Destruição da Amazônia acaba com possíveis curas de doenças, diz relatório
Resumo da notícia
- Relatório do Fórum Econômico Mundial analisou efeitos da destruição da Amazônia
- Documento diz que potenciais curas de doenças podem ser perdidas para sempre
A destruição do bioma amazônico por meio de queimadas e do desmatamento da vegetação nativa pode acabar com as possibilidades de se encontrar potenciais curas para doenças, diz documento elaborado pelo Fórum Econômico Mundial. De acordo com o Relatório de Riscos Globais, divulgado ontem, a destruição da floresta "significa que potenciais curas não descobertas para doenças serão perdidas para sempre."
Em 2019, a floresta amazônica sofreu com queimadas, tendo mais de 89 mil focos de incêndio, número 30% superior ao de 2018.
O texto faz análises sobre a Amazônia, classificada como "o mais diverso ecossistema e casa de aproximadamente 10% de todas as espécies terrestres".
Menos carbono absorvido
Outro trecho do documento salienta que as mudanças climáticas estão interferindo na floresta no sentido da absorção de carbono —medida daquele ecossistema que funciona como uma mitigação natural das consequências do aquecimento global.
"A Amazônia, agora, absorve cerca de um terço menos carbono do que há uma década", diz o texto. "E um estudo recente descobriu que o aumento da secura na atmosfera está deixando ecossistemas ainda mais vulnerável ao fogo e à seca."
O estudo citado pelo Fórum Econômico foi publicado na última sexta-feira (10) na revista Science Advances. Encabeçado pelo pesquisador brasileiro Paulo Brando, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), o estudo utilizou um modelo de simulação que associa as mudanças climáticas e o desmatamento à área degradada pelas queimadas na Amazônia.
Em 30 anos, a área queimada por incêndios florestais na Amazônia pode dobrar, "afetando até 16% das florestas da região", diz o estudo. A pesquisa conclui que "evitar novos desmatamentos poderia reduzir pela metade as emissões de fogo e ajudar a prevenir que essas queimadas escapem para áreas protegidas e terras indígenas."
Piora em doenças por mosquitos
Para além das possibilidades de que determinadas curas nunca sejam descobertas, as mudanças climáticas também podem agravar o problema de enfermidades transmitidas por mosquitos, afirma o documento do Fórum Econômico.
"Temperaturas mais quentes estão expandindo habitats mosquitos para além dos trópicos, propagando doenças como malária, dengue, febre amarela, vírus do Nilo Ocidental [em 2019, o Brasil registrou o segundo caso da história desta doença no Brasil] e zika em novas regiões. Em 2015, o efeito El Niño permitiu que o zika se espalhasse do Brasil para a América do Sul", diz o relatório.
Prejuízo de US$ 3 trilhões
Sem citar especificamente o Brasil —a floresta amazônica engloba territórios de nove países—, o relatório afirma ainda que a alta nas queimadas e no desmatamento —que afetam como as mudanças climáticas incidem sobre o bioma— pode:
- prejudicar a produção de alimentos;
- aumentar a escassez de água;
- reduzir o potencial hidrelétrico da região;
Os prejuízos decorrentes desses reflexos, aponta o relatório, podem atingir o patamar de US$ 3 trilhões (cerca de R$ 12,5 trilhões). "Um declínio significativo na produção agrícola brasileira poderia aumentar a volatilidade dos preços dos alimentos, o que historicamente pode desencadear instabilidade e contribuir para deteriorações na segurança", diz o texto, apontando que as etnias indígenas podem desaparecer caso esse cenário se concretize.
Em nota enviada à reportagem comentando o relatório, o ministério do Meio Ambiente afirmou que os "europeus adotaram postura protecionista ao fechar o seu mercado de carbono, prejudicando diversos países e em especial a Amazônia, que tem grande potencial de gerar créditos de carbono e com isso arrecadar recursos suficientes para cuidar da floresta."
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