Mudanças climáticas: os eventos extremos que provocaram mortes, deslocamentos e prejuízos bilionários em 2021
Eventos extremos associados às mudanças climáticas trouxeram miséria para milhões em todo o mundo em 2021, de acordo com um novo relatório.
O estudo, realizado pela ONG Christian Aid, identificou 10 eventos extremos, cada um deles causando prejuízos bilionários.
O estudo foi fechado antes do fim do ano e portanto não contemplou as mais recentes catátrofes como os ciclones que devastaram parte do Estado do Kentucky, nos Estados Unidos nem tampouco as enormes enchentes que assolam o Estado da Bahia, no Brasil.
Os maiores impactos financeiros vieram do furacão Ida, que atingiu os Estados Unidos em agosto, e das enchentes na Europa em julho.
A seca do Rio Paraná, que atinge Argentina, Brasil e Paraguai, também é citada no relatório como "outros eventos climáticos extremos", apesar de não ter tido seu prejuízo financeiro mensurado. O rio está no seu nível mais baixo em 77 anos.
Em muitas regiões mais pobres, inundações e tempestades causaram deslocamentos em massa de pessoas e grande sofrimento.
Nem todos os eventos climáticos extremos são causados ou vinculados às mudanças climáticas, embora os cientistas venham investigando essas conexões.
Um importante pesquisador, Friederike Otto, tuitou no início deste ano que cada onda de calor que está acontecendo no mundo agora é "tornada mais provável e mais intensa" pelas mudanças climáticas induzidas pelo homem.
Em relação a tempestades e furacões, há evidências crescentes de que as mudanças climáticas também esão afetando esses fenômenos meteorológicos.
Em agosto, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU publicou a primeira parte de seu sexto relatório de avaliação.
Em relação aos furacões e ciclones tropicais, os autores disseram ter "grande confiança" sobre as evidências de que a intensidade desses eventos foi influenciada pela ação humana.
"A proporção de ciclones tropicais intensos, velocidades médias de vento de ciclone tropical e velocidades de vento de pico dos ciclones tropicais mais intensos aumentará em escala global com o aumento do aquecimento global", assinalou o estudo.
Apenas algumas semanas após o lançamento desse relatório, o furacão Ida atingiu os Estados Unidos.
Segundo a Christian Aid, foi o evento climático mais destrutivo do ano em termos financeiros.
O furacão fez com que milhares de moradores na Louisiana fossem evacuados.
Essa tempestade trouxe fortes chuvas em vários Estados e cidades, com Nova York emitindo um alerta de emergência de inundação pela primeira vez.
Cerca de 95 pessoas morreram, com perdas econômicas estimadas em US$ 65 bilhões.
O segundo evento financeiro mais caro foram as inundações generalizadas na Alemanha, França e outros países europeus em julho.
A velocidade e a intensidade da água sobrecarregaram as estruturas de defesa e 240 pessoas morreram. Os danos registrados foram de cerca de US$ 43 bilhões.
No estudo, a maioria dos eventos climáticos da lista ocorreu em países desenvolvidos.
Isso porque é mais fácil estimar as perdas financeiras através de sinistros de seguro, geralmente disponíveis em países mais ricos, onde as pessoas podem pagar por apólices de suas casas e negócios.
Segundo a seguradora Aon, é provável que 2021 seja a quarta vez em cinco anos que catástrofes naturais globais custam mais de US$ 100 bilhões.
O relatório também documenta muitos outros eventos em que o impacto financeiro é mais difícil de determinar, mas o impacto nas pessoas é significativo.
As inundações no Sudão do Sul deslocaram mais de 800 mil pessoas, enquanto 200 mil tiveram que deixar suas casas para escapar do ciclone Tauktae, que atingiu Índia, Sri Lanka e Ilhas Maldivas em maio.
"É um enorme impacto humano", disse a autora do relatório, Katherine Kramer, da Christian Aid.
"Obviamente, perder sua casa, seu sustento e tudo mais, e não ter os recursos para reconstruir isso é incrivelmente difícil. Por outro lado, se você tiver seguro, pelo menos você tem algum mecanismo para recomeçar."
O relatório destaca a necessidade de maiores esforços na redução das emissões de dióxido de carbono de modo a minimizar os impactos futuros relacionados ao clima.
Também pede a diplomatas especializados em negociações sobre o clima que ajudem países mais pobres que sofrem enormes perdas econômicas.
Nas negociações climáticas globais da Cúpula do Clima da ONU em Glasgow (COP26), na Escócia, essa questão de financiamento para perdas e danos causados por eventos relacionados ao clima gerou grande desacordo entre os países.
As nações em desenvolvimento queriam dinheiro — os mais ricos disseram que mais diálogos são necessários.
"Embora tenha sido bom ver a questão das perdas e danos se tornar um grande problema na COP26, foi extremamente decepcionante terminá-la sem um fundo criado para realmente ajudar as pessoas que estão sofrendo perdas permanentes devido às mudanças climáticas ', disse Nushrat Chowdhury,conselheiro de justiça climática da Christian Aid em Bangladesh.
"Criar esse fundo deve ser uma prioridade global em 2022."
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