Demóstenes nega acusações, fala em Deus e diz que "jogou um verde" em Cachoeira
Em depoimento ao Conselho de Ética do Senado nesta terça-feira (29), o senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM-GO) negou todas as acusações de envolvimento em esquemas de corrupção envolvendo o jogo ilegal. Além de comentar diversos pontos do inquérito da Polícia Federal que deu origem às operações Monte Carlo e Vegas, o parlamentar mencionou várias reportagens de jornais, dando sua versão para cada uma delas.
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Dizendo-se vítima de um massacre político, Demóstenes recorreu à religião para descrever sua situação. "Redescobri Deus. Se eu cheguei até aqui, é porque readquiri a fé."
Embora reconheça a relação de amizade com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o parlamentar negou ter ficado com 30% do dinheiro da jogatina ilegal em Goiás, contestando o inquérito da PF. O parlamentar nega ter recebido R$ 1 milhão ou R$ 3 milhões do contraventor.
A ligação com Cachoeira se deu antes de ser tornado público o envolvimento do empresário com irregularidades, segundo Demóstenes.
"Hoje, se sabe o que foi divulgado [sobre o envolvimento de Cachoeira com esquemas de corrupção]. Naquela época, o senhor Cachoeira andava no meio de todos nós em Goiás, ele tinha relacionamento com cinco governadores e vários parlamentares", disse o parlamentar.
Ao comentar a ligação telefônica na qual aparece informando Carlinhos Cachoeira sobre uma suposta operação da Polícia e Ministério Público contra o jogo ilegal, o senador disse que tentou "jogar um verde", isto é, enganar o bicheiro. A ideia, afirmou Demóstenes, era saber se Cachoeira continuava envolvido em jogos de azar.
No depoimento, o senador confirmou que Cachoeira lhe deu um aparelho Nextel e também pagava a conta, que segundo ele nunca ultrapassou R$ 50. Além disso, Demóstenes disse que o bicheiro também pagou os fogos de artifício usados na formatura de sua mulher e um aparelho de som para o seu escritório, mas que nunca foi entregue.
Delta
Entre outras acusações, Demóstenes comentou o relatório do Ministério Público Federal, que diz haver evidências de que o senador atuava como "sócio oculto" da Delta Construções.
"No dia 19 de abril de 2012, em entrevista à jornalista Monica Bergamo, o [empresário e dono da Delta] Fernando Cavendish diz que nunca me viu. Como é que eu posso ser sócio de alguém que eu não conheço?" Demóstenes disse ao Conselho que há uma campanha para "destruí-lo", ao colocá-lo como sócio da empresa. "O sócio oculto da Delta, se tem, não sou eu. Procurem com uma lupa maior."
Demóstenes ainda negou que nunca fez uma reunião na Delta, embora confirmou ter feito duas visitas à empresa, uma delas para devolver um iPad.
Desde 2007, a Delta é líder em repasses de recursos da União, principalmente por tocar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Escutas e relatório do MPF apontam que Demóstenes usou o cargo para negociar um projeto de R$ 8 milhões em favor da empresa.
Depoimento
Demóstenes responde a um processo do Conselho de Ética do Senado que o investiga por quebra de decoro parlamentar. Ele é acusado de mentir aos colegas por ter negado na tribuna que tinha relações com Carlinhos Cachoeira.
A operação Monte Carlo, da Polícia Federal, contém informações que colocam Demóstenes como braço político dos negócios de Cachoeira, também apontado como sócio oculto da construtora Delta na mesma investigação. O senador, que deixou o Democratas para não ser expulso, começou seu depoimento por volta das 10h. Abriu sua fala dizendo viver o pior momento de sua vida. "Pensei nas piores coisas, pensei em renunciar", afirmou.
Trâmite
Nem Cachoeira nem o advogado Ruy Cruvinel, indicados por Demóstenes para depor em sua defesa, aceitaram falar ao conselho. Eles disseram apenas os nomes dos delegados responsáveis pelas operações Vegas e Monte Carlo: Raul Alexandre e Matheus Rodrigues. O relator do processo de Demóstenes, Humberto Costa (PT-PE), terá inicialmente uma semana para elaborar seu relatório. A expectativa dos parlamentares é de que, se for pedida a cassação de Demóstenes no conselho, o plenário decida antes do recesso de julho.
Entenda as suspeitas envolvendo Demóstenes Torres
"Existe esse espaço exatamente para o senador tentar esclarecer o que até agora não teve explicação", disse o relator Costa. "Eu não faço pré-julgamentos e quero confrontar as denúncias com a defesa dele. Vou levar tudo isso em conta."
Adversários de Demóstenes acusam o parlamentar de protelar suas explicações por semanas exatamente para que o clima esfriasse e ele não respondesse diretamente às acusações de envolvimento irregular com Cachoeira. Demóstenes foi chamado a falar na quinta-feira (31) na CPI do Cachoeira.
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