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Ex-ministros do Meio Ambiente se unem contra ações "malévolas" de Bolsonaro

Da esquerda para a direita, os ex-ministros José Carlos Carvalho, José Sarney Filho, Izabella Teixeira, Rubens Ricupero, Marina Silva, Edson Duarte e Carlos Minc - Leonor Calasans/IEA-USP
Da esquerda para a direita, os ex-ministros José Carlos Carvalho, José Sarney Filho, Izabella Teixeira, Rubens Ricupero, Marina Silva, Edson Duarte e Carlos Minc Imagem: Leonor Calasans/IEA-USP

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

08/05/2019 13h29

Oito ex-ministros do Meio Ambiente assinaram hoje em São Paulo um manifesto contra as políticas ambientais do governo do presidente Jair Bolsonaro. Sete deles se reuniram na USP para discutir um comunicado que condena, entre outras políticas, o "afrouxamento do licenciamento ambiental travestido de eficiência de gestão".

"Nossa intenção é procurar o presidente dos Poderes: Câmara, Senado, Supremo, além da Procuradoria-Geral da República", afirmou em coletiva de imprensa o ex-ministro Rubens Ricupero (1993-1994), ministro da pasta ainda no governo Itamar Franco. "Exortamos a imprensa e as juventudes das escolas, crianças --como nos Estados Unidos e França-- que saiam às ruas e praças porque o que está em jogo é o futuro deles, que vão sentir na prática essa política irracional que estamos assistindo."

Ricupero acredita haver um "esforço consciente" do governo "de destruição em todos os setores [do meio ambiente]". "Nunca pensamos que pudéssemos testemunhar um esforço tão malévolo e destrutivo em relação ao que Brasil tem costurado há muito tempo". "O Ministério do Meio Ambiente foi preservado de forma puramente formal, mas esvaziado de seu conteúdo com a transferência de todas as suas principais funções para outras instâncias decisórias."

Para o ex-ministro Carlos Minc (2008-2010), "nunca o meio ambiente no Brasil esteve tão ameaçado". "Nenhum de nós enquanto ministros tentou pôr em risco o Ibama ou o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). "Estamos descumprindo acordos assinados. O país de maior diversidade começa a negar os tratados que assinou e pode ser a maior ameaça do clima ao planeta."

Ministro do Meio Ambiente no governo Fernando Henrique Cardoso, José Carlos Carvalho (2002) criticou o tratamento dado ao governo aos fiscais do Ibama "como se fossem provocadores dos problemas que queremos combater". Para Carvalho, a atual gestão tenta convencer a sociedade de que o Brasil tem uma indústria de multas. "Mas para haver multas, é preciso uma indústria de infrações", afirma.

"O que está sendo feito parte da premissa intelectualmente pobre que é colocar o meio ambiente como uma questão fútil", afirmou Carvalho ao lembrar que as primeiras ações de preservação ambiental no Brasil foram criadas ainda no governo militar. "Me explica qual o marxismo cultural do governo Medici e Figueiredo? Agora, em pleno regime democrático, queremos retornar a uma situação anterior à ditadura."

Já para a ex-ministra e ex-candidata à Presidência Marina Silva, que comandou o ministério entre 2003 e 2008, o "desmonte da legislação e o desrespeito à Constituição", os cortes no orçamento e o enfraquecimento das licenças ambientais trarão prejuízos também econômicos ao país no longo prazo. "A União Europeia está dificultando novos acordos com o Mercosul em razão de nossa política ambiental", disse.

"Vamos sofrer com barreiras tarifárias Vamos voltar ao tempo da pressão externa. O agronegócio vai pagar o preço por quem tem uma visão atrasada. A mineração vai pagar porque vão dizer que nossas commodities são produzidas à custa das nossas florestas", afirmou Marina. "Isso cria insegurança. Será uma avalanche de judicialização."

Para a ex-senadora, é "uma coisa nefasta" acabar com os licenciamentos ambientais "só porque o projeto é do governo". "Como se, por esta razão, o ambiente não corresse risco."

Temos de resistir. O manifesto chama a atenção para o governo rever seus erros. Não queremos peitar, mas corrigir José Sarney Filho, ministro do Meio Ambiente por duas vezes --no governo FHC (1999-2002) e Michel Temer (2016-2018)

"O negacionismo climático é muito grave porque se trata de desenvolvimento global, um assunto geopolítico. O Brasil não pode ser a rainha má do "Game of Thrones" climático", afirma a ex-ministra Izabella Teixeira (2010-2016).

Último ministro do Meio Ambiente antes do governo Bolsonaro, Edson Duarte lembrou que "apesar dos diferentes governos e formações ideológicas, todos eles trouxeram avanços sobretudo na política de desenvolvimento sustentável". "O que assistimos agora é um prejuízo irreversível ao que foi construído durante os governos anteriores."

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