"Qual o motivo da prisão?", questionou Queiroz em conversa com advogado
Resumo da notícia
- Advogado disse que irá pedir habeas corpus para Queiroz
- Ex-assessor de Flávio Bolsonaro foi levado para Bangu
- Investigação apura suposto esquema de "rachadinha" na Alerj
Em uma conversa de 20 minutos com o advogado Paulo Emílio Catta Preta, Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) preso hoje de manhã em Atibaia-SP, disse não entender o motivo da sua detenção. "Doutor, qual o motivo da prisão?", questionou. O defensor também disse que pedirá transferência do policial militar reformado para um batalhão prisional. Queiroz foi levado à tarde para o presídio de Bangu, onde cumprirá isolamento social por duas semanas por causa do coronavírus.
Segundo o advogado, o ex-assessor sempre prestou esclarecimentos ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). Ele foi preso preventivamente na operação batizada de Anjo, que cumpre medidas autorizadas pela Justiça relacionadas ao inquérito que investiga suposto esquema de "rachadinha" entre servidores da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), que devolveriam parte dos seus salários ao então deputado Flávio Bolsonaro.
Paulo Emílio Catta Preta conversou com o UOL hoje à tarde, em frente ao plantão judiciário do Fórum do Rio, onde teve acesso à decisão judicial que determinou a prisão. Lá, detalhou o contato com Queiroz por volta das 14h no parlatório do presídio de Benfica, espaço reservado para conversas entre detentos e advogados, separados por uma grade e um vidro. O diálogo ocorre com o uso de um interfone.
Ele estava nitidamente cansado e preocupado. Queria saber como a família tinha reagido. Mas também demonstrou indignação. Ele perguntou: 'Qual o motivo da prisão?'. Ele diz que sempre prestou esclarecimentos ao Ministério Público
Paulo Emílio Catta Preta, advogado de Fabrício Queiroz
Em 2018, Queiroz faltou a dois depoimentos após ser convocado pelo MP-RJ. Em janeiro do ano seguinte, a sua defesa alegou que ele poderia prestar esclarecimentos por escrito por causa do tratamento contra o câncer.
O advogado pretende entrar com habeas corpus (pedido de liberdade) ou de revogação da prisão. Ele disse que ficou sabendo da prisão preventiva de Queiroz às 6h, ao receber uma ligação da filha do ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Em seguida, tentou ligar para o seu cliente. Mas o celular já havia sido apreendido na ação.
"Ele [Queiroz] estava indo com frequência para São Paulo por causa do tratamento de câncer e de uma cirurgia na próstata", explicou.
Advogado estava no Rio para atender outro cliente
Catta Preta, que tem escritório em Brasília, está hospedado em um hotel no Rio desde terça-feira (16), para atender outro cliente. Com a prisão, precisará prorrogar o seu retorno. Ele disse ter sido procurado pela família de Queiroz há duas semanas para representá-lo. "Pensei que teria mais tempo para analisar o caso. Com a prisão, precisarei me aprofundar em relação às investigações", disse.
Queiroz chegou de helicóptero ao Rio. Em seguida, foi conduzido ao IML (Instituto Médico Legal), onde foi submetido a exames de rotina. De lá, seguiu para o presídio de Benfica, onde se encontrou com o advogado. Por volta das 15h30, foi levado ao presídio de Bangu.
A prisão de Queiroz
Queiroz foi localizado e preso em um imóvel que pertence a Frederick Wassef, que ontem esteve na posse do novo ministro das Comunicações, Fabio Faria (PSD), que também contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
No local, policiais também apreenderam objetos como celulares, cartão de crédito e notas de reais. A mulher de Fabrício Queiroz também teve prisão autorizada, mas não foi localizada até o momento.
Quem é Fabrício Queiroz
Queiroz já foi policial militar e é amigo do presidente Bolsonaro desde 1984. Reformado na PM, trabalhou como motorista e assessor de Flávio, então deputado estadual pelo Rio.
Ele passou a ser investigado em 2018 após um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indicar "movimentação financeira atípica" em sua conta bancária, no valor de R$ 1,2 milhão, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Ele foi demitido por Flávio pouco antes de o escândalo vir à tona.
O último salário de Queiroz na Alerj foi de R$ 8.517, e ele teria recebido transferências em sua conta de sete servidores que passaram pelo gabinete de Flávio. As movimentações atípicas levaram à abertura de uma investigação pelo MP (Ministério Público) do Rio.
Cheque de R$ 24 mil em conta de Michelle Bolsonaro
Uma das transações envolve um cheque de R$ 24 mil depositado na conta da hoje primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O presidente, na época, se limitou a dizer que o dinheiro era para ele, e não para a primeira-dama, e que se tratava da devolução de um empréstimo de R$ 40 mil que fizera a Queiroz. Alegou não ter documentos para provar o suposto favor.
Em entrevista ao SBT em 2019, Queiroz negou ser "laranja" de Flávio. Segundo ele, parte da movimentação atípica de dinheiro vinha de negócios com a compra e venda de automóveis. "Sou um cara de negócios, eu faço dinheiro... Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim", afirmou na ocasião.
Peça-chave em apuração sobre 'rachadinha' de Flávio Bolsonaro
Queiroz é peça-chave para a investigação da suposta "rachadinha" por ex-colaboradores de Flávio lotados em seu gabinete na Alerj. Isso poderia configurar lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa.
Flávio, que sempre negou irregularidades, se posicionou hoje, no Twitter.
Queiroz foi preso preventivamente a pedido do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro). A prisão foi decretada pelo juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio. O processo é sigiloso.
Mensalidade da escola de filhas de Flávio
O site El País revelou que promotores solicitaram a prisão de Queiroz por ele ter pago, em dinheiro vivo num caixa eletrônico, boletos da escola das filhas de Flávio. Para promotores, os recursos são oriundos de "rachadinha". A suspeita é que assessores de Flávio devolviam parte do salário a Queiroz, que usava os recursos para quitar despesas pessoais do parlamentar.
Além da mensalidade da escola, investigadores também suspeitam que os recursos foram usados na compra de imóveis e em depósitos na conta-corrente de uma loja de chocolates de Flávio.
O jornal O Globo informou que o MP-RJ requereu a prisão de Queiroz por entender que ele poderia atrapalhar as investigações. Mensagens atribuídas à mulher do ex-assessor de Flávio, Márcia Oliveira de Aguiar, apontam que Queiroz dava ordens para constranger testemunhas ou investigados que poderiam comprometê-lo.
Outros investigados
Também na operação, foi determinado o cumprimento de medidas cautelares contra outras quatro pessoas. Uma delas foi Alessandra Esteves Marins, ex-assessora de Flávio Bolsonaro na Alerj e atual assessora dele no Senado. O gabinete de Flávio não se pronunciou sobre o caso.
Luiza Paes Souza, assessora de Flávio entre 2011 e 2012, também foi alvo da ação. O UOL não conseguiu contato com sua defesa. Matheus Azeredo Coutinho, funcionário da Alerj desde setembro de 2018, também não foi localizado pela reportagem. Luis Gustavo Botto Maia, advogado da campanha de Flávio Bolsonaro ao Senado, não respondeu aos questionamentos do UOL.
A operação Anjo não incluiu Flávio como um de seus alvos. Ele, entretanto, é investigado pelo MP-RJ. Em dezembro de 2019, uma operação do MP-RJ cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Flávio por indícios de que ele tenha lavado até R$ 2,3 milhões com transações imobiliárias.
* Colaborou Vinicius Konchinski
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