Oposição reage com reuniões unificadas às conversas do governo com centrão
Em meio às tratativas do governo com o centrão, partidos de oposição decidiram estabelecer reuniões unificadas entre seus líderes, tanto da Câmara quanto do Senado. A primeira foi realizada hoje (27) virtualmente por causa da pandemia do coronavírus e a ideia é que aconteçam toda semana.
A reunião conjunta não elimina os encontros internos de cada partido nem entre os líderes da oposição de cada Casa, mas busca fortalecer e alinhar o discurso do grupo no Congresso Nacional. A movimentação acontece diante do fortalecimento da base do governo por causa das negociações com o centrão.
O centrão é um grupo informal composto por Republicanos, PL, PP (Progressistas), PSD, Solidariedade, PTB, Pros e Avante, e está em franca negociação com Bolsonaro por cargos em troca de apoio ao governo no Congresso, segundo parlamentares das próprias siglas. DEM e MDB resistem em ser denominados como do centrão. Juntos, os partidos citados contabilizam 220 dos 513 deputados federais.
Atualmente, a oposição conta com 133 dos 513 deputados federais na Câmara, segundo o líder da minoria na Casa, deputado José Guimarães (PT-CE). No Senado, a estimativa é que a oposição conte com 14 dos 81 senadores.
Da parte da Câmara, participaram dessa primeira reunião os líderes dos seguintes partidos: PT, PSB, PDT, PSOL, Rede e PCdoB, além do líder da oposição na Casa, deputado André Figueiredo (PDT-CE). Do Senado, participaram os líderes do PT, PSB, PDT, Rede e Cidadania, além do líder da minoria na Casa, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
O líder André Figueiredo (PDT-CE), afirmou que a intenção é ampliar os participantes da reunião, chamando partidos que não fazem parte do centrão, mas também não se colocam contra o governo, por exemplo.
"Vínhamos, evidentemente, dialogando, mas sem uma reunião de todos os líderes [da oposição]", falou. Por avaliarem um agravamento nos riscos à democracia, acreditaram ser chegada a hora de ter uma atuação mais atenta de forma permanente do Congresso Nacional, informou.
Randolfe Rodrigues afirmou, em nota, que a iniciativa é uma reação aos "desmandos" do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que "coloca cada vez mais a democracia brasileira em risco".
Nos últimos meses, Bolsonaro têm participado de manifestações com pedidos de fechamento do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal). Os atos têm causado apreensão entre os parlamentares. Inclusive, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que vive em uma relação de morde e assopra com Bolsonaro, discursou ontem pedindo a "pacificação dos espíritos" e respeito à independência dos Três Poderes.
"Além de tratarmos da investigação das denúncias contra o governo, nós, líderes, decidimos reforçar a luta para que o Congresso freie iniciativas ilegais do governo, como a violação frequente do Estatuto do Desarmamento", completou Randolfe na nota.
Segundo ele, a oposição programa um ato virtual na próxima quarta-feira (3) com a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) em defesa da liberdade de imprensa.
A líder do PCdoB, na Câmara, deputada Perpétua Almeida, afirmou que a oposição sentiu a necessidade de reforçar as iniciativas que já vinham fazendo em ambas as Casas de forma mais unificada contra "aqueles que agridem os pilares democráticos, suas instituições e a imprensa".
"Percebemos um agravamento nos ataques ao Supremo e a imprensa. Um país que não cuida da liberdade de expressão e permite o achincalhamento das suas instituições não está exercendo o respeito à democracia garantido na Constituição", disse.
Desde segunda (25), diversos veículos de comunicação anunciaram que irão suspender de forma temporária a cobertura presencial na portaria do Palácio da Alvorada devido à falta de segurança para jornalistas e cinegrafistas no local. Apoiadores de Bolsonaro costumam xingar e ameaçar a imprensa, sem serem repreendidos por agentes de segurança da Presidência com o devido rigor.
No Alvorada, Bolsonaro já falou para repórter "calar a boca" ao ouvir questionamentos de interesse público, mas dos quais não gostou, e nada fez ao ver gritos de apoiadores a jornalistas. O receio é que hoje não há segurança caso apoiadores partam para agressões físicas.
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