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Prisão de Lula preocupa PT, diz líder do partido; 'estamos vivendo um regime de exceção'

WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

24/04/2017 04h00

Quase duas semanas após a divulgação da lista dos políticos com foro privilegiado que passam a ser investigados na Operação Lava Jato, os partidos políticos ainda tentam se recompor. O PT, um dos mais atingidos ao lado de PSDB e PMDB, observa também um ex-ministro de um governo seu dizer que pode apresentar fatos novos para as investigações e aguarda o depoimento que seu principal membro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deverá prestar à Justiça Federal em Curitiba.

Para o líder do PT na Câmara, o deputado federal Carlos Zarattini (SP), os efeitos da “lista de Fachin” foram mais fortes contra seus adversários. “Essa lista praticamente destruiu o PSDB e o PMDB”, disse ao UOL. Zarattini --que passou a ser alvo de dois inquéritos--, defende que as delações contra membros do PT não apresentam provas.

Por isso, ele diz acreditar que não há razão para que Lula seja preso. “Mas, como nós estamos vivendo um regime de exceção --a Lava Jato tem autorização para fazer o que bem quiser--, nos preocupa, sim”.

Em entrevista ao UOL, Zarattini disse não ver problemas no fato de Antonio Palocci, ex-ministro dos governos de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), elogiar, em depoimento, o juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato, e ainda sinalizar que tem novas provas que poderão dar “mais um ano de trabalho” para os investigadores.

Ao contrário do colega de partido, o líder do PT é um crítico de Moro: “a gente pode esperar qualquer coisa desse juiz”.

Confira, a seguir, os principais trechos:

Em depoimento, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro disse que o ex-presidente Lula pediu para destruir provas. O senhor acredita que esse depoimento complica a situação do ex-presidente, podendo levá-lo à prisão?

Se nós estivéssemos vivendo uma situação jurídica normal no país, com certeza não teria o menor problema porque é uma palavra, sem nenhuma prova. Mas, como nós estamos vivendo um regime de exceção --a Lava Jato tem autorização para fazer o que bem quiser--, nos preocupa, sim. Nós imaginamos que isso pode gerar uma nova arbitrariedade contra o presidente Lula, com acusação de obstrução de Justiça.

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Quais seriam os efeitos da eventual prisão do ex-presidente?

O presidente Lula é uma esperança para milhões de brasileiros. Você vê as pesquisas que o colocam em primeiro lugar em qualquer sondagem eleitoral. [Isso] demonstra que ele é uma esperança para o povo brasileiro. Se você encarcerá-lo ou colocá-lo fora do jogo eleitoral de 2018, pode significar uma revolta muito grande contra o atual sistema. E isso nós não temos previsão de que consequência pode ter. As eleições de 2018 não seriam eleições livres, seriam eleições manietadas pelo Judiciário.

O ex-presidente Lula diz que está “ansioso” e “tranquilo” para prestar depoimento a Moro, em Curitiba. O PT também tem essa sensação?

Acho que o presidente está tranquilo perante as acusações que são feitas contra ele. São acusações que não têm nenhum fundamento, que não têm nenhuma prova. Então, acho que ele está bastante tranquilo para se defender nesse interrogatório. Eu não sei dizer [se vai ser um depoimento tranquilo] porque o juiz Sergio Moro é uma pessoa arbitrária. A gente pode esperar tudo dele.

Líder do PT na Câmara, o deputado federal Carlos Zarattini é alvo de dos inquéritos na Lava Jato - Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados - Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Líder do PT na Câmara, o deputado federal Carlos Zarattini é alvo de dos inquéritos na Lava Jato
Imagem: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

O senhor acredita que Lula possa ser preso nessa ida a Curitiba [em 3 de maio]?

A gente pode esperar qualquer coisa desse juiz. Ele atua sem nenhum critério judicial normal. Então, numa situação normal, eu diria que não existe nenhum motivo para o presidente ser preso. Mas como nós vivemos uma situação de exceção, então isso pode acontecer.

Lula continua aparecendo bem nas pesquisas para a Presidência em 2018. O PT teria algum nome para disputar a eleição além de Lula?

Tem vários outros nomes. Se o presidente Lula não puder ou não quiser ser candidato, tem vários outros nomes. São governadores, foram governadores, prefeitos. Nós estamos trabalhando com a hipótese de que o presidente vai poder disputar. Nós queremos que ele seja candidato. Nós estamos apostando nessa hipótese porque é a maior liderança deste país. [Zarattini não citou nomes de outros possíveis candidatos petistas]

O PT é dependente do ex-presidente Lula?

Não, de forma alguma. O PT é um partido enraizado no país inteiro. É um partido que tem uma ligação com as lutas do povo brasileiro, que são indissolúveis. Então, o PT tem todas as condições de trabalhar, funcionar, existir independentemente do presidente Lula. 

A declaração do ex-ministro Antonio Palocci de que pode apresentar fatos novos à Lava Jato surpreendeu o PT?

Não. Nós não sabemos exatamente o que ele pretende falar, não tem nenhuma pista do que ele pode dizer. Ele está em uma situação muito difícil, preso sem nenhuma prova até agora. Ele deve estar tentando alguma solução para sua prisão.

O senhor acredita que esses fatos novos possam atingir o PT?

Podem atingir o PT como podem atingir muitos outros setores. Porque o Palocci, como ministro da Fazenda, teve relação com os principais grupos econômicos do país, não só com as empreiteiras.

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Como o senhor recebeu os elogios que ele fez ao juiz Sergio Moro?

Acho que ele tratou com deferência o juiz. Não considero que ali houve um elogio, mas uma deferência.

O senhor é alvo de inquéritos por suspeita de recebimento de valores indevidos. Como o senhor recebeu essa notícia?

Um verdadeiro absurdo porque eu acredito que, tanto o procurador-geral da República [Rodrigo Janot], que pediu a abertura do inquérito, como o próprio ministro Fachin [do Supremo Tribunal Federal], não viram os vídeos em que os delatores falaram. Se tivessem ouvido, não teriam aberto o inquérito. E essa situação é a mesma de todos os deputados da bancada do PT. A bancada do PT não tem nenhum deputado que de fato tenha feito qualquer ato de corrupção. Se forem examinadas com acuidade, com isenção essas gravações dos delatores, todos esses pedidos de inquérito serão arquivados com certeza.

Passadas duas semanas da divulgação da lista, quais são os principais reflexos dela na política brasileira? O que mudou desde então?

Essa lista praticamente destruiu o PSDB e o PMDB. Os dois partidos estão absolutamente acéfalos. Não têm nenhuma capacidade de articulação. Nós estamos sentindo isso no Congresso. Principalmente no PSDB, você não tem mais com quem conversar em termos de direção. E o PMDB também [foi] todinho atingido por essas denúncias. E os casos deles são de denúncias que têm provas. São depósitos em contas no exterior com recibo. Então é muito difícil que o Aécio, que o Serra escapem de uma condenação. No PMDB, a mesma coisa, com várias lideranças. Então, nesses casos, me parece que a lista foi fatal.

Mas o PT também não acabou sendo atingido por essa lista?

O PT foi atingido, sem dúvida nenhuma. Mas, como eu disse, olhando as delações, não existe sequer prova, um indício de que houve qualquer ato de corrupção. Os deputados, senadores do PT que foram envolvidos, o presidente Lula, a Dilma, serão retirados dessas denúncias e serão absolvidos se houver um julgamento isento neste país.

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