Moro diz que foi deputada quem sugeriu vaga no STF após saída de Valeixo
O ex-ministro Sergio Moro, que anunciou sua demissão do Ministério da Justiça da manhã de hoje, apresentou ao Jornal Nacional trocas de mensagens com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) para comprovar seu lado nas acusações contra o chefe do Executivo. O conflito entre Moro e Bolsonaro tomou mais de 1 hora da duração do telejornal, que excepcionalmente durou 1h40.
Moro pediu demissão hoje de manhã, alegando discordar da suposta interferência política de Bolsonaro na PF (Polícia Federal) ao exonerar o diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo. Em pronunciamento, ele acusou o presidente de querer ter acesso a investigações sigilosas e disse que Bolsonaro lhe confidenciou estar preocupado com inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal).
À tarde, Bolsonaro, também em pronunciamento, negou as acusações do ex-ministro e falou que Moro chegou a propor ser indicado pelo presidente a uma vaga no Supremo em novembro, em troca da saída de Valeixo.
Ao JN, o ex-juiz da Lava Jato mostrou uma troca de mensagens com Zambelli, sugerindo que foi ela quem propôs que ele aceitasse a exoneração do diretor da PF em troca de uma vaga no STF. Segundo as imagens enviadas pelo ministro, ele teria recusado a proposta, dizendo que não estava "à venda".
"Por favor ministro, aceite o Ramage [Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência] para assumir a direção da PF", pede Carla Zambelli nas mensagens.
Na conversa, ela se compromete a convencer Bolsonaro a indicar Moro ao STF caso ele assinasse a exoneração de Valeixo. Moro responde: "Prezada, não estou à venda".
Zambelli: Por favor, ministro, aceite o Ramage [Alexandre Ramagem]. E vá em setembro para o STF. Eu me comprometo a ajudar. A fazer o JB [Jair Bolsonaro] prometer [a nomeação]
Moro: Prezada, não estou à venda.
Zambelli: Ministro, milhões de brasileiros vão se desfazer. Eu sei, por Deus, eu sei [que ele não está à venda]. Se existe alguém no Brasil que não está à verba [venda] é você.
Moro: Vamos aguardar. Já há pessoas conversando lá.
A deputada do PSL se casou em fevereiro com o coronel Aguinaldo de Oliveira, diretor da Força Nacional de Segurança, e teve Sergio Moro como padrinho de casamento.
Procurada pelo Jornal Nacional, Zambelli não se manifestou. Mais tarde, em uma live pelo Facebook, ela disse que o ex-ministro foi "maligno" em expor a conversa privada entre ambos (leia mais abaixo).
Moro X Bolsonaro
Ainda ao JN, Moro apresentou uma troca de mensagens com Jair Bolsonaro que segundo ele, comprovaria que a demissão de Valeixo não teria outro motivo a não ser o interesse de interferir politicamente nas investigações da instituição.
Hoje de manhã, Moro havia dito que a demissão do diretor-geral não teve seu consentimento e que não firmou o documento, apesar de o decreto no Diário Oficial da União sair com a sua assinatura eletrônica. Bolsonaro, à tarde, reiterou que a exoneração foi feita a pedido de Valeixo, mas o decreto foi reeditado no início da noite sem a assinatura do ex-ministro da Justiça.
O print de WhatsApp divulgado por Moro ao Jornal Nacional mostra uma conversa da última quarta-feira entre ele e Bolsonaro — registrado nos contatos como "Presidente Novíssmo".
Bolsonaro encaminha a Moro uma reportagem do site O Antagonista que revela que a PF estaria "na cola" de 10 a 12 deputados bolsonaristas e diz que este é "mais um motivo para a troca" do comando da instituição, ou seja, para a demissão de Maurício Valeixo.
A reportagem se refere a um inquérito que corre no STF sobre a participação de congressistas na organização de manifestações pedindo o fechamento do Supremo e do Congresso, o que viola a Lei de Segurança Nacional.
Moro responde dizendo que o inquérito está no STF, sob os cuidados do ministro Alexandre de Moraes, e que é ele quem determina as buscas. E conclui dizendo que ele e Bolsonaro continuariam a conversa no dia seguinte (isto é, ontem),
Moro foi "maligno", diz Zambelli
Após ir ao ar a matéria do JN, a deputada federal Carla Zambelli afirmou ter considerado "extremamente maligna" a atitude de Sergio Moro em expor conversas entre os dois.
"Vazar para o Jornal Nacional como se fosse algo ilícito, como se eu tivesse feito uma coisa ilícita. Achei extremamente maligno. Não gostei do que ele fez", declarou a parlamentar em rede social.
"Eu não sou ninguém para prometer uma vaga no STF. O que eu quis dizer é que eu posso ajudar. Tentar falar com o Bolsonaro", continuou a deputada, que acusou Moro de deixar o cargo "de forma muito fria".
Na live pelo Facebook, Zambelli comparou a saída de Moro do governo ao "divórcio" de um pai e uma mãe: "O natural disso tudo é ficar com o Bolsonaro. A gente tem um país para governar, e ele (Moro) escolheu sair."
"Continuaremos com Bolsonaro. E o Moro vai passar. Daqui 10, 20 dias, ele vai estar dando aula em outro lugar, e nós vamos continuar com Bolsonaro", acrescentou.
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