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MP-RJ cita Crivella e empresário como protagonistas de corrupção, diz TV

Marcelo Crivella na convenção do Republicanos - Douglas Macedo/ Divulgação
Marcelo Crivella na convenção do Republicanos Imagem: Douglas Macedo/ Divulgação

Do UOL, em São Paulo

11/09/2020 21h02Atualizada em 11/09/2020 22h20

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) aponta o prefeito do Rio Marcelo Crivella (Republicanos) e o empresário Rafael Ferreira Alves como protagonistas em um esquema de corrupção. As informações foram divulgadas pela GloboNews.

Crivella é suspeito de participar de um suposto esquema de pagamentos de propina para a liberação de pagamentos da prefeitura. Ontem, a Polícia Civil e o MP cumpriram 22 mandados de busca e apreensão em endereços residenciais e funcionais de agentes públicos municipais e empresários. Entre os endereços alvos das buscas estão a casa onde Crivella mora, na zona oeste da cidade, a sede da prefeitura, no centro, e o Palácio da Cidade, onde Crivella despacha.

Investigações do MP-RJ apontam para a influência de Rafael Alves na gestão de Crivella, a ponto de interferir até mesmo na escolha de "empresas para prestar diversos setores da administração e pessoas para ocupar cargos-chave". Ele é irmão do ex-presidente da Riotur, Marcelo Alves, e teria sido o responsável por sua indicação.

Para justificar a operação de busca e apreensão, a desembargadora Rosa Helena classificou em despacho como "assustadora" a subserviência de Crivella a Rafael Alves. "Ele teria voz ativa na administração a ponto de exigir atos administrativos, como se o prefeito fosse subordinado a ele", diz o documento.

"Deixei para o senhor uma indicação [para a] presidência [da] PREVI Rio", revela uma mensagem de Rafael direcionada ao prefeito.

Empresário cobrava pagamento para "01", diz MP

Ainda de acordo com a GloboNews, o MP e a Polícia Civil apreenderam seis meses atrás, quando foi realizada a primeira fase da operação, quatro celulares de Rafael — um deles inclusive tocou nas mãos do delegado enquanto cumpria o mandado. Era uma ligação de Crivella, ontem, informando ao empresário sobre a operação na RioTur.

O MP diz que na análise do conteúdo dos celulares apreendidos apurou-se que havia 1.940 mensagens trocadas entre Rafael e Crivella em apenas um dos aparelhos, "muitas delas contendo linguagem cifrada, deixando transparecer que seu conteúdo não poderia ser tratado por meio de comunicação convencional".

As investigações indicam que Rafael tratou a campanha de Crivella como uma espécie de "banco de negócios", buscando o "retorno" para o que estava sendo investido. Em uma das mensagens interceptadas, o empresário diz: "Não quero cargo, nem status. Quero retorno do que está sendo investido".

Em outra mensagem, Rafael reclamou de uma quantia para o doleiro Sergio Mizrahy, dizendo que "aquela situação seria um vacilo, e que era uma parada para '01'". O MP diz que '01' seria o prefeito Marcelo Crivella.

No grupo, o poder de Rafael Alves é tão grande que ele chegou a ser apelidado de "Trump", em referência ao presidente norte-americano. Mesmo sem ser agente público, Rafael tinha a sua própria sala na sede da RioTur. Para o Ministério Público, o conteúdo das mensagens "é perturbador".

"Rafael Alves exige revisão de atos de Marcelo Crivella, postura típica de quem tem conhecimento dos fatos que, caso tornados públicos, podem causar prejuízos irreparáveis a seu interlocutor [Crivella]".

O MP conclui ainda que "elementos de prova obtidos a partir das buscas e apreensões deferidas por este juízo confirmam as suspeitas iniciais e revelam efetiva participação e o protagonismo de Marcelo Crivella no gigantesco esquema de corrupção, peculato, fraude e lavagem de dinheiro no município do Rio de Janeiro".

Defesa de Rafael Alves rebate; Crivella nega

À TV Globo, a defesa do empresário rebateu as acusações dizendo que são "precipitadas" e que tenta há mais de nove meses prestar esclarecimentos ao MP, mas que até hoje não teve essa oportunidade

Nas redes sociais, o prefeito também negou as acusações e disse ter estranhado a operação, mesmo depois de colocar dados à disposição da Justiça.

Semana passada, o meu advogado, o Dr. Alberto Sampaio, esteve com o sub-procurador do Ministério Público Estadual, o Dr. Ricardo Martins, colocando à disposição os meus sigilos bancário, telefônico e fiscal por conta de denúncias publicadas na imprensa. Portanto, foi estranha a operação realizada hoje na minha casa, considerando ainda que estamos em período eleitoral.

No entanto, quero registrar que vi respeito e integridade no procurador, no delegado e no oficial de justiça.

A ação durou cerca de uma hora e nada foi encontrado. Considero essa ação injustificada, já que sequer existe denúncia formal e eu não sou réu nesta ou em qualquer outra ação.

A investigação, que ainda nem se transformou em ação, se motiva em uma matéria do jornal O Globo, inimigo jurado do nosso governo, que alega existir na Prefeitura uma central de propinas, e a prova que apresenta é o pagamento devido pela administração anterior a uma empresa chamada Locanty.

Vocês podem conferir no site de transparência da Prefeitura que nunca durante o meu governo foi feito qualquer pagamento a essa empresa.

Lamento também que a Rede Globo de Televisão tenha chegado na minha casa antes dos oficiais. Como ela sabia se havia sigilo? Um mandado de busca e apreensão precisa vir acompanhado da motivação e os oficiais encarregados não apresentaram.

Portanto, quero dizer que, apesar disso, do fundo do meu coração, confesso que prefiro o Ministério Público voluntarioso, mesmo com alguns excessos, do que aquele omisso, que permitiu ocorrer no Rio de Janeiro, em gestões passadas, o maior volume de corrupção já visto no mundo, que tantos prejuízos trouxeram e ainda trazem ao nosso povo. Uma conta amarga que tivemos que pagar de obras olímpicas superfaturadas.

Vamos em frente e que Deus nos abençoe.

Ação mira suposto 'QG da Propina'

A operação realizada ontem é um desdobramento da primeira fase da Operação Hades, realizada em 10 de março deste ano. A ação mira o chamado "QG da Propina" da Prefeitura do Rio — suposto esquema de pagamentos propina para a liberação de pagamentos da prefeitura. O ex-presidente da Riotur Marcelo Alves e o irmão dele, Rafael Alves, estão entre os alvos.

As investigações se baseiam no acordo de colaboração premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso pela operação Câmbio, Desligo. Ele apontou Rafael Alves como chefe do esquema criminoso que acontecia na prefeitura.

Hoje, a defesa do prefeito recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para anular as ações de busca e apreensão.