Iniciativa apresentada na COP24 leva painéis solares à Amazônia
Uma iniciativa apresentada na COP-24, a conferência das Nações Unidas para a mudança climática, pretende resolver esta equação: o planeta ainda tem 1 bilhão de pessoas sem energia elétrica (1 milhão só no Brasil), mas é preciso reduzir a emissão de poluentes e o desmatamento. A solução? Painéis solares, defendem organizações como o WWF (Fundo Mundial para a Natureza) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Os institutos mostram nesta sexta-feira (14), último dia da conferência na Polônia, um projeto conjunto que já instalou 300 painéis na Amazônia. Na região, o WWF estima, há 230 mil famílias sem acesso às redes de distribuição de energia elétrica.
"A gente conversou com moradores para entender como a energia limpa poderia melhorar a vida deles, para incrementar sua produção", diz Alessandra Mathyas, analista de conservação do programa clima e energia do WWF Brasil.
Ela explica que a eletricidade nessas regiões não é importante apenas para o uso doméstico: ela possibilita bombear água para casa e agricultura, aulas no período noturno e até monitorar tartarugas ameaçadas de extinção. Além disso, a falta de energia limita o crescimento econômico das populações.
Na Amazônia, a energia solar possibilitaria manter açaí ou peixes refrigerados, por exemplo.
"São milhares de pessoas que não conseguem aumentar a produção local por falta de energia", diz a analista da WWF.
Hoje, muitas dessas áreas usam geradores movidos a gasolina ou diesel -- que, além de exigir a compra do combustível, emitem gases de efeito estufa.
Reservas extrativistas federais
O projeto se iniciou nas chamadas reservas extrativistas (Resex), estabelecidas pela Lei 9.985 do ano 2000. Os sustentos da população nesses locais baseiam-se em atividades como caça, pesca, extração de madeira e agricultura familiar.
"Hoje no Brasil há 66 reservas extrativistas federais e 45 delas ficam na Amazônia. A maioria não tem energia", diz Alessandra.
Além das Resex, integram a lista de locais com pouca ou nenhuma energia elétrica as terras indígenas, as reservas extrativistas estaduais e as florestas. Todos com demandas semelhantes.
"Minha casa não tem eletricidade, é um grupo gerador, só", diz José Maria, morador de uma Resex. Ele relata que, por isso, a energia é muito cara e restrita a três ou quatro horas por dia.
"Para ter esse tempo de energia funcionando, você tem um custo absurdo, além de uma energia de má qualidade. É caríssimo, é mais só para iluminação mesmo, assistir a uma tevezinha no máximo", diz.
Hoje, o litro da gasolina custa em média R$ 7 nessas comunidades, que gastam entre R$ 400 e R$ 600 reais por mês por combustível.
O projeto também tem o objetivo de mostrar para população e governos que é mais barato manter um sistema de energia solar do que usar geradores com combustíveis fósseis.
Em pesquisas pela internet, kits de geradores de energia solar custam em torno de R$ 16 mil.
"Se num primeiro momento esse valor parece mais caro, ele rapidamente se dilui. A energia solar na cidade, hoje, se paga em quatro anos. Mas lá [na reserva] a gente diz que é muito menos, porque o custo do combustível é mais alto", diz Alessandra Mathyas.
Para Unai Arrieta, especialista em implementação de redes elétricas em áreas remotas, o financiamento desse tipo de sistema é uma dificuldade.
"A energia solar ainda é cara, precisa ter um esquema de funcionamento sustentável com acordos que precisam ser feitos com o apoio da população local, porque eles que vão, caso não se pague pela manutenção, voltar a ficar sem o serviço de energia", diz.
Isso porque não basta captar e gerar a energia. É preciso também armazená-la e pensar nos impactos ambientais também dos painéis solares.
As baterias e os módulos, por exemplos, ao fim de suas vidas úteis, precisam ter um caminho de retorno às áreas urbanas, para que o lixo gerado seja bem gerido.
Tendência Global
Ao instalar painéis solares nessas comunidades, a analista do WWF diz que outro objetivo, além de levar energia elétrica, é estimular que governos adotem o modelo.
Até 2030, a ONU pretende reforçar a cooperação internacional para promover o investimento em infraestrutura de energia e em tecnologias de energia limpa.
Os governos em diferentes países já têm levado eletricidade para as cidades. Grande parte é feita por extensão da rede elétrica, mas a África ainda tem 600 milhões de pessoas sem acesso a energia, e a América Latina, entre 20 e 25 milhões.
É nos locais de difícil acesso que a energia solar surge como uma das soluções para atender uma das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU -- promover energia limpa e sustentável.
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