Redes de fast food usam soja de área desmatada do Cerrado, diz jornal
Supermercados e redes de fast food no Reino Unido estão comercializando frango alimentado com soja de áreas desmatadas ilegalmente no Cerrado. As informações são do The Guardian.
De acordo com o jornal, as empresas que fornecem a soja para exportação estariam ligadas a milhares de incêndios florestais e a pelo menos 800 quilômetros de área desmatada no bioma brasileiro.
Além do The Guardian, participaram da investigação os órgãos e veículos Bureau of Investigative Journalism, Greenpeace Unearthed e ITV News. Segundo as informações obtidas, a soja de áreas desmatadas estaria chegando no Reino Unido pela empresa Cargill, que compra de agricultores do Cerrado.
Os restaurantes e redes de fast food Tesco, Lidl, Asda, McDonald's e Nando's seriam algumas das empresas que compram frango alimentado com soja fornecida pela Cargill.
A investigação analisou uma carga de 66 mil toneladas de grãos de soja que desembarcou em Liverpool em agosto deste ano por um navio-tanque alugado pela Cargill. As empresas Bunge e ADM também foram identificadas como fornecedoras de parte desta soja.
Todo o carregamento, entretanto, foi alocado em uma unidade da Cargill, em Liverpool, segundo o The Guardian. Lá, os grãos são esmagados e misturados ao trigo para produzir ração para gado.
"Precisamos acordar para o fato de que aquilo que compramos nos supermercados do Reino Unido tem implicações amplas e são possivelmente prejudiciais", comentou o ativista Chris Packham. "Este é um excelente exemplo disso."
No Reino Unido, são abatidas pelo menos um bilhão de galinhas por ano, o equivalente a 15 aves por pessoa.
Com a ração pronta na fábrica da Cargill, o produto é enviado para granjas contratadas pela Avara, uma joint venture entre a Cargill e Faccenda Foods. A Avara é responsável por engordar as aves, que são abatidas, processadas e embaladas para distribuição ao McDonald's e outras empresas do Reino Unido.
A investigação do The Guardian ainda indica que a soja da Cargill vem de pelo menos nove fornecedores envolvidos em desmatamentos recentes do Cerrado. De acordo com dados da consultoria Aidenvironment, o bioma sofreu com 12.397 incêndios desde 2015.
No mês passado, diz a reportagem, imagens de drone mostraram um incêndio na Fazenda Parceiro, administrada pela SLC Agrícola, uma fornecedora da Cargill. Foram mais de 65 km² queimados só para limpar a terra.
Outro lado
Procurado pelo UOL, a Cargill negou que forneça soja de agricultores que desmatam áreas protegidas e garantiu estar comprometida em "alimentar o mundo de forma segura, responsável e sustentável". Segundo estimativas da empresa, 95,68% dos volumes de soja no Brasil para o ano-safra 2018-2019 foram livres de desmatamento e conversão.
"Continuamos avançando na construção de uma cadeia de abastecimento de soja sem desmatamento. Além disso, mapeamos 100% de nossos fornecedores brasileiros de soja no início de 2020".
De acordo com a Cargill, a empresa continua a expandir o programa de Certificação 3s no Brasil e no Paraguai. "Os agricultores que fazem parte deste programa se comprometem a produzir suas safras usando as melhores práticas agrícolas, protegendo o bem-estar dos trabalhadores e gerenciando as emissões de gases de efeito estufa".
Além disso, a Cargill afirmou manter controles "para evitar que produtos não conformes entrem nas cadeias de suprimentos da Cargill e de nossos clientes". "O desmatamento no Cerrado é, na maioria dos casos, um ato criminoso segundo a legislação brasileira. E deve ser tratado dessa forma".
O McDonald's do Reino Unido disse ao The Guardian que visa eliminar o desmatamento de suas cadeias de abastecimento globais até 2030. "Estamos orgulhosos do progresso que fizemos, mas reconhecemos que há mais a fazer e continuaremos a trabalhar duro para progredir em direção ao nosso metas", informou um porta-voz.
Já o Nando's afirmou ao The Guardian que está buscando alternativas à soja. "Reconhecemos que há mais trabalho a fazer e é por isso que também estamos investindo em pesquisas visando alternativas de alimentação mais sustentáveis e esperamos poder compartilhar os resultados o mais rápido possível."
Asda, Lidl e Tesco disseram estar trabalhando para comprar apenas soja sustentável "certificada fisicamente" até 2025.
"É preciso parar de fazer fogueiras para limpar terras para plantações", disse um porta-voz da Tesco. "Desempenhamos um papel de liderança ao reunir a indústria e o governo para proteger o Cerrado, incluindo o compromisso de £ 10 milhões para proteger a biodiversidade da região. Precisamos de nossos fornecedores, indústria, ONGs e governos para trabalhar conosco para acabar com o desmatamento e proteger nosso ambiente natural."
A Avara garante que todas as suas compras de soja têm certificação e trabalha para alcançar uma transparência maior na cadeia de abastecimento. "Saudamos a proposta de legislação do governo do Reino Unido que visa o desmatamento ilegal, pois está alinhada com esses objetivos e é um primeiro passo importante." A Avara faz parte da Declaração de Apoio ao Manifesto do Cerrado.
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