Conteúdo publicado há 3 meses

Trump ainda é o mesmo: republicano diz que Kamala usa identidade por votos

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Eu li outro dia um artigo de um jornalista da New York Magazine, com longo histórico de analista político. Tá e daí, Tixa? E daí que ele fazia toda uma análise interessante da estratégia que Trump podia adotar para derrotar a Kamala. Coisa chique, darling, porque aqui a gente só lê coisa cabeçuda para depois contar pra vocês. O nome do site para vocês terem ideia é Intelligencer. Sim, essa Tixa aqui é trabalhada na intelligencer.

Um dos pontos da análise falava de racismo e sexismo. E então o jornalista escreveu: "se os republicanos acabarem por decidir a apostar nos eleitores brancos da classe trabalhadora e abandonando amplamente os eleitores negros, a coisa pode ficar realmente feia."

Li, achei interessante, fui pesquisar o tal jornalista, chamado Ed Kilgore. Vi que as credenciais dele pareciam boas o suficiente para ele saber o que escrevia. Mas passei para a próxima rapidamente. Imagina, pensei eu. Até parece que o Trump vai partir para esse caminho. Ele mudou.

Apenas dois dias se passaram e a minha constatação é que a coisa parece que está realmente ficando feia (e corri reler o artigo). Trump, em meio a um evento para jornalistas negros (só tinha jornalistas negros) questiona se a Kamala era mesmo negra. Ele disse que a Kamala sempre disse que era indiana e que de repente apareceu com essa de ser negra.
"Ela era indiana por completo, e então, de repente, ela deu uma guinada e se tornou uma pessoa negra."
Para o choque da plateia negra.

Não satisfeito de ter largado essa no evento, ele foi para a rede social dele e escreveu junto com a postagem de um vídeo: "A louca Kamala está dizendo que é indiana, não negra. Isso é um Big deal. Pedra fria falsa. Ela usa todo mundo, incluindo sua identidade racial." (O vídeo não está carregando, talvez a rede social do Trump esteja com problemas)

Nota mental. Alguém notou o "louca Kamala"? Homem adora chamar mulher de louca para tentar diminuí-la.

Kamala é filha de uma mulher indiana e um homem negro

Kamala Harris é filha de uma mulher indiana (que nasceu na Índia) e de um homem negro (que nasceu na Jamaica). Se alguém duvida que ela tenha abraçado sua identidade negra, ela frequentou a Howard University, uma instituição historicamente negra, e era da Alpha Kappa Alpha, a primeira irmandade do país estabelecida para mulheres negras universitárias. Segundo o New York Times, as manchetes de suas primeiras vitórias políticas, que datam do início dos anos 2000, destacaram ambas as identidades.

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Eis outras declarações de Trump no evento de jornalistas negros (uma convenção anual que eles fazem e em tempo de eleições convidam os candidatos a participar): "Alguém deveria investigar."

Trump sobre a tal mudança de identidade étnica e racial da Kamala. Alguém lembra aí que ele mandou essas jogada racista contra o Obama, quando ele disse que o ex-presidente não tinha nascido nos Estados Unidos?

"Quando fui atingido, todos pensaram que eu seria um cara legal. Eu realmente concordei com isso por cerca de oito horas ou mais."

Não dá pra dizer que não foram todos avisados.

"Historicamente, o vice-presidente, em termos de eleição, não tem nenhum impacto", disse o Sr. Trump, acrescentando: "Você está votando no presidente. Você está votando em mim. Se você gosta de mim, eu vou ganhar. Se você não gosta de mim, eu não vou ganhar."

Trump fugindo completamente da pergunta que era se o seu vice, o tal JD Vance, estava pronto para assumir o cargo se preciso fosse.

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A primeira pergunta

Trump não gostou da primeira pergunta que fizeram para ele no evento, dizendo que a jornalista foi rude e "nem deu oi pra ele".

Eis o que Rachel Scott, da ABC News, perguntou:
"Muitas pessoas não acharam apropriado que você estivesse aqui hoje. Você fez falsas alegações sobre alguns de seus rivais, de Nikki Haley ao ex-presidente Barack Obama, dizendo que eles não nasceram nos Estados Unidos; isso não é verdade. Você disse a quatro congressistas de cor que são cidadãs americanas para voltarem para onde vieram.
Você usou palavras como "animal" e "coelho" para descrever promotores públicos negros.
Você atacou jornalistas negros, chamando-os de perdedores, dizendo que as perguntas que eles fazem são estúpidas e racistas. Você jantou com um supremacista branco em seu resort em Mar-a-Lago. Então, minha pergunta, senhor, agora que você está pedindo que apoiadores negros votem em você: por que os eleitores negros deveriam confiar em você depois que você usou uma linguagem como essa?"

Por que afinal Trump pode estar partindo para o racismo e sexismo? Existe uma coisa chamada estratégia demográfica. Lembra aquela história dos estados "nem nem" ou "estados pêndulos" ou "estados indecisos" ou "estados campo de batalha" que contei outro dia?

Desde que a Kamala entrou na corrida, esse mapa, que reúne sete estados e que decidem a eleição, mudou. Antes, o Biden estava perdendo nos estados do cinturão do sol (Arizona, Geórgia, Nevada e Carolina do Norte) e parecia mais propenso a conseguir votos no cinturão da ferrugem (Michigan, Pensilvânia e Wisconsin).

No cinturão do sol, tem mais eleitores negros e hispânicos. No cinturão da ferrugem, mais trabalhadores brancos (Biden focou nos trabalhadores durante a sua gestão e por isso parecia que podia ganhar por lá).

Trump parecia focado em conseguir votos de eleitores homens negros e hispânicos e estava crescendo no cinturão do sol (Ele nunca pareceu querer lutar pelos votos das mulheres).

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Mas o que mudou? A história mostra que os trabalhadores brancos fugiram da Hillary Clinton e tendem a fugir da Kamala Harris. Por isso, Trump, que antes parecia querer conquistar o eleitor negro, agora pode querer focar tudo no trabalhador branco. Até porque a Kamala já chegou com as pesquisas mostrando que o cinturão do sol, que fugia do Biden, está mudando o voto. É muita gente fugindo, socorro!

Quem faz a Tixa: Josette Goulart, Marcelo Chello, Juliana Souza e Pedro Vedovato. Colaboração de arte: Osi Nascimento

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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