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MP acordou casal em antigo endereço de Queiroz às 6h: 'Pediram desculpas'

13.jul.2020 - Fabrício Queiroz na varanda de seu apartamento no Rio onde cumpre prisão domiciliar - Evandro Cardoso Reprodução/GloboNews
13.jul.2020 - Fabrício Queiroz na varanda de seu apartamento no Rio onde cumpre prisão domiciliar Imagem: Evandro Cardoso Reprodução/GloboNews

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

01/08/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Agentes armados e com colete do MP foram vistos por ex-vizinhos
  • Queiroz já tinha se mudado para imóvel próprio em abril de 2019
  • Endereço antigo constava em pedido de prisão feito pelo MP-RJ em junho
  • Órgão diz apenas que investigação é mantida sob sigilo

No começo do ano, o MP-RJ (Ministério Público do Rio) foi a um apartamento ligado a Fabrício Queiroz no bairro da Taquara, na zona oeste do Rio, para cumprir um mandado de busca e apreensão. Mas o ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que era locatário, não morava mais lá há ao menos dez meses. O PM aposentado já tinha se mudado com a esposa Márcia Oliveira de Aguiar para um imóvel próprio no mesmo bairro desde abril de 2019, onde o casal cumpre prisão domiciliar desde 10 de julho.

A ação surpreendeu os novos inquilinos, que se assustaram com a presença de cerca de cinco homens armados em uma ação feita por volta das 6h. "Os agentes entraram no prédio armados, com pistola e colete do MP. Até entraram na casa do casal que mora lá hoje. O rapaz ficou nervoso. As pessoas não estão acostumadas com esse tipo de coisa. Ficaram lá por uns 15 minutos. Depois, pediram desculpas", lembrou Rubens Esteves, subsíndico do conjunto de prédios.

Em relatório assinado em 9 de junho pelos promotores do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) com pedido de prisão preventiva de Queiroz e de sua esposa, a antiga residência constava como a localização do casal. Esteves relatou que, mesmo após a prisão do policial aposentado em 18 de junho, o MP retornou ao imóvel por desconfiar que o inquilino fosse parente de Queiroz —nesta época, Márcia estava foragida.

O caso ocorreu em um conjunto de seis prédios na arborizada rua Frei Luiz Alevato. Procurado pelo UOL, o MP-RJ não se manifestou sobre o episódio e se limitou a dizer que as investigações do caso são mantidas em sigilo. O advogado Paulo Emílio Catta Preta, que hoje defende Queiroz, diz desconhecer o episódio relatado pelos moradores do prédio. "Se houve esta ação, não está documentada nos autos", explica o defensor.

Discreto, educado e com condomínio em dia

Em frente ao antigo endereço de Queiroz, pessoas costumam fazer caminhadas pelas manhãs. Ele era tido por ali como um sujeito discreto, que costumava levar o cão para passear de bermuda, chinelo e boné. Aliás, era visto raramente pelos vizinhos. "Era raro ver ele por aqui. Via mais as filhas. Quando ele aparecia, era só de dar 'bom dia' e 'boa tarde'", lembra o porteiro, que pediu para não ser identificado.

Ele dificilmente ficava por aqui. Gostava de falar de futebol. Sempre foi um cara educado, respeitador. Nunca teve problema com ninguém enquanto morava aqui. Pagava o condomínio sempre em dia. Era um bom vizinho

Rubens Esteves, subsíndico do conjunto de prédios

31.jul.2020 - MP foi a conjunto de prédios onde Fabrício Queiroz morou no bairro da Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro. Mas ex-assessor já havia se mudado. Outros inquilinos moravam no local - Herculano Barreto Filho/UOL - Herculano Barreto Filho/UOL
31.jul.2020 - MP foi a conjunto de prédios onde Fabrício Queiroz morou no bairro da Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro. Mas ex-assessor já havia se mudado. Outros inquilinos moravam no local
Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Queiroz já deu endereço falso ao MP

Não foi a primeira vez em que o paradeiro de Queiroz não correspondia com os registros do MP-RJ. Em julho de 2019, o advogado Luiz Gustavo Botto Maia apresentou um endereço falso sobre o paradeiro do ex-assessor ao órgão.

Botto informou na ocasião que Queiroz estava em um hotel de São Paulo. Meses antes, a defesa alegou que ele poderia prestar esclarecimentos por escrito porque estava em tratamento contra o câncer. Entretanto, os investigadores confirmavam que ele já estava no imóvel do advogado Frederick Wassef em Atibaia (SP), onde foi preso em junho.

Procurada, a defesa de Queiroz afirma que Luiz Gustavo Botto Maia nunca representou Fabrício Queiroz nos autos —ele era representado pelo advogado Paulo Klein, mas Botto foi apontado pelas investigações do MP-RJ como o responsável por fornecer o endereço falso.

"Os endereços fornecidos (...) sempre foram corretos", disse, por nota. A defesa de Queiroz informou, ainda, que ele dispensou, por petição, a prerrogativa de ser intimado pessoalmente. Segundo o texto, ele poderia ser acionado pelo MP-RJ por telefone.