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"Revoltado", deputado trocado na CCJ acusa partido de vender sua vaga ao governo

Temer: primeiro presidente denunciado durante exercício de mandato

UOL Notícias

Felipe Amorim e Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

10/07/2017 15h37Atualizada em 10/07/2017 17h15

Um dos quatro deputados federais do PR que foram substituídos na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara nesta segunda-feira (10) pelo líder da legenda na Casa, o deputado federal Delegado Waldir (PR-GO) se disse "revoltado" por ter sido trocado, declarou que votaria a favor da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) e acusou o seu partido de vender sua vaga ao governo federal, que teria tentado comprar o seu voto com emendas parlamentares.

“Dois anos e meio nessa comissão como titular e aí eu tomo consciência pela imprensa que eu não presto. Eu não vendo meu voto, não troco por cargos, por emendas. Lixo, lixo de governo”, gritou o parlamentar dentro do plenário da CCJ. “A minha vaga foi vendida ao governo”, declarou Waldir, em entrevista coletiva, em que acusou o líder do PR na Câmara, deputado José Rocha (BA), de cometer uma “covardia” contra ele.

Questionado se o governo lhe ofereceu algo para mudar seu voto, ele disse que "a proposta veio durante a semana". "Mandaram R$ 3 milhões e depois mais R$ 5 milhões [em emendas]", afirmou. "Na quarta-feira da semana passada (5) me ligaram no celular e falaram: 'deputado, foram liberados R$ 3 milhões e qualquer coisa sua. Na quinta-feira, mais R$ 5 milhões de liberação. Presente", ironizou. "Essa conduta é obstrução de Justiça. Um voto aqui é extremamente importante", completou.

Sobre a acusação de que o governo tentou comprar seu voto, Waldir disse não ter sido o único. "Eu sei que nas últimas semanas, houve um caminhão de liberação de emendas. Não é assim que se faz um governo. O governo acabou. Pega o chapéu e vai embora."

Na última sexta-feira (7), questionado pela reportagem do UOL, Waldir, anonimamente, disse que não anteciparia o seu voto justamente para preservar sua vaga na comissão. "Se abrir o voto, amanhã talvez eu não seja mais membro da comissão", declarou. "O governo vem com um rolo compressor para tentar derrubar todos os parlamentares que possam dar voto contrário na CCJ", completou, na ocasião.

"Minha manifestação já em outras oportunidades é contra esse governo corrupto. No dia em que surgiram as gravações [da conversa entre o presidente e o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F] eu já falei 'fora, Temer'", disse o deputado, que anunciou que votaria contra "uma organização criminosa que está no poder".

Ele afirmou ainda não se interessar por "barganhas e negociatas". "Isso na política é nojento", declarou. Waldir disse estar revoltado por ter sido substituído "sem justificativa". "Eu acabei de chegar de Goiânia, vim direto para a comissão. Hoje é segunda-feira, eu sou membro titular, extremamente ativo", afirmou o parlamentar.

Além de Waldir, o PR retirou outros três deputados que eram membros titulares da comissão: Jorginho Mello (SC), Marcelo Delaroli (RJ) e Paulo Freire (SP). Nos seus lugares, foram nomeados Bilac Pinto (MG), Laerte Bessa (DF), Magda Mofatto (GO) e Milton Monti (SP).

O deputado Major Olímpio (SD-SP) se exaltou ao comentar as trocas de integrantes na CCJ por partidos aliados a Temer e chegou a chamar a atitude de "criminosa".

Segundo Olímpio, os deputados membros da CCJ foram "comercializados criminosamente". Nesse momento foram ouvidas algumas vaias no plenário da comissão e Olímpio reagiu: "Quem está vaiando também está recebendo pra vaiar. Criminosos. Criminosos!", respondeu, aos gritos.

Olímpio também perdeu a vaga de titular na CCJ, por ordem de seu partido, o Solidariedade. O líder do partido, deputado Áureo (SD-RJ), negou que a troca tenha relação com a votação da denúncia contra o presidente.

Procurado pelo UOL, o Palácio do Planalto disse que não iria comentar as acusações .

Líder do PR confirma que orientação é pró-governo

Ao ser questionado pela reportagem sobre as declarações de Waldir, o líder do partido na Casa partiu para o ataque contra o correligionário.

"Eu só queria que você perguntasse a ele o cargo que ele recebeu do governo na SPU/GO (Superintendência do Patrimônio da União em Goiás) para saber se ele se vendeu", disse o líder, que em seguida afirmou não ter mais informações sobre o assunto.

Sobre a afirmação de Waldir de que foi informado apenas pela imprensa, nesta segunda, Rocha disse que o deputado "está mentindo". "Ele foi avisado por mim ontem [domingo], por telefone. Ele ficou de se encontrar comigo hoje aqui na Casa para conversarmos pessoalmente, e ele não apareceu", declarou.

As trocas, segundo Rocha, teriam ocorrido porque os agora ex-membros "não se sentiam confortáveis em votar contra a denúncia". "Os próprios solicitaram a troca, inclusive ele [Waldir]. Numa reunião que teve comigo na liderança, ele disse que se ele não se sentisse confortável em votar, pediria para sair. Logo, eles pediram", afirmou o líder do PR.

Apesar de dizer que o PR não fechou questão contra a denúncia, ele declarou que os substitutos "não podem" votar de forma diferente, porque entraram [na comissão "já com esse objetivo".

Temer denunciado

Temer foi denunciado pelo crime de corrupção pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

Para que o processo tenha seguimento e o presidente seja julgado perante o STF (Supremo Tribunal Federal) é preciso que primeiro os deputados deem aval ao processo.

Depois de passar pela CCJ, a denúncia da PGR segue para o plenário da Câmara, onde precisa do voto favorável de ao menos 342 dos 513 deputados.

A votação na Câmara determina apenas a autorização para que o Supremo julgue o presidente, e não representa, em tese, um juízo de culpa sobre se ele de fato cometeu o crime.

Caso o prosseguimento do processo seja aprovado pela Câmara, os 11 ministros do STF ainda precisam analisar se recebem a denúncia da Procuradoria contra Temer. Se aceita, este faria com que Temer se tornasse réu pelo crime de corrupção e o deixaria afastado do mandato por 180 dias ou até o julgamento do processo pelo Supremo.

Caso a ação não seja julgada em 180 dias, o presidente retoma o cargo, mas o processo continua sua tramitação no Supremo.

No período de afastamento, assume a Presidência da República o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).