Salles quer US$ 1 bilhão de ajuda internacional para reduzir desmatamento da floresta amazônica
O ministro brasileiro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse ontem que se o Brasil receber US$ 1 bilhão de ajuda da comunidade internacional, o país poderá reduzir o desmatamento ilegal da floresta amazônica em até 40%.
"Se tivéssemos esse recurso de US$ 1 bilhão (...) a partir de maio e por um período de 12 meses, seria possível se engajar em uma redução de 30% à 40% do desmatamento", afirmou o ministro brasileiro do Meio Ambiente. Segundo ele, o montante serviria para reforçar a vigilância contra a destruição da floresta e, paralelamente, criar uma "alternativa econômica" para as 25 milhões de pessoas que vivem no local.
As declarações de Salles foram feitas em entrevista à agência AFP, depois que os Estados Unidos pediram ao Brasil uma "ação imediata" para alcançar "resultados concretos" contra o desmatamento ilegal. O apelo ocorreu em resposta a uma carta de sete páginas que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), enviou ao presidente americano, Joe Biden, na quinta-feira (15) pedindo recursos para erradicar o problema até 2030 - engajamento do Brasil previsto no Acordo de Paris sobre o Clima, assinado em 2015.
Bolsonaro precisou que o objetivo só pode ser alcançado com recursos importantes e que ele espera contar "com todo o apoio possível" da comunidade internacional, empresas e a sociedade.
Os Estados Unidos, que organizam uma cúpula virtual sobre o clima nos próximos 22 e 23 de abril, com a participação de cerca de 40 países, entre eles o Brasil, saudaram a iniciativa do presidente brasileiro.
"O fato de o presidente Bolsonaro ter confirmado o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal é importante", disse o enviado especial de Joe Biden para a diplomacia climática, John Kerry. "Esperamos medidas imediatas e um diálogo com as populações indígenas e a sociedade civil para fazer com que esse anúncio se traduza em resultados concretos", insistiu o representante de Washington, em uma postagem nas redes sociais.
"Mentira", diz cacique Raoni
O cacique Raoni, internacionalmente conhecido por sua luta em defesa da preservação da Amazônia, chegou a reagir publicamente à carta de Brasília pediu ao presidente dos Estados Unidos para ignorar a promessa de Bolsonaro.
"Ele tem dito muitas mentiras", disse o líder indígena no vídeo divulgado pelo Instituto Raoni ontem (16). "Se este presidente ruim falar alguma coisa para o senhor, ignore-o (...). Ele [Bolsonaro] está querendo liberar o desmatamento nas nossas florestas, incentivando invasões nas nossas terras", acrescentou.
A política ambiental do governo Bolsonaro é frequentemente criticada pelos ecologistas, mas também por vários líderes internacionais. O Brasil já foi alvo de medidas de retaliação no exterior, na tentativa de chamar a atenção para a situação na Amazônia.
Destruição da Amazônia aumentou 9,5%
Desde a chegada do líder da extrema direita brasileira ao poder, o desmatamento e as queimadas no norte do país atingiram níveis preocupantes. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, a destruição da floresta amazônica aumentou 9,5% em relação aos 12 meses antecedentes.
Do lado dos líderes mundiais, o presidente francês, Emmanuel Macron, criticou abertamente a posição do governo Bolsonaro sobre a preservação do meio ambiente. Em setembro passado, antes de ser eleito, Biden também cogitou a imposição de sanções econômicas contra o Brasil se não houvesse uma desaceleração do desmatamento.
Muito mais próximo dos ex-presidente norte-americano Donald Trump que do atual governo democrata dos Estados Unidos, Bolsonaro já indicou que pretende participar da cúpula virtual sobre o clima organizada por Biden na semana que vem. Salles garante que "o Brasil vai obter resultados" na luta contra o desmatamento da Amazônia.
(Com informações da AFP)
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