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'Guardiões do Crivella' tinha acesso a gabinete do prefeito, diz polícia

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella - Maurício Almeida/AM Press & Images/Estadão Conteúdo
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella Imagem: Maurício Almeida/AM Press & Images/Estadão Conteúdo

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

01/09/2020 16h41

Resumo da notícia

  • Três servidores suspeitos de integrar esquema prestam depoimento
  • Polícia Civil do Rio apreendeu celulares, documentos e anotações
  • Membros do grupo podem pegar até 9 anos de prisão, diz polícia

O grupo "Guardiões do Crivella", investigado por monitorar e impedir reportagens sobre a crise da saúde pública em frente a hospitais municipais do Rio, tinha acesso ao gabinete do prefeito, segundo a Polícia Civil. A investigação, que teve início após o esquema ser revelado em reportagem da TV Globo, agora tenta identificar quem estava acima do assessor especial Marcos Paulo de Oliveira Luciano, o ML, suspeito de chefiar as ações do grupo.

Em operação conduzida hoje pela Draco (Delegacia de Repressão a Crimes Organizados), foram apreendidos celulares, documentos e anotações com suspeitos de participar do esquema. Três assessores da prefeitura prestam depoimento à polícia. Eles são investigados pelos crimes de associação criminosa, atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública e advocacia administrativa, com penas que podem chegar a nove anos de prisão.

O ML tinha interlocução dentro do gabinete do prefeito. Com o auxílio da análise do material apreendido e dos depoimentos, o próximo passo é identificar quem estava acima dele no grupo. Foi montada uma estrutura muito bem organizada e com dinheiro público

William Pena Junior, delegado da Draco

O MP-RJ (Ministério Público do Rio) confirmou hoje que investigará Marcelo Crivella (Republicanos-RJ) por supostamente manter o serviço ilegal. O PSOL promete formalizar um pedido de impeachment contra o prefeito na Câmara de Vereadores do Rio.

Com base em análise de imagens reproduzidas pela TV Globo e consultas sobre o exercício da atividade de servidores da prefeitura, a Draco abriu ontem à noite inquérito para investigar os crimes. Os mandados de busca e apreensão foram expedidos pelo juízo do plantão noturno do Tribunal de Justiça do Rio a pedido da delegacia.

Em um dos mandados, a polícia apreendeu celulares, anotações, documentos e R$ 10 mil em espécie no apartamento onde mora Marcos Paulo de Oliveira Luciano em Olaria, zona norte do Rio.

Também foram feitas apreensões nos imóveis onde moram os assessores Luiz Carlos Joaquim da Silva e José Robério Vicente Adeliano, que foram identificados na reportagem da TV Globo enquanto atrapalhavam o trabalho da imprensa. Eles também foram levados à delegacia para prestar depoimento.

A polícia diz que não cumpriu três mandados de busca e apreensão em razão de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que limita operações em áreas dominadas pelo tráfico —os endereços ficavam na Mangueira, Complexo do Alemão e Engenho da Rainha.

"Vamos analisar o material apreendido e os depoimentos para identificar outros integrantes do grupo", disse o delegado William Pena Junior.

A investigação deve ser concluída em um prazo de até 30 dias.

Prefeitura fala em 'manipulação'

Em nota divulgada hoje, a Prefeitura do Rio afirmou que a notícia é uma "manipulação" e criticou a TV Globo. Ontem, no entanto, o governo municipal não negou a existência do grupo de WhatsApp.

"Essas mentiras colocaram a saúde das pessoas em risco, porque muitas poderiam deixar de procurar a unidade por acreditar nas notícias falsas", diz um trecho da nota.

O UOL não conseguiu localizar a defesa dos assessores que prestaram depoimento para que eles pudessem dar as suas versões do caso.