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Militares venezuelanos são presos com mercúrio para garimpo na Amazônia

28.jun.2022 - Militares venezuelanos e brasileiros são presos pela PF  - Reprodução/UOL
28.jun.2022 - Militares venezuelanos e brasileiros são presos pela PF Imagem: Reprodução/UOL

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

28/06/2022 18h32Atualizada em 28/06/2022 18h36

Dois militares venezuelanos foram presos na noite de ontem (27) em Pacaraima (RR), cidade situada na Amazônia e próxima da fronteira com a Venezuela, com mais de 30 kg de mercúrio. O material tóxico é usado em garimpos, principalmente para a extração de ouro. Outros dois venezuelanos e dois brasileiros também foram detidos.

A prisão em flagrante foi feita por agentes de uma força-tarefa da Polícia Federal, Polícia Militar e Polícia Penal do estado. Foram apreendidos R$ 4 mil em espécie e radiocomunicadores.

O tenente-coronel da Fuerza Armada Nacional Bolivariana José Alberto Torrivila Flores e o primeiro-tenente Alexander Alfredo Noguera Agraz foram detidos com o garimpeiro brasileiro Gilberto Batista da Silva, que trabalha na Guiana, mas cuja família vive na Venezuela.

Outros detidos foram o empresário brasileiro Luiz Leandro Braga Torres e os venezuelanos José Rafael Olmos Narvaez, apontado por Batista como "patrão" do grupo que tentava vender o mercúrio, e Yasmin Aribert Torrivila Flore.

A reportagem não localizou os advogados dos presos.

Como o UOL mostrou, garimpeiros brasileiros têm atravessado a fronteira com a Venezuela para buscar ouro em terras indígenas. Para garantir o trabalho ilegal, eles pagam subornos a militares venezuelanos a dissidentes das Farc, denunciam indígenas, policiais e ativistas de ONG ouvidos pela reportagem.

O movimento inverso, vindo da Venezuela, também acontece, informou Dario Kopenawa, vice-presidente da associação ianomâmi.

28.jun.2022 - PF apreende mercúrio, dinheiro e comunicadores - Reprodução/UOL - Reprodução/UOL
Mercúrio, dinheiro e comunicadores foram apreendidos
Imagem: Reprodução/UOL

Coronel tentou enganar garimpeiros, diz brasileiro

Segundo os investigadores, os suspeitos foram abordados em uma fiscalização de rotina em Pacaraima. Eles estavam em dois carros. O grupo afirmou aos agentes que o mercúrio vinha da Venezuela e que eles se dirigiam para Boa Vista.

O material tóxico seria usado em garimpos ilegais de Roraima, de acordo com as informações prestadas pelos suspeitos.

Imagens da prisão obtidas pelo UOL mostram que o material apreendido estava rotulado como "mercúrio vermelho", substância que teria mais poder de separação do ouro.

Mas, em depoimento, o garimpeiro brasileiro Gilberto Silva disse aos policiais que "o mercúrio apreendido com o rótulo RED MERCÚRIO é um mercúrio comum", de acordo com documento obtido pelo UOL.

Os envolvidos Jose Rafael Olmos Narvaez e Jose Alberto Torrivilla Flores tentaram negociar o produto como verdadeiro com compatriotas na Venezuelana (tentaram "ludibriar" / "enganar"), sem sucesso; então, decidiram tentar a sorte aqui no Brasil"
Depoimento do garimpeiro Gilberto Batista

Batista afirmou que o tenente-coronel e Olmos pediram para que os levasse a Boa Vista, a fim de vender o mercúrio. "Em contrapartida, receberia um valor como recompensa ainda a ser combinado", afirmou Batista.

Mas ele não sabia os valores envolvidos. "Costumeiramente, 1 Kg de mercúrio é vendido pelo equivalente a 10 gramas de ouros", disse. Assim, o cilindro de mais de 30 kg valeria R$ 105 mil.

O empresário Leandro Braga disse que o grupo lhe ofereceu R$ 1 mil para transportar uma encomenda em seu carro, mas alegou aos policiais não saber do que se tratava.

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