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De rachadinha a dinheiro na cueca, Senado tem 2020 de turbulências

Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Chico Rodrigues (DEM-RR) se tornaram protagonistas de escândalos vividos por senadores neste ano. O primeiro é investigado por esquema de rachadinha quando deputado estadual. O segundo guardou dinheiro na cueca durante operação da Polícia Federal em sua casa em Boa Vista - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/Roque de Sa/Brazilian Senate Press Office/AFP
Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e Chico Rodrigues (DEM-RR) se tornaram protagonistas de escândalos vividos por senadores neste ano. O primeiro é investigado por esquema de rachadinha quando deputado estadual. O segundo guardou dinheiro na cueca durante operação da Polícia Federal em sua casa em Boa Vista Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/Roque de Sa/Brazilian Senate Press Office/AFP

Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

21/12/2020 04h00Atualizada em 21/12/2020 18h41

Habituado a um clima político muito menos acalorado que a Câmara, o Senado encerra 2020 assombrado por turbulências e incertezas quanto ao futuro de alguns de seus 81 congressistas.

No ano que vem, o Conselho de Ética da Casa deve analisar uma série de representações que aguardam análise. Até o mês de passado, mais de dez estavam na fila.

Uma delas diz respeito ao filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). O parlamentar é investigado pelo caso Queiroz, escândalo que tem como pivô o policial militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador à época em ela era deputado estadual no Rio (até 2018).

O pedido de cassação do mandato de Flávio chegou a repercutir em 2020, mas acabou estacionado no Conselho de Ética em razão da paralisação dos trabalhos presenciais devido à pandemia do coronavírus.

Segundo o UOL apurou, dois motivos fazem o filho do presidente largar em vantagem na briga para defender o mandato. Além da concorrência em uma extensa pauta puxada por assuntos como a reforma tributária e a administrativa, pesa o fato de que o caso ter ocorrido antes de Flávio tomar posse como senador, em janeiro de 2019.

A acusação do Ministério Público do Rio é que Queiroz recolhia parte dos salários de funcionários lotados no gabinete do filho do presidente na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) entre 2007 e 2018.

Flávio também tem a seu favor o parecer da advocacia-geral do Senado pelo arquivamento da representação. Os técnicos da Casa entendem que os argumentos apresentados não têm conexão com o mandato do parlamentar.

O senador licenciado Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado com dinheiro na cueca - Marcos Oliveira/Brazilian Senate Press Office/AFP - Marcos Oliveira/Brazilian Senate Press Office/AFP
O senador licenciado Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado com dinheiro na cueca
Imagem: Marcos Oliveira/Brazilian Senate Press Office/AFP

Rodrigues flagrado com dinheiro na cueca

Ao longo de 2020, a temperatura no Parlamento também foi elevada por episódios como o do "dinheiro na cueca" de Chico Rodrigues (DEM-RR), então um dos vice-líderes do governo no Senado.

O senador foi alvo de uma operação da Polícia Federal em outubro, em Boa Vista, onde mora com a família, para apurar desvios de recursos destinados ao combate da pandemia de covid-19.

Na ocasião, os agentes da PF flagraram o congressista com R$ 30 mil escondidos dentro da roupa íntima, sendo parte entre as nádegas. Ao todo, a polícia encontrou cerca de R$ 100 mil na casa dele. Ele nega ilegalidade na origem do dinheiro.

Rodrigues virou piada entre colegas pela situação em que foi flagrado pelos agentes federais. Sua permanência no Senado se tornou insustentável. Ele foi afastado da vice-liderança do governo e pediu licença do mandato por 121 dias numa tentativa de barrar seu afastamento judicial. Seu primeiro suplente é o próprio filho, Pedro Arthur, que ainda não assumiu a vaga.

O senador ainda integrava o Conselho de Ética do Senado e a comissão mista de deputados e senadores que acompanha a execução de medidas relacionadas ao novo coronavírus. Ele deixou os dois colegiados depois da ação da Polícia Federal.

O senador Irajá (PSD-TO) foi acusado de estupro por modelo - Jefferson Rudy/Agência Senado - Jefferson Rudy/Agência Senado
O senador Irajá (PSD-TO) foi acusado de estupro por modelo
Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Irajá é acusado de estupro por modelo

No mês passado, o senador Irajá Silvestre Filho (PSD-TO) foi acusado de ter estuprado uma modelo de 22 anos. Segundo o relato dela à polícia, o crime aconteceu em um hotel no Itaim Bibi, bairro de classe alta na capital paulista, após se conhecerem em um almoço e terem ido a um show.

Durante a noite, segundo a jovem, ela perdeu a consciência e acordou em um flat. De acordo com amigos da modelo, ela afirmou que acordou durante o ato sexual forçado e ouviu Irajá dizendo: "Você é minha" e "Estou apaixonado". O caso é investigado pelas autoridades competentes.

Irajá é filho da também senadora Kátia Abreu (PP-TO). Ele alega "total e plena inocência" e afirmou que lamenta "ter sido envolvido nesse enredo calunioso e difamatório".

Com fala de combate à corrupção, Selma é cassada

Conhecida como a "Moro de saias" pelo discurso de combate à corrupção e por ter sido juíza, Selma Arruda (Podemos-MT) se viu fora do Senado em abril após ser cassada sob acusação de abuso de poder econômico e captação ilícita de recursos durante a campanha eleitoral de 2018.

A ex-senadora Selma Arruda em frente ao Congresso Nacional - Dida Sampaio - 13.set.19/Estadão Conteúdo - Dida Sampaio - 13.set.19/Estadão Conteúdo
A ex-senadora Selma Arruda em frente ao Congresso Nacional
Imagem: Dida Sampaio - 13.set.19/Estadão Conteúdo

Selma foi cassada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em dezembro do ano passado, mas a Mesa Diretora do Senado só confirmou a decisão em abril.

Enquanto tentava salvar sua vaga no Senado, ela se dizia perseguida politicamente e afirmou que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), queria sua cassação para se reeleger no cargo. Isso porque seu substituto de Mato Grosso, Carlos Fávaro, é do PSD, que apoia Alcolumbre.

Após ficar como interino, Fávaro venceu a eleição convocada para substituir Selma e continuará no Senado até janeiro de 2027.