O que é o 'olho de alfinete' do furacão Milton e por que isso é terrível

Previsto para tocar o solo da Flórida (Estados Unidos) na noite desta quarta-feira (9), o furacão Milton tem impressionado até mesmo especialistas no fenômeno. Na medição do começo desta manhã, Milton era classificado como um furacão de categoria 5, o mais alto da escala Saffir-Simpson, com ventos de quase 300 km/h.

A tempestade deve perder força, mas ainda assim chegar ao continente como um furacão de categoria 4, segundo o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, na sigla em inglês). A estrutura do furacão indica que Milton tem "olho de alfinete".

Olho de alfinete e substituição da parede

Com o avanço e intensificação dos ventos, o furacão Milton formou um pequeno centro. Segundo o meteorologista Payton Malone, o chamado "olho de alfinete" indica que o centro do furacão é visivelmente menor do que o que é geralmente observado no fenômeno. Na última terça-feira (8), o olho do furacão Milton tinha cerca de 12 km de diâmetro e imagens de radares indicavam que o centro era um "olho pequeno e fechado". "O que acontece com olhos pequenos é que, quanto menor eles forem, mais rápido eles podem subir e descer em intensidade", declarou Malone ao portal norte-americano Nola, de Nova Orleans.

[Com olhos pequenos], o furacão pode saltar dramaticamente em qualquer direção. Neste caso, [Milton] está aumentando dramaticamente em ritmo recorde.
Payton Malone, meteorologista dos EUA sobre o furacão Milton

Imagens de satélite mostram furacão Milton se movimentando
Imagens de satélite mostram furacão Milton se movimentando Imagem: Divulgação/NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA)

Furacão é formado por estrutura dividida em três partes. Além do olho em si, que é considerada uma área relativamente calma, há a chamada "parede do olho" e as faixas de precipitação. Estas últimas giram em torno do olho e abrigam nuvens e fortes trovoadas que se movem em espiral, produzindo ventos e, às vezes, tornados. A parede é a área da estrutura mais próxima do centro (olho). À medida que os furacões se intensificam, as paredes dos olhos tornam-se mais estreitas e intensas até atingirem força máxima.

Fenômeno conhecido como "substituição da parede do olho" pode alterar a força do furacão. Enquanto a tempestade está sob as águas, alterações na parede do olho podem modificar o tamanho do olho propriamente dito e provocar um possível enfraquecimento da tempestade. Segundo a rede britânica BBC, o evento acontece com maior frequência em furacões de categorias 3, 4 e 5. O olho pode aumentar ou diminuir de tamanho, e pode haver a formação de paredes duplas.

Alterações na força de Milton podem ser explicadas pelos ciclos de substituição da parede do olho. O NHC informou que, com base em suas observações, o "Milton completou uma reposição da parede do olho" durante a última noite. Após essa substituição, o furacão voltou a atingir a categoria 5, com ventos chegando a 270 km/h.

Ciclos de substituição podem ocorrer diversas vezes durante a passagem de um furacão. Segundo a BBC, a substituição da parede pode levar de 12 a 18 horas ou até dois a três dias para ser concluída. A expectativa dos meteorologistas é que eventuais alterações na parede do olho e no olho enfraqueçam Milton antes de a tempestade finalmente chegar ao continente.

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Furacão tem feito história

Milton ganhou força intensa em menos de 24 horas. A tempestade tropical rapidamente se transformou em uma poderosa tempestade de categoria 5. Na última terça, o furacão provocou ventos de 265 km/h. Segundo os meteorologistas, entre o domingo e segunda-feira, houve aumento de 140 km/h na velocidade dos ventos registrados, intensificada justamente pelo tamanho considerado compacto do olho do furacão.

Milton já é considerada a terceira tempestade de intensificação mais rápida já registrada no Atlântico em 40 anos. Nas redes sociais, o NHC classificou o aumento da força dos ventos como "intensificação explosiva" e uma tempestade "extremamente ameaçadora".

Astronauta gravou, na última terça-feira (08), o furacão Milton a partir da Estação Espacial Internacional
Astronauta gravou, na última terça-feira (08), o furacão Milton a partir da Estação Espacial Internacional Imagem: Reprodução/X/@dominickmatthew

Superfuracões como Milton podem inaugurar categoria. Em estudo publicado em fevereiro deste ano na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS ,a sigla em inglês), cientistas propuseram a criação de uma nova categoria, que classificaria os fenômenos do tipo mais poderosos. A eventual categoria 6, cujos furacões apresentam características impulsionadas pelas mudanças climáticas, reuniria as tempestades mais "monstruosas", segundo a equipe responsável pelo estudo.

Estamos testemunhando furacões que --por qualquer extensão lógica da escala Saffir-Simpson existente-- merecem ser colocados numa categoria totalmente separada e mais destrutiva das tempestades 'mais fortes' tradicionalmente definidas. [O objetivo é] expandir a escala para acomodar ciclones tropicais alimentados pelas alterações climáticas que são qualitativamente mais fortes e mais destrutivos do que as tempestades de categoria 5 convencionalmente definidas
Trecho oficial do estudo publicado na PNAS

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O que pode acontecer nos EUA

Furacão segue em direção à Flórida. Segundo o NHC, é provável que o fenômeno "continue como um grande e poderoso furacão ao atingir a costa do estado, com riscos potencialmente mortais na costa e no interior". A previsão dos meteorologistas norte-americanos indica que o furacão pode causar inundações de até três metros de altura. O fornecimento de energia elétrica também deve ser prejudicado com os ventos trazidos por Milton.

Autoridades solicitaram a evacuação da região. A população que permaneceu em cidades como Tampa está se protegendo com tapumes de madeira e sacos de areia. Hospitais locais também estão se preparando para os fortes ventos que devem atingir a região. A prefeita de Tampa, Jane Castor, emitiu o alerta e afirmou que as pessoas que optarem por permanecer nas regiões em que houve ordem de evacuação "irão morrer".

Comércio tem tido oferta escassa de produtos. Postos de combustíveis e supermercados tiveram enorme procura enquanto os moradores se preparam para a passagem do furacão. Com o alto volume de carros deixando cidades da região, diversos postos de combustíveis estão com tanques vazios. Nos mercados, as prateleiras também estão vazias após as grandes compras feitas pelos consumidores, que buscam estocar alimentos.

Prateleiras vazias em mercado em Fort Myers, na Flórida, na véspera da chegada do furacão Milton
Prateleiras vazias em mercado em Fort Myers, na Flórida, na véspera da chegada do furacão Milton Imagem: JOE RAEDLE/Getty Images via AFP

"Caçadores de furacão" enfrentaram turbulências dentro da tempestade Milton. Veja no vídeo abaixo:

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Milton é o 2º grande furacão no Golfo do México em poucas semanas. No final de setembro, parte do sudeste dos Estados Unidos sofreu as consequências da passagem de Helene, o pior furacão no país desde o Katrina, em 2005. Helene, que atingiu seu ponto máximo como furacão de categoria 4, provocou inundações de grandes proporções e causou pelo menos 226 mortes em seis estados.

Temporada de furacões na região iniciou-se em junho e segue até o fim do novembro. Conforme o Observatório Meteorológico dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), é possível haver entre quatro e sete furacões de categoria 3 ou superior durante o período.

Mudanças climáticas podem fortalecer furacões. O fenômeno se forma com a energia das águas quentes e dos ventos. Segundo a comunidade científica, com o aumento da temperatura dos oceanos provocado pelo aquecimento global, torna-se provável a intensificação rápida das tempestades, o que aumenta o risco de furacões mais poderosos.

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