Submundo na Antártida: 5 pontos incríveis sobre a descoberta de seres vivos
Quando um grupo de cientistas da Nova Zelândia resolveu furar o gelo da Antártica, não imaginava descobrir uma nova população de seres vivos vivendo ali. Foi preciso ir fundo para chegar nos animais semelhantes a camarões, mais precisamente 500 metros.
Ao fim do buraco, eles chegaram a um leito de água doce e nele havia uma espécie desconhecida.
"Conseguir observar este rio foi como ser o primeiro a entrar em um mundo oculto", afirmou o professor Huw Horgan, da Victoria University of Wellington, ao "The Guardian".
Veja abaixo alguns detalhes incríveis desse ecossistema subaquático:
Busca por rios secretos
De acordo com artigo publicado no site do Instituto Nacional de Água e Atmosfera da Nova Zelândia (Niwa, na sigla em inglês), o professor Horgan investigava um sulco que foi detectado quando estudava imagens de satélite. Ele estava preocupado com os impactos da mudança climática no local, que começava a fluir para fora do continente.
Os pesquisadores já suspeitavam, há algum tempo, da existência de uma extensa rede de rios de água doce escondida abaixo das camadas de gelo da Antártica, que não foi estudada diretamente.
Uma equipe de pesquisadores das universidades de Wellington, Auckland e Otago, apoiada pelo instituto Antarctica New Zealand, Niwa e Instituto GNS Science, quer descobrir o papel desse estuário no derretimento da plataforma de gelo e qual o impacto do clima nisso.
Buraco frio e escuro
Para encontrar o sulco, os cientistas fizeram uma perfuração no gelo de 500 metros de profundidade. Ao baixar a câmera para analisar a água no fundo, descobriram que ela estava infestada pelo grupo de pequenos animais.
O ecossistema estava num ponto próximo ao sul da Nova Zelândia, a centenas de quilômetros da borda da maior plataforma de gelo do mundo, que se estende por 487 mil km² no mar de Ross.
A região onde as espécies foram encontradas é completamente escura, distante demais do alcance da luz do sol, e extremamente frio.
Nas imagens divulgadas pela equipe de cientistas, é possível ver os pequenos animais se movimentando, iluminados apenas pelas luzes das câmeras.
Imagens surreais
Como a ideia era observar um leito de água doce, as imagens de um enxame desconhecido surpreenderam os cientistas.
O cientista Craig Stevens, da Niwa, disse ao "The Guardian" que, inicialmente, a equipe achou que havia algum problema com a câmera. Só depois perceberam estavam visualizando um ecossistema subaquático. Em outras palavras: um monte de pequenas criaturas na frente da lente.
"Por um tempo, pensamos que algo estava errado com a câmera, mas quando o foco melhorou, notamos um cardume de artrópodes de cerca de 5 mm de tamanho", disse Stevens. "Ter todos esses animais nadando em volta do nosso equipamento significa que existe um importante ecossistema aqui."
Os animais são do mesmo filo dos camarões, lagostas e caranguejos.
Segundo o professor Huw Horgan, foram deixados equipamentos no local para investigar o comportamento do rio.
Erupção vulcânica e tsunami
A equipe foi enviada para a área alguns dias antes da erupção do vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha'apai, que ocorreu no dia 15 de janeiro. Enquanto os cientistas estudavam o estuário, detectaram uma mudança significativa de pressão, à medida que o tsunami passava pela cavidade.
"Ver o efeito do vulcão em Tonga, que entrou em erupção a milhares de quilômetros de distância, foi bastante notável", disse Stevens, ao site do Niwa. "É também um lembrete sobre o quão conectado todo o nosso planeta está. O clima está mudando e alguns pontos focais importantes ainda precisam ser compreendidos pela ciência."
"No entanto, o que está claro é que grandes mudanças estão em andamento —ainda mais se não trabalharmos juntos para mudarmos nossas emissões de gases de efeito estufa", completou.
Como se alimentam?
Segundo o site CNET, os pesquisadores buscam agora entender a alimentação dos animais, já que a região é tão remota que há poucas fontes de energia. "O que está fornecendo os nutrientes?", disse Stevens. "Isso é provavelmente o que mais nos intriga sobre isso."
Para o cientista, o primeiro passo para entender a importância de estuários sob o gelo é saber as semelhanças e diferenças em relação aos tradicionais.
A equipe planeja fazer análises das amostras de água, o que pode revelar de que maneira um ecossistema como o recém-descoberto se desenvolve longe da luz e do oceano aberto.
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