Sem conseguir respirar: irmão de brasileiro morto no Líbano relembra ataque
Mohamed Abdallah, de 16 anos, chegou ao Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu (PR) na madrugada desta sexta-feira (27) após sobreviver a um bombardeio no Líbano. O ataque matou o irmão mais novo dele, o brasileiro Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, Kamal Hussein Abdallah, 64, pai dos adolescentes.
O que aconteceu
'Caiu tudo, não consegui mais respirar', contou Mohamed. O adolescente disse ter ouvido dois bombardeios, o segundo "na nossa frente, na montanha", e que pediu ao pai para que fugissem dali. "Ele só queria terminar de encher a água lá dentro para trabalhar. A gente enchendo... Caiu tudo", relembrou Mohamed em entrevista a jornalistas gravada pela RPC, afiliada da TV Globo no Paraná.
Ele disse ter procurado pelo irmão, mas não conseguiu achá-lo. "Gritava o nome dele, as pessoas do meu lado, mortas, e eu não achava", disse o adolescente, chorando. Mohamed e o irmão mais novo haviam ido ajudar o pai na fábrica de produtos de limpeza da família, na cidade de Keyla, quando foram atingidos por um bombardeio na segunda-feira (23).
Adolescente chegou ao Brasil ao lado da irmã Yara Abdallah. Segundo a RPC, os dois foram recebidos por amigos e familiares. O pai Kamal Hussein era libanês com nacionalidade paraguaia, mas o irmão Ali Kamal nasceu em Foz do Iguaçu. Na quarta (25), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que tem prestado assistência à família.
A gente foi ajudar ele [pai] a trabalhar. (...) A gente pediu para o meu pai para fugir, e ele só queria terminar de encher a água lá dentro para trabalhar. A gente enchendo... Caiu tudo. Nem vi mais nada, não consegui mais respirar. Tirei as pedras de mim e fui ver meu pai. Ele estava no chão, morto. E meu irmão... Eu não consegui achar meu irmão.
Mohamed Abdallah, irmão de brasileiro morto no Líbano
Irmã culpou Israel
Hanan Abdallah acusou Israel de ter matado Ali Kamal. Na quinta (26), Hanan publicou uma série de fotos e um vídeo do irmão nas redes sociais. As cenas mostram o menino jogando bola ao lado de outras crianças. Na legenda, Hanan escreveu: "O anjo que Israel matou".
Itamaraty enviou instruções para a embaixada no Líbano. O objetivo, segundo comunicado divulgado na segunda (23), era iniciar um processo de consulta com os brasileiros que vivem no país para saber se eles querem ajuda do Estado para serem repatriados. Aqueles que escolhessem continuar no Líbano deveriam sair das regiões do sul, mais próximas a Israel, além das zonas de fronteira.
Na ONU, presidente Lula criticou os ataques de Israel contra o país. "É importante lembrar que (...) várias tentativas de paz e de cessar-fogo foram aprovadas e ele não cumpre", discursou, citando o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. O governo brasileiro negocia com a Síria e a Rússia uma possível saída para os brasileiros que estão no Líbano e que, diante da intensificação do conflito com Israel, tenham de ser resgatados, de acordo com apuração dos colunistas do UOL Jamil Chade e Carla Araújo.
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