde sofreu com a miséria. Diante disso, em 1829, foi realizada uma sessão da Câmara dos Deputados em que se discutiu uma pensão a María. Na ocasião, segundo o Museu Histórico Nacional do Cabildo e da Revolução De Maio, o político e militar Juan José Viamonte disse:

Esta mulher é verdadeiramente digna. Ela acompanha o exército do país desde 1810. Não há nenhuma ação em que ela não tenha sido encontrada no Peru. Ela era conhecida desde o primeiro general até o último oficial do exército. Ela merece ser cuidada porque seu corpo está cheio de ferimentos de bala e também de cicatrizes de chicotadas recebidas de espanhóis inimigos e ela não deveria ter permissão para pedir esmolas como faz.
Juan José Viamonte

Mais tarde, foi aprovado por unanimidade o seu reconhecimento como capitã e a correspondente pensão. Ainda de acordo com o museu, também foi definida a elaboração de uma biografia e a encomenda de um monumento.

Atualmente, todo dia 8 de novembro é comemorado o Dia Nacional dos Afro-Argentinos. A data lembra o dia de sua morte e é uma forma de redefinir a cultura negra no país.

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