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Em dias de protestos, governistas foram menos ativos na web que opositores

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

28/05/2019 04h00

A atividade na internet de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) no domingo, dia em que foram às ruas defender reformas de interesse do governo, foi menor que a dos opositores da atual gestão no dia 15, quando houve protestos contra os cortes nas universidades federais. O levantamento, exclusivo do UOL, foi feito pela plataforma de inteligência de dados Torabit.

A comparação expõe uma dinâmica diferente da que houve nos dois grupos nos dias anteriores às respectivas manifestações, quando os bolsonaristas foram mais ativos que os opositores.

Segundo os dados capturados e analisados, no dia 15, houve 512 mil menções contra os cortes feitas por opositores ao governo no Twitter, no Facebook, no Instagram e no YouTube, além de blogs e sites. No domingo, as menções de apoiadores de Bolsonaro aos atos pró-reformas somaram 300 mil.

A análise focada no Twitter aponta na mesma direção. No dia 15, a hashtag usada em protesto aos cortes nas universidades (#TsunamiDaEducação) chegou 306 vezes aos assuntos mais comentados da rede. Anteontem, a hashtag #BrasilNasRuas apareceu 236 vezes nesta lista. Ambas, no entanto, chegaram ao primeiro lugar entre os assuntos mais falados no Twitter em todo o mundo.

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Bolhas

Os dados também indicam a existência de duas bolhas --uma pró-governo e outra contra-- que não se esbarram nas redes. Isto porque as duas manifestações receberam, em grande maioria, citações de apoio. No dia 15, as menções simpáticas aos protestos contra os cortes foram 96% das analisadas. No domingo, o apoio às reformas chegou a 89,1% das menções estudadas.

Além das preferências políticas, há outras diferenças relevantes entre as bolhas. Uma delas é a de gênero: segundo dados obtidos pela Torabit no Twitter e no Instagram, a bolha pró-Bolsonaro identificada anteontem é majoritariamente masculina (63%). A da oposição, por sua vez, tem maioria feminina (59,1%).

Outra diferença aparece no perfil dos principais influenciadores digitais de cada grupo, definidos como aqueles que tiveram mais interações (curtidas, comentários, compartilhamentos) em seus posts nas redes sociais, com exceção do Facebook.

Ontem, do lado bolsonarista, praticamente não havia políticos; predominaram personalidades que ficaram conhecidas na direita brasileira por meio da internet, como Smith Hays, Leandro Ruschel e Bernardo Küster. O empresário Luciano Hang e a ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel também estavam na lista. A exceção fica por conta da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) --que, antes de entrar para a política partidária, ganhou fama também pela militância nas redes.

No dia 15, os políticos foram mais frequentes entre os influenciadores das trincheiras virtuais da oposição. Entre os nomes identificados pela Torabit estão três do PSOL: os deputados federais Sâmia Bonfim e Marcelo Freixo, além de Guilherme Boulos, candidato do partido a presidente no ano passado. Também apareceram Manuela D'Ávila (PCdoB), candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT), e Marina Silva, que disputou a Presidência pela Rede. O único influenciador deste grupo que é uma figura "nativa" da internet foi o youtuber Felipe Castanhari.

Há uma semelhança, entretanto, na lista de influenciadores das duas bolhas. Nos dois casos, estão presentes veículos de comunicação que têm afinidade ideológica com seus respectivos grupos: Mídia Ninja, entre os opositores ao governo; e Conexão Política, entre os pró-Bolsonaro.

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O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.