Fungo destruidor de plantações pode dominar o mundo com mudanças climáticas
As mudanças climáticas estão facilitando a ação do fungo causador da brusone, doença que destrói plantações de trigo. A conclusão é de um estudo organizado pelo Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo que reuniu pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, México, Alemanha e Bangladesh publicado na revista Nature em fevereiro.
O que aconteceu
Fungo causador da brusone se multiplica em altas temperaturas e umidade, presentes em países de clima tropical e subtropical. Em comunicado à imprensa, o pesquisador da Embrapa Trigo (RS) e um dos autores do estudo, José Maurício Fernandes, destacou que a doença agora também se apresenta em plantações de locais frios ou com baixa umidade.
O Pyricularia oryzae Triticum, fungo que causa a brusone, ataca tanto folhas quanto espigas. Ou seja, os danos podem chegar a destruir até 100% do trigo afetado por ele. Mas ele também faz "vítimas" entre outros cereais, como o arroz, desde 1600.
Em 2050, cerca de 13,5 milhões de hectares de plantações já poderão ter sido atingidas. Na prática, isto representa uma redução de 13% na produção mundial de trigo e uma perda de 69 milhões de toneladas do grão por ano.
Globalização ainda favorece contaminação. Os esporos do fungo se espalham através do vento ou pelo contato entre sementes e grãos doentes, o que acontece com frequência durante comércio internacional com regiões que já são atingidas pelos surtos. Atualmente, é o caso de outros países da América do Sul, como Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.
Fungo foi identificado no Brasil pela primeira vez em 1985. Na época, ele atingiu lavouras do Paraná, mas rapidamente se disseminou por outros estados como Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e Minas Gerais.
Rio Grande do Sul já sofre com a brusone. Temperaturas mais altas no inverno gaúcho resultaram em surtos da doença na safra de trigo de 2023, que afetaram principalmente a região Noroeste do estado, onde as mínimas estiveram acima de 15ºC.
Brusone pode chegar a (quase) todos os continentes
Só a Antártida, onde não há plantações de cereal, poderá se ver livre do fungo nos próximos anos. Pesquisadores utilizaram o modelo DSSAT Nwheat, da Universidade da Flórida, para analisar o aumento de temperatura, umidade relativa do ar e elevação do gás carbônico na atmosfera desde 1980 a 2010 e estimar o cenário de crescimento da doença entre 2040 e 2070.
Num cenário de mudanças climáticas globais, com aumento de temperaturas e variação do regime de chuvas, o fungo vai encontrar novos ambientes para se instalar.
José Maurício Fernandes, da Embrapa Trigo (RS).
América do Sul verá salto da doença. As áreas de trigo vulneráveis à doença no continente passariam de 5% em 2024 para 30% em 2050.
Atualmente, a brusone já ameaça a 6,4 milhões de hectares de trigo no mundo. Países que já lidavam com o problema, como EUA, México Zâmbia, Etiópia, Quênia e Congo, poderão ter mais lavouras afetadas nos próximos anos. O Uruguai, que teve seu primeiro caso em 2023, também deve ver a expansão do fungo em suas plantações.
Pyricularia oryzae Triticum faria "sua estreia" no Japão, Itália, Espanha e Nova Zelândia. Estes países nunca registraram casos da doença. França, oeste da Austrália e sul da China também podem ser afetados.
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