Fazendeiros do Vale do São Francisco investem em frutas para exportação
Nas últimas quatro décadas, o Vale do São Francisco, em especial Petrolina (PE), tem se destacado na produção de frutas no semiárido nordestino. Embalados pela água do "Velho Chico" e por novas tecnologias de irrigação, combate às pragas e manejo de cultivos, os fazendeiros da região têm conseguido boas safras constantemente. Agora, além do mercado nacional, miram a exportação.
No ano passado, 14% do total de uvas e 19% das mangas produzidas no local atravessaram as fronteiras brasileiras rumo à Europa, Ásia e aos Estados Unidos.
Uma das principais produtoras do Vale, a Agrobras atende o mercado nacional, mas hoje tem como foco a exportação para Estados Unidos, União Europeia, Japão e Coreia do Sul. Na Inglaterra, por exemplo, as frutas são compradas pelas redes de supermercados Tesco, Sainsbury's e Waitrose -- este último tem preço e qualidade "premium".
O diretor da empresa, o engenheiro agrônomo Sílvio Medeiros, afirma que a carga é transportada tanto de navio quanto de avião para o exterior. O aeroporto de Petrolina conta com dois voos semanais de um avião cargueiro - Boeing 747-8F - para Luxemburgo. Em cada viagem, a aeronave consegue levar cerca de 140 toneladas de produtos.
Quando por via marítima, as cargas de frutas são transportadas do Vale do São Francisco em caminhões com contêineres refrigerados até chegar em portos no Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia. De lá, a travessia para a Europa pelo Atlântico costuma durar uns 15 dias.
Alguns contratempos, na sua avaliação, são as exigências fitossanitárias dos importadores e a burocracia do governo brasileiro. No entanto, a rentabilidade faz valer a aposta.
Embora a manga ocupe mais espaço territorial, 700 hectares da fruta contra 350 hectares de uva de mesa -- de consumo in natura e não utilizadas para fabricação de vinho--, as últimas são mais rentáveis. Quando para a Europa, cada caixa de uva tem 5 kg e é vendida entre 10 a 12 euros. A de manga tem 4 kg e varia entre 2,5 e 9 euros.
Por outro lado, as uvas são mais delicadas e precisam de manutenção constante. A supervisora do departamento de embalagem e conservação de uma das fazendas da Agrobras, Neilma Oliveira, explica que, após colhidos manualmente no parreiral - somente uvas para vinho têm sistema automatizado de retirada -, os cachos são lavados e selecionados.
Isso porque algum bago pode estar estragado ou bicado por pássaros. Se uma fruta apodrecida estiver embalada, pode acelerar o vencimento das demais e justificar a recusa da carga por parte do comprador. Depois da certificação, os cachos são embalados e etiquetados.
A fim de se manterem conservadas, as uvas ficam por oito horas em uma sala de pré-esfriamento. De lá, são armazenadas em câmaras frias a 0ºC até serem transportadas ao comércio. Cada câmara fria consegue suportar de 600 kg a 1 tonelada de uvas.
Seguindo o preceito de que tudo pode e deve ser aproveitado, bagos descartados por questão estética, mas em bom estado de conservação, são vendidos para vinícolas da região e ajudam na fermentação dos vinhos.
No auge da safra da uva, em setembro e outubro, quando o inverno não possibilita a produção da fruta no hemisfério norte, a fazenda chega a contar com 2,5 mil funcionários. Nas demais épocas do ano, são 1,6 mil colaboradores.
A água que irriga as plantações é proveniente da barragem de Sobradinho (BA), represada do rio São Francisco. Segundo Sílvio Medeiros, a água é de excelente qualidade e basta passar por uma filtração para a retirada de resíduos sólidos antes de ser levada ao campo por meio de tubulações. Na fazenda, a tecnologia dos sistemas de irrigação é fornecida por empresas israelenses.
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