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Delegado diz que Augusto Farias ofereceu R$ 100 mil para ficar livre de acusação de matar irmão

Aliny Gama e Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

08/05/2013 12h53

O delegado Antônio Carlos Lessa acusou em depoimento nesta quarta-feira (8) o então deputado federal Augusto Farias de enviar um intermediário para entregar propina de R$ 100 mil para que seu nome fosse tirado da acusação. Lessa  também negou ter feito uma “proposta indecorosa” ao irmão de Paulo César Farias, Augusto Farias, para que “entregasse” os ex-seguranças e, assim, “ficar livre” de um indiciamento.

“Eu recebi essa proposta [R$ 100 mil] do jornalista Roberto Baia. Havia sido designado pelo secretário de Segurança de Alagoas para a nova investigação do caso, e um dia recebi a visita dele, no carro da Tribuna de Alagoas [jornal de propriedade da família Farias], por volta das 20h, e me pediu uma conversa em particular”, disse Lessa.

“O jornalista era meu amigo, sempre estava na delegacia regional de Palmeira dos Índios. Fomos a um restaurante, em São Miguel dos Campos, e à ele fez a proposta, como portador do grupo Farias, para receber um dinheiro, que o pessoal estava preocupado com o indiciamento, que à época era só especulação. Disse a ele que ficasse tranquilo, que se não tivessem culpa, poderiam dormir tranquilos.”

Augusto foi indiciado pela polícia, ao fim do inquérito, que foi enviado à Procuradoria Geral da República (PGR) --já que o então deputado federal tinha foro privilegiado. A PGR, por sua vez, pediu o arquivamento do caso por falta de provas.

Dois meses depois, o jornalista teria voltado a procurar o delegado. “Continuamos as investigações, e ele voltou a nos ligar. Marcamos outro encontro e botamos dois gravadores. Era a mesma conversa, que eu aceitasse, que a Justiça não ia dar em nada, que aceitasse R$ 100 mil”, afirmou. Houve ainda, segundo Lessa, uma terceira conversa, num restaurante.

“Após um acidente em que morreram cinco policiais, ele me procurou, ofereceu seus sentimentos e disse que precisava conversar comigo de novo. Preocupado em ser vítima desses constantes encontros, de que teria que aceitar essa propina, liguei para a Rede Globo, no Recife, que veio com seus equipamentos para filmar o encontro”, disse o delegado.

“Procurei o Edmílson Miranda [secretário de Segurança à época]. Apresentei a gravação a ele, e ele disse que guardasse. Denunciei o caso e foi instaurado um processo, que foi encaminhado a Justiça”, informou. Segundo a defesa dos réus, o jornalista teria sido absolvido da denúncia, a pedido do próprio MPE (Ministério Público Estadual).

Negativa de acordo

O delegado Alcides Andrade, que também prestou depoimento, negou que tenha feito uma proposta para que Augusto Farias entregasse os seguranças para, em troca, ficar livre do indiciamento.

“Em nenhum momento ocorreu esse fato. Estivemos apenas em um momento com o deputado, e, na ocasião, antes mesmo da gente começá-la, ele apontou para mim, e estou interpelando vocês dois judicialmente, pelas declarações que vêm dando à imprensa. Foi impetrada, e o deputado não logrou êxito. Ele começou o depoimento sob ameaça e, durante o contato com ele, que foi acompanhado pelo advogado da parte, pelo representante do MPE, e a conversa não poderia fluir dessa forma. O diálogo se ateve a questões relativas a perguntas”, afirmou.

O delegado ainda questionou a lacuna de 17 anos para fazer a denúncia. “Por que o advogado pediu para consignar nos autos esse acordo? A gente tinha obrigação de consignar. Só posso entender que é alguma estratégia da defesa”, afirmou. O delegado explicou ainda o porquê indiciamento de Augusto Farias –que acabou não sendo aceita pela Procuradoria-Geral da República, que alegou falta de provas para pedir o arquivamento.

“Eu posso incorrer em erro, pois não esperava ser ouvido e não estudei os autos, e faz 14 anos. O indiciamento foi semelhante ao dos seguranças, ou seja --se não estiver errado-- os pontos são os mesmos, pois tinha uma perícia dizendo que Suzana não efetuou o qualquer disparo”, afirmou.