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Réus e peritos que contestam crime passional fecham depoimentos de júri do caso PC Farias

Aliny Gama e Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

09/05/2013 06h00

O julgamento dos quatro policiais militares acusados de duplo homicídio por omissão na morte de Paulo César Farias e Suzana Marcolino, em junho de 1996, chega ao quarto dia nesta quinta-feira (9), no Fórum do Barro Duro, em Maceió, com os depoimentos de dois peritos que contestam a primeira tese apresentada pela Polícia Civil de Alagoas, de crime passional.

Os trabalhos devem começar às 8h30, com as apresentações dos peritos Daniel Romero Munhoz e Domingos Tochetto, que contestam a versão de que Suzana matou PC e depois se matou, como defenderam cinco peritos em depoimentos nessa quarta-feira (8). Para eles, PC e Suzana foram assassinados naquela madrugada.

Também nesta quinta-feira (9) devem prestar depoimento os quatro réus acusados do crime e que estavam na casa de praia de Guaxuma, na madrugada do dia 23 de junho de 1996, quando o casal foi morto. A previsão é que os debates entre acusação e defesa só devem ocorrer na sexta-feira (9), quando poderá ser dada a sentença dos acusados.

Para o advogado dos réus, José Fragoso, as explicações dos peritos e legistas apontam para crime passional. "Eles mostraram com provas contundentes que Suzana assassinou Paulo César e se matou depois. A conclusão dos peritos de Alagoas e do trabalho da equipe do Badan [Palhares] foi dentro de um conjunto harmônico", disse

Já o promotor Marcus Mousinho criticou o trabalho apresentado por Badan Palhares que, para ele, há 17 anos foi realizado com a suposição que Suzana estava em pé e media 1.68m. "Agora ele apresenta um trabalho baseado com ela sentada, com altura dos glúteos à cabeça. É complicado mudar a base num trabalho novo e não confundir o júri", alegou.

Crime passional

A quarta-feira foi marcada por depoimentos dos responsáveis pela primeira perícia do caso, que atesta para versão de homicídio seguido de suicídio.

Com uma explanação de mais de três horas, o médico legista e professor da Unicamp Fortunato Antônio Badan Palhares, reforçou a tese de que Suzana Marcolino teria assassinado PC Farias e se matado em seguida. Ele foi o responsável pelo primeiro laudo que apontou para crime passional.

Mostrando partes do relatório com provas comprovariam sua tese, Palhares destacou as manchas e o escorrimento de sangue que estavam de acordo com o movimento feito por Suzana com o impacto da deflagração dos tiros feitos por Suzana.

“Não tenho absolutamente dúvida de que houve um homicídio seguido de um suicídio, de acordo com as trajetórias das manchas de sangue”, explicou.

O legista destacou que o corpo de Suzana fez quatro movimentos distintos quando estava caindo em cima da cama ao levar o tiro. “Suzana estava em quatro posições bem claras, além dos respingos formados pelas bolhas de ar que saíam de dentro do pulmão de Suzana.”

Além deles, os peritos Anita Buarque de Gusmão e Nivaldo Gomes Cantuária e os médicos legistas José Lopes Filho e Gerson Odilon também foram unânimes em apresentar como verdadeira a versão de que houve de crime passional, com Suzana Marcolino matando PC e, em seguida, se matando.

Oferta de suborno

Na manhã da quarta-feira (8), o delegado Antônio Carlos Lessa acusou o então deputado federal Augusto Farias de enviar um intermediário para entregar propina de R$ 100 mil para que seu nome fosse tirado da acusação. Lessa também negou ter feito uma "proposta indecorosa" ao irmão de Paulo César Farias, Augusto Farias, para que "entregasse" os ex-seguranças e, assim, "ficar livre" de um indiciamento.

"Eu recebi essa proposta [R$ 100 mil] do jornalista Roberto Baia. Havia sido designado pelo secretário de Segurança de Alagoas para a nova investigação do caso, e um dia recebi a visita dele, no carro da Tribuna de Alagoas [jornal de propriedade da família Farias], por volta das 20h, e me pediu uma conversa em particular", disse Lessa.

Familiares de Suzana também testemunharam

A prima de Suzana Marcolino, Zélia Maria Maciel Souza, disse que, poucos dias antes de morrer, a namorada de PC Farias contou a ela que estava grávida.

"Eu a acompanhei para fazer o exame e ela me disse depois que estava grávida, mas não me deixou ver o exame, ou ouvir no telefone o resultado --ela disse que ia receber esse exame por telefone. Depois que ela morreu eu analisei se ela me omitiu ou escondeu algumas coisas", afirmou Zélia.

A prima de Suzana disse ter tido apenas um contato com PC Farias, e que Suzana disse que iria casar com "um homem rico", mas "pagou caro por sonhar alto."

"Suzana omitiu de mim muito tempo [detalhes de relacionamento], o porquê eu não sei", disse a prima.

A irmã de Suzana Marcolino, Ana Luiza Marcolino da Silva, afirmou em depoimento que o celular e agendas da vítima –que poderia ajudar nas investigações-- nunca foram devolvidos pelos ex-seguranças e familiares de Paulo César Farias. Além disso, os documentos de Suzana foram entregues rasgados. 

“O meu padastro recebeu uma mala pequena, uma frasqueira e alguns documentos pessoais rasgados. Ficou faltando celular, fotos, joias, além de todas as agendas as quais sempre estavam no carro. O celular nunca apareceu”, disse Ana Luiza.

Ela disse ainda que tem certeza que a irmã foi assassinada. "Queria que suavizassem quando falassem dela, porque passa tão mal para as mulheres, dizer que ela era prostituta, o que não é o caso. Ela era solteira, e não pode ser condenada porque era uma jovem que gostava de viver. Confio em vocês, nas pessoas, e digo que ela não merecia ser assassinada, como foi --porque ela jamais se mataria”, disse a irmã de Suzana.