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"Parcial" e "patrimônio moral": o que disseram políticos após o anúncio de Moro

01.nov.2018 - O juiz federal Sergio Moro após reunião com Jair Bolsonaro no Rio - Silvia Izquierdo/AP
01.nov.2018 - O juiz federal Sergio Moro após reunião com Jair Bolsonaro no Rio Imagem: Silvia Izquierdo/AP

Eduardo Lucizano, Luís Adorno e Luciana Amaral

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

01/11/2018 12h55Atualizada em 01/11/2018 13h49

Após o anúncio oficial de que o juiz federal Sergio Moro assumirá o Ministério da Justiça do governo Jair Bolsonaro (PSL), o PT afirmou que, ao aceitar, o magistrado "mostra sua parcialidade". Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador eleito de São Paulo, João Doria, (ambos do PSDB) fizeram elogios ao juiz da Operação Lava Jato em Curitiba.

O juiz se reuniu na manhã desta quinta-feira (1º) com presidente eleito e, depois de deixar a residência, divulgou nota em que afirma que se sente honrado com o convite e que pretende, como ministro, "consolidar os avanços contra o crime e a corrupção".

Chamada de "superministério", a pasta vai somar as estruturas da Justiça, Segurança Pública (inclusive a Polícia Federal), Transparência e Controladoria-Geral da União, além do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), este último hoje ligado ao ministério da Fazenda.

A presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, ironizou. "O presidente em questão falou que Lula vai apodrecer na cadeia e quer exterminar os vermelhos. Viva juízes isentos como Moro e presidentes democráticos como Bolsonaro", escreveu no Twitter. 

Gleisi usou a escolha de Moro para reforçar a tese de que o magistrado agiu politicamente nos casos relacionados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para a presidente do PT, Moro "ajudou a eleger" Bolsonaro ao condenar Lula, o que gerou a inelegibilidade do petista. "Ajudou a eleger, vai ajudar a governar", disse Gleisi.

No início da tarde, Fernando Haddad, candidato derrotado do PT à Presidência, afirmou que "se o conceito de democracia já escapa à nossa elite, muito mais o conceito de república". O professor disse, também, que "o significado da indicação de Sérgio Moro para Ministro da Justiça só será compreendido pela mídia e fóruns internacionais".

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Já o perfil de Lula, condenado em primeira instância pelo juiz, publicou no microblog uma capa do jornal "O Estado de S.Paulo", em que, numa entrevista concedida em 2016, Moro afirmava que nunca entraria na política. 

O senador petista Lindberg Farias (RJ) afirmou que a ação de Moro de tirar Lula da disputa eleitoral para, depois, se aliar a Bolsonaro foi "um escândalo". "Poucas coisas podem ser mais descaradas do que isto. Sempre alertamos que Moro atuava como militante, e não como magistrado. Depois de interferir no processo eleitoral, vira ministro do candidato beneficiado por ele. Em qualquer lugar do planeta, isso seria um escândalo", disse.

O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) chegou a pedir, na mesma rede social, que os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) anulem a condenação do Lula e concedam a ele a liberdade. "As razões da prisão sem provas foram escancaradas: Moro aceita convite para exercer o cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro", escreveu.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) também criticou. "É antiético o juiz ter benefício político de suas sentenças. Moro prendeu Lula, impediu habeas corpus e barrou sua candidatura. Será ministro de quem foi favorecido por isso", escreveu.

Guilherme Boulos, que disputou a Presidência pelo PSOL, também criticou a nomeação: "Sergio Moro resolveu assumir sua condição de político profissional. Não há problema algum em um juiz deixar a magistratura para fazer política. O problema é ter passado alguns anos fazendo isso vestido de toga. Mais do que nunca, suas decisões estão colocadas sob suspeição", escreveu.

Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez elogios ao juiz federal e afirmou que deseja que ele seja um bom ministro. "Homem sério. Preferia vê-lo STF, talvez uma etapa. Fusões de ministérios sim, com prudência. Já vimos fracassos colloridos", escreveu. "Torço pelo melhor, temo que não, sem negativismos nem adesismos. A corrupção arruína a política e o país. Se Moro a combater ajudará o país", complementou o ex-presidente tucano.

O governador eleito pelo PSDB em São Paulo, João Doria, também comemorou a nomeação de Moro. No Twitter, compartilhou a notícia, com um emoticon de mãos em oração e uma bandeira do Brasil.

Em nota enviada à reportagem, Doria afirmou que "Sergio Moro é um patrimônio moral do Brasil. Ter o juiz Moro como Ministro da Justiça dignifica o governo Bolsonaro e sinaliza um novo caminho de transparência e verdade na política brasileira."

Futuro ministro da Casa Civil parabeniza Moro

O futuro ministro-chefe da Casa Civil, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), afirmou estar muito feliz com o anúncio de Moro, de quem se disse amigo desde 2005 e a quem admira.

“Creio que toda a sociedade brasileira está muito feliz por ter uma pessoa da qualidade do Moro tratando não apenas de toda a área da Justiça, da Segurança Pública e, principalmente, trazendo o combate à corrupção que sempre foi o grande câncer da relação do poder público brasileiro com a área econômica do país”, falou.

Do gabinete na Câmara, Lorenzoni telefonou a Moro para lhe dar os parabéns e disse que o governo de Bolsonaro dará todo o respaldo necessário ao seu trabalho. Embora tenham mantido conversas na última semana, ele negou que as negociações para Moro assumir o superministério estivessem em curso durante a campanha.

“Venho conversando com ele desde a semana passada. Nós vamos conversar sobre a estrutura que vai debaixo do comando dele e ele vai claramente receber do governo todo o respaldo, todo o apoio para que faça um combate implacável contra a corrupção”, declarou.