Fóssil de tubarão gigante com dente arredondado resolve mistério de séculos
Encontrado no México, fóssil estava em condições de preservação que permitiram a especialistas desvendar a aparência do tubarão Ptychodus e a estrutura de seus dentes, preparados para triturar até mesmo superfícies duras como cascos.
O que aconteceu
Pesquisa liderada por especialistas da Universidade de Viena, na Áustria, encontrou fósseis de tubarão da espécie Ptychodus. Restos do animal ajudaram os especialistas a solucionar o mistério sobre a aparência incomum da espécie, que perdurava desde a primeira evidência, descoberta no século 18.
Achados prévios indicavam que a espécie tinha dentes diferentes do padrão: eram grandes e arredondados. No entanto, como a maioria das amostras era de dentes isolados, os especialistas não tinham informações o suficiente para compor toda a estrutura do animal.
Os dentes curiosos do Ptychodus não eram usados para cortar e devorar suas presas. Eles serviam para triturar e esmagar superfícies mais duras, como conchas e cascos de tartarugas.
[No fóssil] alguns dentes são massivos, poligonais e quase planos, enquanto outros têm protuberâncias estranhas, arredondadas ou cúspides pontiagudas na superfície superior. Todos esses dentes eram unidos para formar grandes placas dentárias, que esse predador do passado poderia ter usado para esmagar quase qualquer coisa que encontrasse
Manuel Amadori, pesquisador da Universidade de Viena, à CNN Science, sobre o Ptychodus
Descoberta mostra características da espécie até então desconhecidas. Segundo o estudo divulgado no site The Royal Society Publishing, o fóssil encontrado em pedreiras de Nuevo León, no México, estava em condições "extremamente preservadas". Na amostra, é possível visualizar "quase todos elementos esqueléticos, dentição, restos musculares fosfatizados e contorno do corpo exibindo todas as nadadeiras".
Especialistas conseguiram identificar até mesmo o sexo das amostras encontradas. A presença da cartilagem conhecida como clásper (responsável pela transferência de espermatozoides para a fêmea) em alguns dos fósseis fez com que os paleontólogos definissem alguns dos indivíduos como machos. Com a preservação dos fósseis, foi possível também contabilizar as vértebras e visualizar a escamação da pele do animal.
Local abrigava várias amostras da espécie, que podia atingir quase 10 metros de comprimento. Pesquisadores analisaram seis fósseis encontrados em Nuevo León, sendo um deles o tubarão completo. Três outros fósseis estavam quase inteiros e dois estavam incompletos.
Descoberta servirá como parâmetro para cientistas. Em declaração à rede norte-americana CNN, o Dr. Eduardo Villalobos Segura, professor assistente no departamento de paleontologia da Universidade de Viena, declarou que os restos esqueléticos encontrados no México poderão ser utilizados como base para que cientistas revisem e avaliem as hipóteses anteriores sobre a origem e as características do Ptychodus.
Evolução dos tubarões ganha novos detalhes com a descoberta
Segundo os paleontólogos, o fóssil do Ptychodus os ajuda a entender a evolução dos tubarões, cuja história tem quase 400 milhões de anos. A maior parte da espécie viveu entre 100 e 80 milhões de anos atrás. Os especialistas estimam que a amostra encontrada no México seja de 93,9 a 91,8 milhões de anos atrás - coincidindo com o período dos dinossauros.
Parente do tubarão-branco, maior peixe predatório do mundo. Os restos encontrados determinaram que o Ptychodus pertencia à classe Lamniformes, chamada também de tubarões-macro, em que está inserido o tubarão-branco. A espécie extinta Otodus megalodon, ou megalodonte, também fazia parte dos Lamniformes. Estudos sobre a classe indicam que o Ptychodus era maior do que os tubarões "modernos". Segundo os paleontólogos, a existência de tubarões-macro com dentes trituradores, como é o caso do Ptychodus, era desconhecida até então.
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Quero receberEstudar fósseis de tubarão é crucial para compreender plenamente os fenômenos evolutivos relacionados aos grupos atuais [...] Ainda há muito mais a descobrir, mas podemos dizer que demos mais um passo importante para entender a complexa história evolutiva dos tubarões-macro
Manuel Amadori
Corpo e barbatanas indicam que o Ptychodus era um predador rápido. Segundo os especialistas, o contorno do corpo de tecido mole e a localização das barbatanas são indícios de que o Ptychodus era capaz de nadar rapidamente para caçar suas presas.
Alimentação do Ptychodus pode ter sido o motivo de sua extinção. Os hábitos de caça e a dieta da espécie, de acordo com os paleontólogos, colocariam o Ptychodus em competição com outros predadores marinhos, dificultando sua sobrevivência.
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