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Odebrecht garantiu sigilo a empresário sobre terreno supostamente comprado para Instituto Lula

Imagem de 2016 do terreno supostamente destinado ao Instituto Lula pela Odebrecht - Adriano Vizoni - 20.dez.2016/Folhapress
Imagem de 2016 do terreno supostamente destinado ao Instituto Lula pela Odebrecht Imagem: Adriano Vizoni - 20.dez.2016/Folhapress

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

04/07/2018 19h55

O empresário Marcelo Odebrecht garantiu "sigilo total" ao dono de uma construtora suspeita de atuar como laranja na compra de um terreno supostamente destinado ao Instituto Lula, diz um e-mail anexado ao processo da Operação Lava Jato que trata do imóvel. O instituto nunca ocupou o local, na zona sul de São Paulo.

"Prédio: Sigilo total. Fora as pessoas da OR envolvidas, ninguém mesmo da casa sabe", escreveu Marcelo em 22 de setembro de 2010 a Demerval Gusmão, dono da construtora DAG. OR é a sigla da Odebrecht Realizações Imobiliárias. Em e-mails de Marcelo Odebrecht, a compra do terreno era tratada como "prédio institucional" ou "prédio instituto".

No dia seguinte, Gusmão enviou um e-mail ao empreiteiro dizendo estar "bem atento" para sua segurança. "Realmente tem muito curioso na casa... Tudo deu certo e com o máximo de segurança muito devido ao Paulo -- fiquei sempre confortável", escreveu. 

Segundo a acusação feita pelo Ministério Público Federal, a aquisição do imóvel serviu como pagamento de propina da Odebrecht ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em troca, ele teria atuado para beneficiar a empresa em contratos com a Petrobras. A defesa do ex-presidente nega que ele tenha recebido qualquer recurso ilícito e que ele tenha pedido ou recebido qualquer imóvel para o Instituto Lula.

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Demerval Gusmão, dono da construtora DAG
Imagem: Reprodução - 6.set.2017/Justiça Federal do Paraná

À Justiça, Gusmão confirmou que comprou o terreno em 2010 a pedido da Odebrecht, mas que só depois ouviu de Marcelo que o imóvel seria destinado ao Instituto Lula.

"Paulo" seria Paulo Melo, executivo da OR e também réu no processo. Em seu interrogatório, Melo disse não ter conhecimento de que a compra do terreno serviria como vantagem indevida e afirmou que a transação "seria a forma mais estúpida para se pagar uma propina".

Os e-mails fazem parte de uma série de mensagens encontradas em um computador de Marcelo Odebrecht que, segundo a defesa do empresário, comprovariam o uso de uma "conta corrente" de propinas na compra do terreno.

As conversas entre Marcelo e Demerval Gusmão foram incluídas na ação penal a pedido da defesa do empresário Glaucos da Costamarques, outro réu do caso. Também respondem ao processo o ex-ministro Antonio Palocci; Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci; e o advogado Roberto Teixeira, amigo de Lula.

Outro lado

A reportagem telefonou para o escritório dos advogados de Demerval Gusmão, mas não conseguiu falar com eles. As defesas de Odebrecht, Lula, Paulo Melo e Roberto Teixeira também foram procuradas para comentar o conteúdo dos e-mails, mas não haviam respondido até a publicação deste texto. 

A defesa de Antonio Palocci disse que vai se manifestar nos autos do processo. Já a de Branislav Kontic declarou que ainda não leu as mensagens e, por isso, não vai comentar o assunto neste momento.