O que Bolsonaro quer é criar uma milícia na Amazônia, diz Marina Silva
A ambientalista e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-AC) criticou hoje o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o atual chefe da pasta ambiental, Ricardo Salles, acusando-os de querer criar uma força paramilitar em favor do desmatamento ilegal na Amazônia.
"O que ele (Bolsonaro) quer fazer é criar uma milícia na Amazônia. A ambição do governo Bolsonaro é de ter o controle militar ou paramilitar na Amazônia para implementar as políticas nefastas na Amazônia", disse Marina em entrevista para a GloboNews.
Entre as "políticas nefastas", a ambientalista citou, como exemplos, incentivos ao avanço da pecuária extensiva e realização de "grandes projetos" relacionados à mineração.
O governo se posta ao lado dos contraventores, dos que fazem grilagem em terra política Marina Silva (Rede-AC), ex-ministra do Meio Ambiente
'O mundo inteiro nunca vai acreditar'
A crítica de Marina vem logo após Bolsonaro participar virtualmente da Cúpula do Clima, convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para discutir as mudanças climáticas que vêm ocorrendo no mundo.
No encontro, em discurso, o presidente destacou "o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030" no Brasil e pediu "a contribuição de países, empresas, entidades e pessoas dispostos a atuar de maneira imediata" na solução dos problemas ambientais brasileiros.
Para Marina, porém, "o mundo inteiro nunca vai acreditar" em Bolsonaro. "Por isso está a equação de: oferece resultados primeiros — e resultados concretos — e depois a gente pensa em apoiar [financeiramente]", afirmou.
O discurso feito hoje por Bolsonaro é semelhante ao recentemente escrito pelo presidente em carta à Biden, quando pediu apoio financeiro dos Estados Unidos para zerar o desmatamento ilegal na Amazônia ate 2030.
A resposta dos Estados Unidos à carta, dada pelo enviado especial do país para o clima, John Kerry, porém, foi na linha do que Marina Silva disse na entrevista: o representante do governo Biden cobrou "ações imediatas" contra o desmatamento e "resultados tangíveis".
Reconhecimento
Ainda para a ex-ministra do Meio Ambiente, a política ambiental de Bolsonaro e Salles é baseada no desmonte do que antecessores — como ela própria — fizeram e o que foi apresentado de proveitoso na Cúpula do Clima são dados que não tem relação com a gestão atual.
"A única coisa que ele (Bolsonaro) pôde levar [para a Cúpula do Clima] foi um trabalho que foi feito anterior a ele — e que agora, desde que assumiu, ele não para de destruir", afirmou Marina.
"Ele chega, desmonta tudo isso (políticas de antecessores), tanto do ponto de vista da própria governança, como dos recursos orçamentários como também do ponto de vista das mensagens que ele passa de desconstrução da política ambiental", pontuou.
No discurso durante o encontro, Bolsonaro apresentou dados positivos sobre a preservação da Amazônia — porém, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento no bioma aumentou 9,5% no Brasil no último ano, o pior nível desde 2008.
Nos últimos 15 anos, segundo dados do Observatório do Clima, o Brasil deixou de emitir mais de 8,3 bilhões de gases de efeito estufa — porém, entre 2018 e 2019, houve aumento de 9,6% nas emissões de gás carbônico no país.
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