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Posse de Jair Bolsonaro

Hostilidade e maçã barrada: restrições à imprensa dão a largada na posse

Gustavo Maia, Antonio Temóteo e Marina Motomura

Do UOL, em Brasília

01/01/2019 10h54Atualizada em 01/01/2019 14h29

Às 7h30 da manhã deste 1º de janeiro, dezenas de jornalistas se aglomeravam no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em Brasília, onde funcionou o governo de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), à espera do transporte que os levaria para a cobertura da posse do novo mandatário.

Era a largada da "maratona" da imprensa para a cobertura dos eventos da posse, que só começam oficialmente às 14h45, na Catedral Metropolitana.

A concentração precoce, no entanto, foi apenas a primeira barreira enfrentada pelos cerca de 600 jornalistas credenciados para a posse.

Ainda no CCBB, os jornalistas passaram por detector de metais, e os pertences foram escaneados em um aparelho de raio-X. O cerimonial da posse chegou a divulgar que mochilas seriam proibidas até mesmo para a imprensa, mas acabou recuando.

Ao contrário do que ocorreu em outras posses, o acesso dos jornalistas aos locais por onde o presidente passará foi terceirizado --todos os profissionais tiveram que ir primeiro ao CCBB, onde entraram em ônibus que os levaram aos locais onde ocorrem os eventos.

No entanto, várias outras restrições foram mantidas. O cerimonial orientou que os jornalistas trouxessem comida acondicionada em sacos plásticos transparentes, já que dentro do Congresso as lanchonetes e restaurantes não estão funcionando, e, do lado de fora, a presença de vendedores ambulantes foi proibida.

Mas alguns profissionais foram surpreendidos ao terem itens de alimentação barrados. No CCBB, um repórter foi impedido prosseguir com uma maçã que levava na mochila --os seguranças justificaram que só poderia seguir com a fruta se ela estivesse fatiada. Um outro profissional teve um garfo confiscado.

Assessores da Secretaria de Comunicação do Planalto da gestão do presidente Michel Temer (MDB) informaram que a proibição de "frutas redondas" e inteiras como maçãs, pêras ou laranjas ocorreu para evitar que elas fossem arremessadas na direção do Planalto.

Na chegada ao Congresso Nacional, nova fila --e, novamente, raio-X e detector de metais para entrada no prédio.

O cerimonial também proibiu que a imprensa levasse garrafas d'água na mochila, prometendo que haveria bebedouros distribuídos pelo Congresso. No entanto, há poucos bebedouros no Congresso, restritos a alguns locais.

O deslocamento entre os diversos setores por onde o presidente e sua comitiva passarão pela Esplanada foi proibido, assim como o trânsito dentro de um mesmo prédio.

Jornalistas designados para cobertura no Salão Verde da Câmara dos Deputados, por exemplo, só podem circular dentro desta área --até mesmo o acesso ao comitê de imprensa, área onde os jornalistas costumam trabalhar no Congresso, foi bloqueado.

Na praça dos Três Poderes, jornalistas credenciados para trabalhar no local foram recebidos aos gritos de "Globo lixo" pelo público de apoiadores de Bolsonaro presentes no local.

Os eleitores gritavam "queremos a Record" e elogiavam o SBT. Nesta segunda-feira, Bolsonaro deu uma entrevista exclusiva à TV Record, emissora que já vinha privilegiando desde a campanha eleitoral.

Minutos depois da recepção aos jornalistas, carros da Polícia Federal e da Polícia Militar do Distritos Federal passaram pela via diante da praça dos Três Poderes e foram ovacionados pelo público. De dentro do veículo da PF, um agente acenou e filmou os presentes.

Para acessar o espaço, os apoiadores têm que passar pela última das barreiras de revista.

Às 10h20, seis horas antes do horário previsto para a chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto, centenas de pessoas já se apertavam para tentar conseguir um lugar perto da grade mais próxima à edificação.

A maioria deles veste roupas amarelas, e boa parte trouxe bandeiras do Brasil.

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