Corpo de Marisa Letícia é cremado em São Bernardo, em cerimônia reservada
O corpo da ex-primeira-dama Marisa Letícia foi cremado por volta das 17h30 deste sábado (4) no cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo). A cerimônia de cremação foi reservada a familiares e amigos mais próximos.
A caminho do cemitério, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva baixou o vidro do carro para cumprimentar as pessoas que aguardavam a passagem do cortejo. De dentro do prédio onde aconteceu a cremação, ele apareceu em uma porta de vidro e acenou novamente. Ao fim da cerimônia, saiu por uma porta lateral e foi cumprimentar algumas pessoas que o esperavam, embaixo de chuva, em frente ao cemitério.
Marisa Letícia morreu ontem, às 18h57, por complicações decorrentes de um AVC (acidente vascular cerebral) do tipo hemorrágico e depois de ficar dez dias internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Sírio-Libanês. O corpo da ex-primeira foi velado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, também em São Bernardo do Campo, onde ela e Lula se conheceram, em 1973.
Velório teve discurso de Lula e críticas a Temer
O velório começou às 9h, inicialmente restrito à família. Por volta das 10h, foi aberto ao público e prosseguiu até cerca de 15h30. O final do velório foi marcado por um ato ecumênico, aberto pelo bispo emérito de Blumenau (SC), Dom Angélico Bernardino, que fez críticas às reformas propostas pelo governo de Michel Temer. Em seguida, Lula fez um discurso emocionado.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de "facínoras" aqueles que "levantaram leviandades" contra a mulher --ré, ao lado dele, em processos da operação Lava Jato.
Lula chorou, foi aplaudido pelo público e lembrou passagens de seu casamento com a ex-primeira-dama --. "Nós tivemos uma vida extraordinária, uma vida de compreensão."
"Marisa morreu triste porque a canalhice, a leviandade e a maldade que fizeram com ela... Quero provar que os facínoras que levantaram leviandades contra ela tenham um dia a humildade de pedir desculpas", disse Lula, que discursou por aproximadamente 20 minutos.
Bispo critica reformas trabalhista e da Previdência
A fala de Dom Angélico Bernardino teve um tom político. Ele enalteceu a militância da ex-primeira-dama e defendeu a necessidade de a militância atual não esmorecer diante de reformas que sejam prejudiciais ao trabalhador.
"A Marisa Letícia foi uma guerreira na luta a favor da classe trabalhadora. Atentem para as reformas trabalhistas que sejam contra os trabalhadores; a reforma da Previdência, contra pobres e assalariados. É preciso que estejamos atentos", pediu o religioso.
O bispo lembrou, ainda, que Marisa Letícia começou a trabalhar aos 13 anos em uma fábrica e destacou que a crise atual pela qual o país passa "é falsamente atribuída à administração dos dois últimos governos".
Dom Angélico Bernardino é ligado à teologia da libertação, corrente da Igreja Católica que tem entre seus ícones, no Brasil, Frei Betto, que atuou no primeiro governo de Lula.
Lula recebe condolências de políticos
Durante boa parte do dia, Lula e sua família receberam condolências de políticos, sindicalistas e de representantes de movimentos populares.
A ex-presidente Dilma Rousseff chegou ao local por volta das 11h30, mas não falou com a imprensa. Pouco depois das 14h20, ela deixou o local, sob gritos de "Dilma guerreira da pátria brasileira".
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) também esteve no local. Ele chegou pouco antes das 13h, sozinho, e falou rapidamente com a imprensa. "Ela é nossa primeira-dama também. É uma mulher que acompanhou uma trajetória tão expressiva como a de um líder popular como Lula e que deu muita dignidade às funções que exerceu."
Passaram pelo local também os governadores Luiz Fernando Pezão, do Rio, e Fernando Pimentel, de Minas, os ex-ministros Miguel Rosseto, Paulo Vanucchi, Miriam Belchior, Benedita da Silva e Luiz Dulci. Além deles, estiveram presentes Eduardo Suplicy (PT) e Luiza Erundina (PSOL).
Militantes na fila desde a madrugada
Carregando rosas vermelhas e bandeiras do PT e de movimentos sindicais, militantes e simpatizantes chegaram a esperar até uma hora na fila para prestar as últimas homenagens à ex-primeira-dama.
Foi instalado um telão no térreo do sindicato para exibir a cerimônia, ao lado do qual foi colocado um painel em branco, onde as pessoas podiam deixar palavras de conforto para a família e homenagens a Marisa Letícia.
Os primeiros chegaram às 2h, vindos de Sorocaba, no interior paulista. Já havia ido a algum outro velório tão cedo? "Só quando a Hebe Camargo morreu", disse Luciano Gonçalves Porto, 34, diretor do Sindped (Sindicato Estadual das Empresas de Processamento de Dados).
"Eu não estou aqui para ver um corpo. Estou aqui pelo que ela significa, para prestar homenagem a ela, à importância que ela tem para o partido", contou Edir Ribeiro, 65, que convive com sindicalistas desde 1982, quando o marido conseguiu um emprego na Ford.
"Ela sempre foi a companheira que lutou com Lula mesmo em uma época tão difícil como foi a ditadura militar. Sempre esteve do lado dele", comentou o atendente Odair Rosa, que madrugou no local.
Vias próximas ao sindicato foram fechadas. Passaram pelo velório cerca de 20 mil pessoas, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A Polícia Militar não fez estimativa de público.
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