Roberto Alvim diz colocou cargo à disposição após copiar discurso nazista
Depois que a Secretaria Especial de Cultura confirmou a demissão do secretário Roberto Alvim, ele publicou, nas redes sociais, que colocou o cargo "imediatamente" à disposição do presidente depois de receber críticas — de personalidades como Rodrigo Maia, Olavo de Carvalho e Luciano Huck — por copiar o discurso do líder nazista Joseph Goebbels, ontem, ao anunciar um novo programa do governo.
"Tendo em vista o imenso mal-estar causado por esse lamentável episódio, coloquei imediatamente meu cargo a disposição do Presidente Jair Bolsonaro, com o objetivo de protegê-lo", escreveu Alvim, depois de pedir desculpas à comunidade judaica, a quem disse ter "profundo respeito".
O texto continua: "Dei minha vida por esse projeto de governo, e prossigo leal ao Presidente, e disposto a ajudá-lo no futuro na dignificação da Arte e da Cultura brasileiras".
O ex-secretário voltou a dizer que "não havia nenhuma menção ao nazismo" em seu discurso e que não conhecia a origem da frase que defende o "conservadorismo na arte".
Leia o texto completo:
Na manhã de hoje, Alvim publicou nas redes sociais que a cópia do discurso foi, na realidade, uma coincidência retórica.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, ele disse que as frases que remetem a Goebbels teriam sido colocadas em sua mesa pelos assessores que se dedicaram à pesquisa. A ideia original, segundo afirmou Alvim, era buscar no Google discursos sobre o tema "nacionalismo em arte".
Discurso
Na tradicional live semanal feita ontem pelo presidente Jair Bolsonaro, o ex-secretário de Cultura disse:
"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada".
O livro "Goebbels: a Biography", de Peter Longerich, mostra que o líder nazista teria feito uma fala muito semelhante na década de 1940: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".
Críticas
Na manhã de hoje, Alvim recebeu críticas do presidente da Câmara dos Depuitados, Rodrigo Maia, que pediu no Twitter que o governo brasileiro o afaste imediatamente do cargo.
"O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo", escreveu.
Também na manhã de hoje, Alvim foi criticado por Olavo de Carvalho, que escreveu, no Facebook, que o secretário "não está muito bem da cabeça".
O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) disse, no Twitter, que o partido pedirá o indiciamento de Alvim pelo crime de apologia ao nazismo.
"Coincidência retórica"
Depois das críticas, o secretário foi ao Facebook se explicar.
O que aconteceu, segundo afirmou o secretário, foi uma "coincidência retórica". Ele disse que "não há nada de errado com a frase" e que a esquerda está "tentando desacreditar" a iniciativa.
"O que a esquerda está fazendo é uma falácia de associação remota", escreveu. "Com uma coincidência retórica em uma frase sobre nacionalismo em arte estão tentando desacreditar todo o Prêmio Nacional das Artes [programa anunciado na ocasião], que vai redefinir a Cultura brasileira".
Ele reforçou: "Eu não citei ninguém. O trecho fala de uma arte heroica e profundamente vinculada às aspirações do povo brasileiro. Não há nada de errado com a frase. Todo o discurso foi baseado num ideal nacionalista para a Arte brasileira. Não o citei e jamais o faria, mas a frase em si é perfeita".
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