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'Cabeça de Genoino é um grande e disputadíssimo troféu', diz biógrafa de ex-deputado

Com o braço esquerdo levantado em gesto de resistência, o ex-presidente do PT José Genoino deixa sua casa, no bairro do Butantã, na zona oeste de São Paulo, para se entregar à polícia - Eduardo Knapp/Folhapress
Com o braço esquerdo levantado em gesto de resistência, o ex-presidente do PT José Genoino deixa sua casa, no bairro do Butantã, na zona oeste de São Paulo, para se entregar à polícia Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

05/12/2013 06h00

A jornalista e escritora Denise Paraná, autora de uma biografia autorizada do ex-deputado federal José Genoino (PT-SP), disse acreditar que a prisão de seu biografado após condenação no mensalão “tem um valor simbólico enorme”.

“Ele simboliza a esquerda que chegou ao poder. Uma esquerda que agora está indo para o cárcere. Sua cabeça é um grande e disputadíssimo troféu", afirmou Denise, em entrevista ao UOL. A jornalista biografou o petista em “Entre o Sonho e o Poder”, publicado em agosto de 2006 pela Geração Editoral.

Doutora em Ciências Humanas pela USP (Universidade de São Paulo), a escritora também escreveu uma biografia autorizada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), intitulada “A História de Lula, o Filho do Brasil”, texto adaptado ao cinema.

Para contar a história de Genoino, Denise o entrevistou várias vezes ao longo de 2005, justamente o ano em que veio à tona o escândalo do mensalão. A partir daí, tornou-se amiga do ex-deputado e de sua família.

“Passei a conviver com sua família, que é extremamente unida. Acompanhei o julgamento, o cerco da imprensa, todas as dores que eles viveram. Mas eles continuam firmes, unidos”, diz.

Denise afirma que durante a convivência com Genoino sempre o achou tranquilo. “Desde a crise de 2005, nesses últimos oitos anos em que convivi com ele, constatei esta tranquilidade pessoalmente.”

Cronologia da prisão de Genoino

15.nov.2013Genoino se entrega à Polícia Federal em São Paulo Leia mais
16.nov.2013Genoino é transferido para o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília Leia mais
17.nov.2013Segundo relatos de familiares, ele passou mal na prisão Leia mais
19.nov.2013Laudo do IML afirma que Genoino é "paciente com doença grave" Leia mais
21.nov.2013Genoino passa mal e é levado para o Instituto de Cardiologia do Distrito Federal. No mesmo dia, Joaquim Barbosa determina a realização de perícia médica no deputado Leia mais
23.nov.2013Junta médica indicada pelo STF analisa Genoino Leia mais
24.nov.2013Genoino tem alta do Instituto de Cardiologia e vai para a casa de uma filha que mora em Brasília, em prisão domiciliar até uma decisão do STF Leia mais
26.nov.2013Laudo da junta médica indicada pelo STF afirma que não "é imprescindível a permanência domiciliar fixa" Leia mais
27.nov.2013Laudo da junta médica da Câmara dos Deputados, que analisa seu pedido de aposentadoria por invalidez, rejeita pedido de aposentadoria de Genoino e diz que doença não é grave Leia mais

Segundo a biógrafa, Genoino não se abateu mesmo quando decidiu se entregar à Polícia Federal, após o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) determinar sua prisão.

“Minutos antes de sair de sua casa em São Paulo para se entregar na Polícia Federal, Genoino dizia que estava tranquilo porque apenas lutava por causas e sonhos. Estava tranquilo porque tinha a consciência dos inocentes. Posso te certificar de que ele não tem nenhum arrependimento”, diz.

Presidente do PT na época do mensalão, Genoino foi condenado a 6 anos e 11 meses de prisão, em regime semiaberto, pelo crime de corrupção ativa. O ex-parlamentar também foi condenado por formação de quadrilha (2 anos e 3 meses), mas a acusação será reexaminada pelo Supremo em 2014 em função dos embargos infringentes.

Cardiopata, Genoino chegou a ficar alguns dias preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, mas neste momento está recluso na casa de uma filha, também na capital federal, até que haja uma avaliação definitiva sobre como ele deve cumprir a pena.

Na terça-feira (3), o petista decidiu renunciar ao mandato na Câmara dos Deputados para evitar um processo de cassação. A escritora avalia que o petista acertou na decisão. “Genoino não teria o direito à ampla defesa, já que está doente e licenciado.”

Denise conta que em 2005, ao final do processo de entrevistas que fez com Genoino, em meio às denúncias do mensalão, o ex-deputado declarou que “entre o sonho e o poder, prefere o sonho”. “Talvez, por isso, hoje consiga renunciar a seu mandato.”