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Marina Silva: Governo Bolsonaro deve apresentar pedalada climática na COP26

Gabriel Toueg

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/04/2021 04h00

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) disse ontem que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegará à COP26, em novembro, com uma "pedalada climática". "Esse governo tem muitas dificuldades: desmatamento aumentando, queimadas, emissão de CO2, as ambições estão subfaturadas. O que está fazendo é uma 'pedalada climática'", disse (assista a partir de 29:50 no vídeo acima).

Com esse governo, eu digo que é impossível chegar [à COP26] com algum resultado que possa ter qualquer credibilidade. Infelizmente esse governo não tem nenhuma.
Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente

A 26ª edição da Conferência das Partes, ou COP26, acontecerá em Glasgow, na Escócia. O principal objetivo do encontro, que deve reunir 197 nações, é manter o aquecimento global limitado a 1,5°C em relação a níveis pré-industriais.

Para a ex-ministra, Bolsonaro "perdeu a grande oportunidade de levar [à Cúpula do Clima] algo que poderia ser grandioso, em preparação para a COP26". Ela disse esperar que, até novembro, "tenhamos lições aprendidas e que não se vá para fazer discursos ou chantagem com países desenvolvidos de que vai fazer o dever de casa só se nos pagarem para isso".

Mundo 'na mesma agenda'

As declarações foram feitas durante entrevista aos colunistas do UOL Maria Carolina Trevisan e Diogo Schelp no Baixo Clero, o podcast de política do UOL, apresentado por Carla Bigatto.

"Não vejo como chegar [à COP26] com qualquer coisa que seja animadora, mesmo num contexto em que teria tudo para chegar", diz. Segundo ela, o fato de que União Europeia, EUA, Reino Unido e Japão estão todos "na mesma agenda" vai mudar a dinâmica do mundo.

"As informações devem ser medidas pelos dados, pelos números, pelo que as imagens de satélite mostram de queimadas e do desmatamento da Amazônia, pelo que está acontecendo em relação aos povos indígenas", disse Marina (assista a partir de 13:41).

Segundo ela, esses dados não condizem com o discurso de Bolsonaro. Ela também criticou acordos com o governo. "Quem quer de fato ajudar a preservar a Amazônia, tudo o que não pode fazer agora é fortalecer politicamente o Bolsonaro", afirmou.

Ao comparar a gestão de Ricardo Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente com a sua própria gestão, Marina disse que o governo Bolsonaro é um "transatlântico do mal" (assista a partir de 18:02). A ex-senadora foi a titular da pasta sob o ex-presidente Lula (PT), entre 2003 e 2008.

"Não é com um discurso inverídico na frente das maiores potências do mundo que o presidente Bolsonaro vai convencer de que de fato está fazendo o dever de casa", afirmou a ex-senadora.

Para a ex-ministra, mais do que mudar o discurso, Bolsonaro precisa mostrar atitudes com relação ao meio ambiente. "O presidente teve uma oportunidade de sinalizar uma mudança de prática", disse, sobre a investigação da PF que resultou na maior apreensão de madeira irregular da história do Brasil (assista a partir de 15:16).

"A investigação foi feita com base em inteligências, provas documentais, feita por um delegado experiente da área de combate a crimes ambientais e o ministro do Meio Ambiente vai fazer reunião com os criminosos, colocar em dúvida o trabalho da Polícia Federal, e como 'prêmio' esse agente público recebe, às vésperas da Cúpula do Clima, uma exoneração?", indaga.

Para a ex-ministra, o afastamento do delegado Alexandre Saraiva é um exemplo do que Salles chamou de "passar a boiada" em reunião ministerial de um ano atrás, cujas imagens foram tornadas públicas. "Quando eles [o governo] exoneram o Saraiva, é 'passar a boiada'. Mas teve uma resposta, o próprio Saraiva disse: 'Aqui você não vai passar a boiada, não'", afirmou Marina (assista a partir de 25:30).

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