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Esquema de lavagem da H.Stern deu 'salto de qualidade' com venda de joias a Cabral, diz Lava Jato

Foto:  Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Imagem: Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

03/08/2018 12h28

O esquema de lavagem da H.Stern identificado na Operação Hashtag, realizada nesta sexta-feira (3) pela força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro, deu um "salto de qualidade" para incorporar o robusto volume de recursos gerados pelas compras de joias e pedras preciosas feitas pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB), segundo investigações do Ministério Público Federal.

De acordo com o procurador da República Almir Teubl Sanches, o ex-chefe do Executivo fluminense --cujas condenações na Lava Jato somam mais de 120 anos de prisão-- contribuiu com ao menos R$ 6 milhões dos mais de R$ 90 milhões ocultados pela H.Stern a partir de transações feitas pelo banqueiro Eduardo Plass, preso hoje pela Polícia Federal. Plass, que foi presidente do Banco Pactual entre 1997 e 2003, é o principal alvo da Operação Hashtag --duas sócias dele também foram presas pela PF por suspeita de participação no esquema.

"Com o Cabral, o negócio deu um salto de qualidade na lavagem", disse Sanches.

"A gente já conseguiu identificar R$ 6 milhões [gastos pelo ex-governador]. Pode ser mais também. Estamos com a investigação em curso. Pode parecer pouco, mas se você pensar que era um cliente individual, é disparado o maior. No curso da investigação, a gente vai descer às minúcias e identificar quem são os clientes, mas o Cabral é o maior em volume, sem sombra de dúvida."

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Em março, Cabral foi condenado a 13 anos e quatro meses de prisão por lavagem de dinheiro através da compra de joias na H.Stern. O MPF acusou o ex-governador de ter ocultado R$ 4,5 milhões, recebidos como propina, por meio da compra de joias na H.Stern.

No mês seguinte, foi divulgado que a direção da joalheria fechou acordo de delação premiada com o MPF. Na ocasião, foi informado que Cabral e sua mulher, a advogada Adriana Ancelmo, compraram cerca de 40 peças da H.Stern, num total de R$ 6,3 milhões.

A partir da operação de hoje, a Lava Jato informou que Plass lavou dinheiro da H.Stern entre 2009 e 2015 utilizando o banco do qual é proprietário, o TAG Bank. Diretores da H.Stern recebiam dinheiro em espécie na venda de produtos a Cabral e outros clientes, e posteriormente repassavam esse ativo a offshores de Plass.

O banqueiro movimentava os recursos por meio de outras offshores até que eles chegavam à conta da holding internacional que administra o grupo H.Stern. Sanches explicou que, em princípio, os administradores da H.Stern no exterior não sabiam que o dinheiro era de fonte ilícita. Disse ainda que os valores eram utilizados para equacionar contas de lojas no exterior.

"A H.Stern tinha algumas lojas fora e que eram deficitárias. Para a empresa, fazia sentido manter [o dinheiro fora do Brasil]. Eles usavam esse dinheiro para alimentar as lojas no exterior."

Plass, que também é dono da gestora de recursos Opus, tem residência em Londres e vinha pouco ao Brasil. Por esse motivo, ele foi monitorado pela PF a partir da chegada ao país, em 18 de julho. Ele já havia comprado passagem para ir a Miami em outubro, de acordo com a Lava Jato.

Entre 2009 e 2015, estimam os procuradores da força-tarefa, foram lavados mais de R$ 90 milhões. O MPF pediu à Justiça o bloqueio desse valor e mais R$ 90 milhões por danos morais, totalizando R$ 180 milhões.

A operação Hashtag foi deflagrada com base em informações repassadas por diretores da H.Stern que firmaram acordo de delação premiada com o MPF após envolvimento no esquema de lavagem de Cabral em outras investigações da Lava Jato.

Plass já havia sido conduzido coercitivamente, no ano passado, em operação que investigava ocultação de mais de US$ 100 milhões de Cabral.

Outro lado

O UOL procurou o advogado de Sérgio Cabral, Rodrigo Roca, sobre a acusação de que o ex-governador teria contribuído com ao menos R$ 6 milhões dos mais de R$ 90 milhões ocultados pela H.Stern.

"Ele [Cabral] foi condenado por isso. E a operação de hoje deixou clara a injustiça da sua condenação também nesse ponto, porque demonstrou que empresas lenientes e delatores mentiram sobre fatos que, apesar de lhes terem rendido benesses, foram injustamente usados como prova para a condenação do ex-governador", argumentou Roca.

Para o defensor, a partir da operação desta sexta, é possível que apareçam joias e valores atribuídos "injustamente" a Cabral. Preso desde novembro de 2016, Cabral responde a 25 processos na Justiça Federal.

"A operação de hoje foi o primeiro grande passo para se comprovar que os bons moços que se arvoraram em delatores nos processos julgados até o momento são, em verdade, oportunistas que trocaram benefícios por mentiras.", completou Roca.

A reportagem também entrou em contato com o escritório da Opus, no Rio de Janeiro, em busca da defesa de Plass e aguarda posicionamento. 

A H.Stern informou que a empresa não se manifesta à imprensa sobre o assunto.