Sociedade civil se une para pedir meta de desmatamento zero no mundo até 2020
Empresários, acadêmicos, índios e representantes de algumas das mais conhecidas ONGs do planeta chegaram a um consenso que os líderes mundiais parecem longe de alcançar: a Rio+20 deveria estabelecer em seu documento final uma meta de desmatamento zero no mundo até 2020.
A recomendação ganhou corpo no encontro “Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável”, iniciativa proposta pelo governo brasileiro para recolher recomendações da sociedade civil aos países que participam da Rio+20. O tema do painel era “Florestas”.
Yolanda Kakabadse, presidente do WWF (World Wide Fund) defendeu esta meta. “Floresta é um bem público. O Brasil foi capaz de reduzir em 70% o desmatamento no Acre. Estabelecer a meta de zero desmatamento até 2020 é ambicioso. E necessário”.
“Falta a decisão de manter floresta como floresta. Anualmente, perde-se uma Nicarágua por ano com desmatamento”, disse André Giacini de Freitas, diretor-executivo do Conselho de Manejo Florestal. “Há países no mundo, Brasil incluído, onde ainda é legal desmatar. Há países no mundo onde o Congresso quer dar anistia para desmatadores”, criticou, numa alusão ao Código Florestal brasileiro.
Guilherme Leal, fundador da Natura e candidato a vice-presidente do Brasil em 2010, na chapa de Marina Silva, também defendeu a meta de desmatamento zero. “A meta de restauração não será lograda se não tivermos em mente a eliminação do desmatamento. Isso é absolutamente fundamental. Isso é possível.”
Leal estava se referindo à primeira recomendação aprovada no encontro, em votação na internet, segundo a qual os governos devem se comprometer a restaurar, até 2015, 150 milhões de hectares de terras desmatadas ou degradadas.
Uma proposta da geógrafa Berta Becker, da UFRJ, adicionou a ideia de “inclusão social” à recomendação de desmatamento zero”.
A terceira recomendação aprovada foi promover ciência, tecnologia, inovação e conhecimento tradicional para enfrentar o desafio das florestas.
O panamenho Estebancio Castro Diaz, secretário-executivo da Aliança Internacional dos Povos Indígenas das Florestas Tropicais, lamentou não haver nenhuma recomendação, entre as dez mais votadas, que dizem respeito aos povos indígenas. “A falta de internet atrapalha. Não temos como enviar recomendações”, disse.
Entenda
Os "Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável" foram propostos pelo governo brasileiro para anteceder a Rio+20. Até o dia 19 de junho, no Riocentro, Rio de Janeiro, representantes da academia e também de movimentos sociais, setor privado e a população em geral se reúnem para debater temas centrais da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável e fazer recomendações para os chefes de Estado.
As discussões irão partir de 10 recomendações saídas da plataforma online Diálogos do Rio sobre os temas: oceanos; água; segurança alimentar e nutricional; desenvolvimento sustentável para o combate à probreza; desenvolvimento sustentável como resposta às crises econômica e financeira; energia sustentável para todos; a economia do desenvolvimento sustentável, incluindo padrões sustentável de produção e consumo; cidades sustentáveis e inovação; desemprego, trabalho decente e migrações; e florestas.
No final, serão escolhidas três por tema para serem encaminhadas aos Chefes de Estado na Rio+20, que acontece de 20 a 22 de junho.
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