Marsam perde selo de boas práticas após investigação sobre ouro ilegal

A refinadora Marsam, uma das principais fornecedoras de ouro do Brasil, foi removida de uma lista pública sobre boas práticas da organização internacional Iniciativa de Minerais Responsáveis (RMI, na sigla em inglês) em meio a suspeitas sobre aquisição de ouro ilegal. A informação é da agência de notícias norte-americana Associated Press.

Investigação da ONG Repórter Brasil divulgada em julho último revelou que partes de filamentos de ouro presentes em celulares e computadores das marcas Apple e Microsoft, bem como os superservidores do Google e da Amazon, saíram de garimpos ilegais na Amazônia.

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A FD'Gold, fornecedora da Marsam, é acusada pelo MPF (Ministério Público Federal) de provocar danos ambientais por conta da aquisição de ouro ilegal.

A lista da qual a Marsam foi removida é usada por fabricantes globais para erradicar abusos em suas operações e redes de fornecimento.

André Nunes, consultor externo da Marsam, disse à agência de notícias que a empresa vai recorrer da decisão que a removeu da lista de boas práticas. Ele disse que a refinadora conduziu sua própria avaliação sobre a FD'Gold, e não encontrou nada de errado.

Nunes também ressaltou que as acusações de mineração ilegal contra o cliente da Marsam ainda não foram comprovadas, citando uma decisão processual do mês passado que criticou os promotores por não fornecerem provas suficientes para apoiar seu pedido de que as atividades da empresa sejam suspensas até o resultado da investigação.

O UOL também tenta contato com a Marsam sobre a remoção da lista de boas práticas. Caso haja resposta, o texto será atualizado.

Refinadora italiana também é investigada

Além da brasileira Marsam, a reportagem da ONG Repórter Brasil também revelou que essas gigantes da tecnologia compraram, em 2020 e 2021, o metal de diversas outras refinadoras, como a italiana Chimet. Ela é investigada pela Polícia Federal por ser destino do minério extraído de garimpos clandestinos da Terra Indígena Kayapó.

A extração mineral em terras indígenas brasileiras é inconstitucional, apesar dos esforços do governo Jair Bolsonaro (PL) para legalizá-la.

Em meio à maior floresta tropical do mundo, o rastro de destruição dessa exploração clandestina é crescente e imensurável. Enquanto o desmatamento e a contaminação dos rios são visíveis, o garimpo pode estar matando pessoas por mercúrio (um metal tóxico) e vem atraindo o crime organizado. Ataques armados de garimpeiros a indígenas têm sido revelados pela imprensa nos últimos anos, como o que aconteceu em maio de 2021 em uma comunidade Yanomami.

Procuradas pela reportagem à época, apenas a Apple revelou ter tomado uma atitude e informou que a Marsam havia sido removida da lista de fornecedores. A Associated Press também entrou em contato com as gigantes da tecnologia, mas apenas a responsável pelo Iphone respondeu, confirmando a interrupção das atividades com a refinadora brasileira.