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A preocupação de cientistas com recorde histórico de calor no Círculo Ártico

Liu Shiping/Xinhua
Imagem: Liu Shiping/Xinhua

23/06/2020 12h21

As temperaturas no Círculo Polar Ártico provavelmente atingiram no sábado a maior temperatura já registrada na história, com escaldantes 38 graus na cidade siberiana de Verkhoyansk, na Rússia.

O recorde ainda precisa ser confirmado, mas ele parece ser 18 graus maior do que a média de máximas para o mês de junho. Verões quentes não são incomuns no Círculo Polar Ártico, mas os últimos meses têm tido temperaturas altas fora do normal.

O Ártico parece estar se aquecendo duas vezes mais rápido que a média global.

Verkhoyansk, que abriga cerca de 1,3 mil pessoas, está dentro do Círculo Polar Ártico, em um lugar remoto na Sibéria. O local tem temperaturas extremas, que podem ir de uma média de -42 graus em janeiro a uma média de 20 graus na estação quente.

Este ano, uma onda de calor persistente está preocupando os meteorologistas. Em março, abril e maio, o serviço de meteorologia Copernicus Climate Change noticiou que a temperatura média esteve 10 graus acima do normal.

Neste mês, partes da Sibéria chegaram a registrar 30 graus, enquanto no mês passado, a localidade de Khatanga, também no Círculo Ártico na Rússia, registrou o recorde de 25,4 graus.

"Os recordes de temperatura estão sendo quebrados em todo o mundo, mas o Ártico está se aquecendo mais aceleradamente do que qualquer outra região", diz Dann Mitchell, professor de ciências atmosféricas da Universidade de Bristol, no Reino Unido

Por que devemos nos preocupar com aquecimento no Ártico?

O aquecimento no Ártico está provocando o derretimento da chamada permafrost - camada de gelo que antes ficava permanentemente congelada abaixo do solo.

Isso está preocupando os cientistas porque o derretimento da permafrost faz com que gases como dióxido de carbono e metano, que estavam presos ali, sejam liberados na atmosfera. Esses gases do efeito estufa podem aquecer ainda mais o planeta e causar mais derretimento, em um círculo vicioso de retroalimentação.

As temperaturas altas também fazem com que o gelo na superfície derreta em um ritmo mais acelerado, fazendo com que o nível do mar suba. Também existe retroalimentação neste caso, porque a diminuição da superfície branca do gelo faz com que o mar absorva mais calor, e isso provoca ainda mais aquecimento.

O impacto de incêndios florestais também é um fator. No verão passado, houve incêndios no Ártico. Apesar de comuns no verão, as altas temperaturas e os ventos fortes fizeram com que os incidentes fossem mais graves do que o normal.

Geralmente eles começam em maio e chegam ao seu ápice em julho e agosto, mas este ano já no final de abril esses fenômenos estavam dez vezes maiores na região de Krasnoyarsk, na Sibéria, comparado com o ano passado, segundo o ministro de Emergências da Rússia.

Este será o verão mais quente da história?

2020 certamente é um forte candidato para isso. A maior parte do norte da Europa e da Ásia teve uma primavera moderada e um verão com temperaturas até 10 graus acima do normal, em alguns lugares.

O ano mais quente já registrado foi 2016, que ainda está apenas levemente na frente de 2020. Isso não deve surpreender ninguém.

"Nós perturbamos o equilíbrio de energia do planeta inteiro", alerta o professor Chris Rapley, da University College London (UCL). "Ano após ano vemos recordes de temperatura sendo quebrados. Isso é uma mensagem de alerta da própria Terra. Nós a ignoramos por nossa conta e risco."