Gleisi rebate críticas de partidos: "Nunca dissemos que PT iria liderar oposição"
O fim da eleição de 2018 deu início a uma nova disputa: quem vai comandar o bloco de oposição ao futuro governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL)? Críticas à antiga hegemonia do PT e a uma eventual tentativa do partido de se colocar à frente dos outros, siglas como PDT e PSB já se mobilizam para montar uma frente de centro-esquerda. Para Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores, porém, as críticas à legenda são infundadas.
“Não sei de onde que surgiu essa ideia [de o PT comandar o bloco]”, disse a senadora e futura deputada federal em entrevista ao UOL concedida na tarde desta segunda-feira (12), em Curitiba. “Nós nunca dissemos que queríamos liderar a oposição”.
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Nos últimos dias, lideranças de PDT, PSB e PCdoB têm se reunido para discutir a formação de uma frente de oposição. Líderes dos partidos já declararam que querem fazer contestações à administração de Bolsonaro sem “hegemonias”.
Segundo Gleisi, as pautas que serão apresentadas para discussão pelo Congresso e pelo governo é que devem formatar o “movimento na política”.
Nós do PT vamos fazer um esforço muito grande para estarmos junto com aqueles partidos e movimentos que vão se colocar contrários à regressão de direitos, aos ataques à democracia, à estimulação da violência. E não temos nenhuma pretensão de sermos hegemônicos ou coordenar processos
Gleisi Hoffmann, presidente do PT
Na avaliação de Gleisi, a bancada formada pelo PT no Congresso --com 57 deputados e seis senadores— e os 47 milhões de votos obtidos pelo presidenciável derrotado Fernando Haddad, no segundo turno, colocam o partido como uma força, tendo um “papel a desempenhar”. Mas ainda assim, ela reitera: “Nunca, nem ele [Haddad], nem nós, nos colocamos ou colocamos a ele como líder da oposição. Nós queremos ajudar a construir essa oposição”.
O partido só deve definir sua atuação no futuro governo a partir de 2019 em reunião ampliada da Executiva Nacional do partido, marcada para os dias 30 de novembro e 1º de dezembro, em Brasília.
A senadora criticou a postura de Ciro Gomes, que disputou o Planalto pelo PDT e tem mostrado a intenção de liderar o bloco de oposição a Bolsonaro. “Qualquer um que pretenda ser líder tem que construir. A liderança é um processo de construção, não é de querer”.
Para Gleisi, o pedetista “com certeza vai ter um papel importante” na oposição. “Não sei se ele vai ser o líder da oposição. Liderança se constrói”.
Negociação na Câmara, sim; com Bolsonaro, não
Segundo Gleisi Hoffmann, o PT não deverá indicar candidatos para disputar a presidência da Câmara. Ela explica que o partido, mesmo com o apoio de outras siglas da esquerda, não teria votos o suficiente para vencer a disputa.
A senadora afirmou que a sigla deve buscar apoiar uma candidatura que vise a mediação e não teme que a presidência da Casa seja ocupada por algum deputado alinhado a Bolsonaro.
“A presidência do parlamento geralmente fica com pessoas que tendem a ter papel mais de encaminhar as questões de interesse do governo. Nós tivemos vários presidentes da Câmara e do Senado que fizeram isso, mas que respeitavam a oposição. Que colocavam as pautas da oposição para debate, que não permitiam perseguição da oposição”, comentou.
Gleisi indicou, porém, que não acredita em um diálogo direto entre Bolsonaro e o PT. “Ele [Bolsonaro] quer nos exterminar. Corro o risco de sair morta de lá [local de um encontro com o presidente eleito]”.
Haddad pelo Brasil e a presidência do PT
O capital político construído por Fernando Haddad será explorado pelo PT para construir a oposição a Bolsonaro. A avaliação é que o ex-prefeito paulistano conseguiu ampliar o diálogo fora do partido. Por isso, os petistas irão estruturar uma equipe para o candidato derrotado.
“O partido vai dar a ele todas as condições para viajar, percorrer o Brasil”, apontou. “Acho que o papel do Haddad é exatamente esse, de conversar com os partidos, conversar com as pessoas, conversar com os movimentos, com os juristas, os artistas, com a sociedade civil organizada. Sentir como as coisas estão e ajudar nessa frente ampla de resistência e de defesa da democracia”.
Haddad, porém, não deverá assumir nenhum cargo dentro da estrutura partidária. Segundo Gleisi, em conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Superintendência da PF (Polícia Federal) em Curitiba na semana passada, o ex-prefeito indicou que ter uma posição no PT não seria a melhor forma de ele atuar para agregar posições fora do partido. “Acho que ele tem razão”, comentou a senadora.
Mas não está descartada a possibilidade de Haddad vir a assumir a presidência do PT. “O Haddad, se quiser ser presidente, ele tem legitimidade e vou defender isso. Até pelo tamanho dele, pela importância política”, disse a deputada eleita. A direção do partido será renovada em julho. E Gleisi, atual presidente, diz que ainda não sabe se irá pleitear a renovação de seu mandato. “Nós não conversamos sobre isso. Não faço nenhuma questão de disputar”, disse.
Eu quero estar junto com o PT, não precisa ser na presidência nem na direção, para defender o partido. Nós precisamos fazer uma campanha de resgate da imagem do PT
Gleisi Hoffmann
Para a senadora, é importante, agora, o partido desconstruir o ódio do qual seria alvo, na sua opinião. “O PT não pode sair como um partido odiado, como está sendo construído agora. Veja, o ódio é uma construção. Construíram o ódio aos judeus, o ódio aos negros, tão construindo um ódio ao PT. Por que tanto ódio ao PT?”, questiona.
Independentemente do que acontecer, Gleisi pontua que o partido não irá abrir mão de defender o ex-presidente Lula --“jamais deixaremos de lado essa pauta”--, que continuará sendo peça central no PT. “O Lula vai continuar tendo centralidade para o partido esteja onde estiver. Ele tem uma dimensão histórica. Então, vai ter sempre essa centralidade. E nós temos o desafio de fortalecer o PT”.
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