Topo

Como foi possível descobrir que este tubarão nasceu no século 17?

Tubarão-da-Groenlândia é o vertebrado mais longevo do planeta; análise do olho permitiu descobrir idade - Julius Nielsen/Handout via Reuters
Tubarão-da-Groenlândia é o vertebrado mais longevo do planeta; análise do olho permitiu descobrir idade Imagem: Julius Nielsen/Handout via Reuters

Nathalia Lino

Colaboração para o UOL

13/12/2022 11h37

O tubarão da Groenlândia, um dos maiores do mundo, é o vertebrado mais longevo da Terra, podendo viver até 400 anos.

A descoberta, feita há alguns anos por pesquisadores ligados à Universidade de Copenhague e outras instituições, voltou a ser comentada nas redes sociais nesta semana. E o questionamento foi: afinal, como é possível descobrir a idade de um animal tão antigo?

A descoberta ocorreu depois que 28 tubarões fêmeas foram capturados acidentalmente por barcos de pesca.

O caminho convencional para se determinar a idade de um animal desse tipo seria observar as camadas de tecido calcificado que crescem nas escamas das nadadeiras ou em outras estruturas ósseas.

Os tubarões da Groenlândia, porém, têm barbatanas pequenas e sem espinhos, e suas vértebras são moles demais para fazer esse tipo de análise.

Para superar essa lacuna, cientistas decidiram medir os níveis de radiocarbono no olho do tubarão. A procura pelo elemento nos olhos do tubarão ocorre porque o membro se desenvolve enquanto o animal ainda está no útero da mãe.

Essas medições refletem, portanto, os níveis de radiocarbono no oceano quando a retina foi formada pela primeira vez.

Medições nos 28 tubarões da Groenlândia fêmeas, feitas durante pesquisas entre 2010 e 2013, sugeriram que o maior deles (com cinco metros de comprimento) tem entre 272 e 512 anos.

A datação pelo carbono não oferece uma data precisa, mas sugere que esse tubarão nasceu entre os anos de 1501 e 1744 — a data provável foi no século 17.

O estudo foi realizado por Julius Nielsen, da Universidade de Copenhague, com pesquisadores da Groenlândia, Noruega e Estados Unidos.

A datação de carbono é uma técnica frequentemente usada para definir a idade de fósseis. Funciona assim: a quantidade de radiocarbono dos tecidos orgânicos mortos diminui a um ritmo constante com o passar do tempo. Dessa forma, é possível estimar a idade daquele objeto que se pretende estudar.

No caso do tubarão da Groenlândia, Nielsen, cientista responsável pelo estudo, explicou à BBC que a retina do tubarão é feita de um material com proteínas metabolicamente inertes.

Ou seja, uma vez sintetizadas, essas proteínas não são renovadas. Por isso, é possível isolar esse tecido formado quando o tubarão era um bebê, e fazer a datação por radiocarbono.

Sem pressa para crescer

O crescimento lento do tubarão da Groenlândia — cerca de um centímetro por ano — também contribui para a sua vida excepcionalmente longa, superando outros centenários conhecidos do mundo animal, como a baleia da Groenlândia e a tartaruga das Galápagos.