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Número de queimadas cresce 70% e é o maior desde 2013; Amazônia lidera

Queimada na BR-364, em Rondônia - Petter Vargas/Extra de Rondônia
Queimada na BR-364, em Rondônia
Imagem: Petter Vargas/Extra de Rondônia

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

19/08/2019 15h30Atualizada em 21/08/2019 23h16

O número de focos de queimadas cresceu 70% este ano (até o dia 18 de agosto) na comparação com o mesmo período de 2018. Ao todo, o Brasil registrou 66,9 mil pontos, segundo a medição do Programa Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Os dados apontam que as queimadas atingiram maior índice em sete anos --2013 foi o primeiro ano em que há dados informados de período similar.

Segundo os números do Inpe, o bioma mais afetado é o da Amazônia, com 51,9% dos casos. O cerrado vem em seguida com 30,7% dos focos registrados no ano.

Em números absolutos, Mato Grosso é o estado líder com 13.109 focos de queimada, seguido pelo Pará, com 7.975. Corumbá (MS) é o município campeão em focos: 1.911.

Controle usa recursos do Fundo Amazônia

Por conta do tempo mais seco, esse período do ano é propício a propagação do fogo. Mas a maioria dos casos é causada pelo ser humano, seja para destruição de resíduos como lixo ou para "limpar" terreno para o seu cultivo.

O gerente do Programa Amazônia do WWF Brasil, Ricardo Mello, afirma que, no caso da região amazônica, por exemplo, não há um processo natural que provoca queimadas, como o calor que atinge o cerrado.

"Todo fogo [na região amazônica] é de alguma forma iniciado pelo ser humano. Então esse aumento é diretamente causado pela ação do homem", afirma.

No começo do mês, o governo do Amazonas decretou situação de emergência em razão de queimadas.

Segundo Mello, na Amazônia historicamente o uso de fogo tem como principal causa o processo de desmatamento. "Depois de desmatar, coloca-se fogo na área. Boa parte do desmatamento que cresceu e vem sendo notícia está se revertendo agora nessas queimadas", diz.

A diretora de ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) Ane Alencar tem a mesma opinião. Para ela, o aumento de queimadas só pode ser explicado pela alta no desmatamento, já que não houve qualquer evento climático extremo que justifique essa situação.

"Neste ano não temos uma seca extrema, como foi 2015 e 2016. Em 2017 e 2018 tivemos um período chuvoso suficiente. Em 2019, não temos eventos climáticos que afetam as secas, como o El Niño, ou eles não estão acontecendo [de maneira] forte. Não tem como o clima explicar esse aumento [de queimadas]", diz Ane.

O Inpe, que levanta os dados de queimadas, foi alvo de críticas recentes do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Ele acusou o órgão de estar a serviço de algumas ONGs ao divulgar dados que apontaram aumento do desmatamento na Amazônia. O caso resultou na saída do diretor do Inpe, Ricardo Galvão.

O programa de queimadas do Inpe conta com recursos do Fundo Amazônia. Recentemente, Alemanha e Noruega cortaram verbas que enviavam ao fundo em protesto contra o aumento do desmatamento no bioma.

Incêndio, queimada em Tocantins - Divulgação/Alvaro Vallim/Governo do Tocantins - Divulgação/Alvaro Vallim/Governo do Tocantins
Tocantins é um dos estados que mais sofre com queimadas
Imagem: Divulgação/Alvaro Vallim/Governo do Tocantins

Problemas se espalham

Mello explica ainda que a queima é o processo final de conversão da área de florestal para pecuária.

"Em poucos casos, como no norte de Mato Grosso, que é ligado à agricultura e outros usos agrícolas. Isso em regra tem a ver com aumento de área de pastagem", afirma.

Outro fator que contribui para o problema este ano é a seca que enfrenta essa região. "Essas queimadas saem das áreas que foram abertas e entram para área de floresta intacta, que chamamos degradação florestal. Ou seja, essas queimadas têm um duplo efeito negativo", afirma.

Mello cita ainda a existência de uma nuvem de fumaça, por conta do aumento das queimadas nos últimos dias, que está afetando a vida das pessoas nas cidades.

Em Porto velho, houve até a necessidade de desviar voos.O Corpo de Bombeiros de Rondônia informou já atendeu mais de 900 ocorrências de incêndio em vegetação nos últimos 60 dias.

Na semana passada, o Amazonas lançou o Centro Integrado Multiagências do Amazonas, que é uma estrutura operacional que irá ajudar órgãos estaduais e federais no monitoramento e combate às queimadas e incêndios florestais.

O estado registra este ano uma alta de 335% no número de focos.

No Acre, o governo publicou, na sexta-feira, um decreto de alerta ambiental no estado --além de pedir uma ação integrada dos órgãos ambientais do estado, municípios, Ministério Público Estadual, de instituições do terceiro setor e também da população no combate às queimadas.

Desmatamento na Amazônia cresceu 15% em um ano

Band Notí­cias
Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado no 4° parágrafo desta matéria, Corumbá fica em Mato Grosso do Sul, e não em Mato Grosso. A informação já foi corrigida.