Deputados e delegado da PF que denunciou Salles batem boca na Câmara
A audiência virtual conjunta das Comissões de Legislação Participativa e de Direitos Humanos que ouviu o delegado da PF (Polícia Federal) e ex-superintendente da corporação no Amazonas, Alexandre Saraiva, acabou em tumulto e bate boca com os deputados.
Na sessão, o delegado relatou a atuação do ministro Ricardo Salles em prol de quem chamou de "criminosos ambientais". Ele foi substituído no cargo um dia após enviar uma notícia-crime contra o ministro ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Os supostos crimes de Ricardo Salles, segundo Saraiva, ocorreram após a Operação Handroanthus, da PF, apreender 213 mil metros cúbicos de madeira ilegal na divisa entre Amazonas e Pará, no fim de 2020. A investigação apontou desmatamento ilegal, grilagem de terra, fraude em escrituras e exploração madeireira em áreas de preservação permanente.
"Ele [Ricardo Salles] foi até a área, fez uma 'pseudoperícia'. De 40 mil toras, olhou duas e disse que conferiu. Que a princípio estava certinho, que as pessoas apresentaram escrituras", disse o delegado. Após a fala, deputados criticaram a investigação da PF e a conduta do delegado, que foi chamado de "incompetente" por uma deputada.
Vice-líder do governo, o deputado Ubiratan Sanderson (PSL-RS) criticou a "arrogância e prepotência" no delegado, avaliando que espaço ocupado por ele na mídia quanto a esse caso tem "ultrapassado" o comportamento de um agente administrativo e o coloca sob risco de demissão da Polícia Federal. Ele comparou Saraiva ao delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha.
Quando o senhor sai dessa esfera e resolve ocupar mídia em nítido extrapolamento da sua função, eu digo, com toda a sinceridade, que o senhor se coloca em uma posição muito complicada. Eu diria até que o senhor está em maus lençóis. Em 25 anos de Polícia Federal, eu vi apenas um delegado sair do seu quadrado. O senhor sabe quem é, Protógenes Queiroz, achou que era autônomo, maior do que a própria lei. Eu fico até envergonhado. Eu não tinha presenciado um convidado pela Câmara dos Deputados ser tão arrogante e tão prepotente quanto o senhor.
Ubiratan Sanderson (PSL-RS), deputado federal
Quanto ao deputado Sanderson, eu tenho duas coisas para dizer para ele: primeiro, quando eu nasci, a primeira coisa que eu perdi foi o medo. Eu entrei na polícia, acho que o senhor ficou por pouco tempo, que tipo de policial é o senhor que tem medo de perder o emprego quando pode levar um tiro? Quanto a eu ser arrogante, meu pai me ensinou uma coisa que eu ensinei para o meu filho: não seja arrogante com os humildes nem humilde com os arrogantes. (...) O senhor perguntou o que quis e eu lhe respondi o que quis.
Alexandre Saraiva, delegado
A deputada Alê Silva (PSL-RJ) chamou o delegado de "incompetente", justificando a sua demissão.
Acabei de chegar à conclusão de que a sua exoneração foi por incompetência, negligência, por um inquérito que ele nem mesmo conseguiu concluir a contento, não reuniu as provas necessárias.
Alê Silva (PSL-RJ), deputada federal
A deputada Alê Silva me chamou de incompetente. Ela fez 52 propostas legislativas, duas relatadas. Acho que incompetente é ela.
Alexandre Saraiva, delegado
Na sequência, ele e a deputada Carla Zambelli também discutiram. O delegado ironizou o comentário da parlamentar, afirmando que "nem ela deve acreditar no que ela diz".
É possível errar, o ser humano erra. O senhor acabou de citar a empresa Rondobel, disse que tinha diversas multas no Ibama. Toda a empresa ambiental é passível de multa, mas multa e crime são coisas diferentes. O senhor fala de um jeito como se fosse uma empresa criminosa. Tenho aqui um relatório do Décio Ferreira Neto que diz 'dessa forma concluímos esse relatório afirmando não haver indícios suficientes de materialidade dos fatos ora investigados encerrando-se assim essa investigação.
Carla Zambelli (PSL-SP), deputada federal
A deputada Carla Zambelli pega umas coisinhas soltas assim e acho que nem ela acredita no que ela fala. É claro, se uma empresa é processada 200 vezes, se ela ganhar uma... Qual a vantagem, é natural.
Alexandre Saraiva, delegado
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